Relatório do Ministério do Trabalho e Emprego mostra participação do agro em 15,6% do total de empregos gerados durante o ano
Por Luísa Guimarães
A 2ª edição de 2023 do Informativo da Confederação Nacional de Municípios (CNM) de Emprego no Campo destacou que, em setembro de 2023, foram criados 234.745 empregos no mercado de trabalho voltado para as atividades agropecuárias com carteira assinada. O número supera os 200.767 desligamentos, resultando em um saldo positivo de 33.978 postos de trabalho em todo o país — representando 15,6% do total de empregos gerados durante o ano. O relatório foi elaborado pelo Novo Caged.
O número também acompanhou o aumento da produção brasileira de grãos, e o cenário é visto com otimismo por especialistas. Espera-se que o setor continue a impulsionar empregos no país.
“É importante mencionar que a produção brasileira de grãos 2022/2023 deve bater novos recordes com a produção de mais de 320 milhões de toneladas de grãos. O que, inevitavelmente, gera um efeito cascata na movimentação da economia e consequentemente na geração de empregos, possuindo o impacto direto nos pequenos municípios”, afirma Karina Tiezzi, coordenadora da Agronegócio da BMJ Consultores Associados.
A projeção elaborada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) mostra que a produção de grãos brasileira deve registrar um aumento de 24,1% nos próximos dez anos, aproximando-se de 390 milhões de toneladas na safra 2032/2033 — o que representa um acréscimo de 75,5 milhões de toneladas.
“Os dados divulgados agora no informativo da Confederação Nacional de Municípios corroboram essa vertente de crescimento de um setor que movimenta cerca ¼ do PIB brasileiro. O grande desafio, que é enfrentado não só no agro, mas em vários setores da economia, é mensurar com exatidão a quantidade de empregos gerados. Isso se dá em virtude dos trabalhadores classificados como informais”, diz Tiezzi.
Conforme mostrou um estudo divulgado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) no início deste ano, o setor já havia registrado um cenário otimista mesmo diante de crises enfrentadas nos últimos anos. Entre 2019 e 2022, período que engloba a pandemia de covid-19 e a guerra da Rússia e Ucrânia, o agronegócio teve crescimento de 2,5% no número de postos de trabalho formais. Passou de 13,62 milhões para 13,96 milhões de pessoas empregadas, resultando na criação de 344.150 novas ocupações.
Já uma pesquisa divulgada em outubro deste ano pela FGVAgro destaca que o mercado de trabalho do Agro “está menor, porém mais formal e pagando uma maior remuneração média mensal”. De acordo com os dados, a melhoria na qualidade do mercado de trabalho no setor agropecuário foi notável, com aumento significativo de 176,0 mil (ou 9,4%) empregos formais — ao mesmo tempo em que as ocupações informais foram reduzidas em 1,1 milhão (ou 14,5%). Isso resultou no setor agropecuário apresentando o maior número de empregos formais, atingindo 2,0 milhões, e a maior taxa de formalidade, alcançando 24,6% no 2º trimestre, desde o início da série histórica em 2016.
Fernando Aquino, economista e conselheiro coordenador da comissão de política econômica do Conselho Federal de Economia (Cofecon), analisa a contribuição do agro para a criação de empregos no país. Ele destaca que é importante avaliar dois segmentos do setor agropecuário: o agronegócio, mais voltado para exportação; e a agricultura familiar, que tem foco maior no mercado interno.
“São empregos com carteira assinada, que em geral são de melhor qualidade que o emprego informal. Então temos uma qualidade mínima garantida pela CLT”, diz. “Carteira assinada é mais ligada ao agronegócio, geralmente. Podemos dizer que, no geral, a situação das ocupações no setor agropecuário tem melhorado”, completa.
Aquino ressalta o que ele considera como fatores importantes para os resultados divulgados: uma taxa de câmbio favorável, que incentiva um aumento de exportações e estimula o setor do agronegócio; e uma demanda interna crescente por produtos agropecuários, o que favorece a produção em ambos os segmentos: no setor do agronegócio e no setor da agricultura familiar.
“São resultados importantes, Ao mesmo tempo, a longo prazo, precisamos desenvolver mais os outros setores para que o país possa avançar em termos econômicos e distribuir mais o bem-estar para a população em geral. Apesar do resultado ser muito bom, é realmente preciso olhar para outros setores, como o industrial e de serviços” , finaliza Aquino.