Estudo concluiu que a presença de toxinas na água consumida pela população da região foi um dos fatores responsáveis pelo aumento no número de bebês microcéfalos.
Por Beatriz Castro, TV Globo
A Universidade Federal do Agreste de Pernambuco (Ufape) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) fizeram uma pesquisa que apontou que a água contaminada por toxinas e consumida pela população contribuiu para aumentar os casos de microcefalia associada ao vírus da zika no Nordeste (veja vídeo acima).
Os pesquisadores queriam entender por que o Nordeste concentrava o maior número de bebês com microcefalia, já que a região não era a recordista nos casos de zika no Brasil. Resolveram, então, investigar a água que foi responsável por outra tragédia na saúde pública da região: a contaminação dos pacientes que faziam hemodiálise.
O estudo concluiu que a presença de toxinas na água consumida pela população nordestina foi um dos fatores que contribuíram para o aumento de número de bebês com microcefalia na região.
“Muito provavelmente são vários fatores. O que a gente está propondo com esse trabalho é que o fator qualidade da água é importante e foi crucial na definição e nas consequências da infecção pelo vírus zika em mulheres grávidas do Nordeste do Brasil”, afirmou o professor da UFRJ, Stevens Rehen.
Os pesquisadores levaram para os laboratórios os dados dos reservatórios que abastecem o Nordeste. A presença de cianobactérias, que são micro-organismos que produzem toxinas, eram mais frequentes do que no restante do país.
A epidemia coincidiu com uma seca severa, menos água nos reservatórias, maior a concentração de toxinas na água consumida pela população. E isso, segundo os pesquisadores, potencializou a ação do vírus da zika. A comprovação foi feita através de dois testes em laboratório.
“Foram feitos vários ensaios com organoides, os minicérebros e testes em vivo com camudongos, na UFRJ, que demonstram que uma dessas toxinas produzidas por cianobactérias, a saxitoxina potencializava a ação do vírus da zika, ou seja, deixava os casos de microcefalia mais severos”, disse Renato Molica, pesquisador da Universidade Federal do Agreste de Pernambucano.
Os filhotes das fêmeas infectadas com o vírus da zika que recebiam a toxina nasceram com mais malformações no cérebro. O resultado do estudo mostra que o país precisa discutir novamente os níveis de toxinas considerados seguros na água consumida pela população. E sugere maiores investimentos em saneamento básico para evitar uma série de doenças.
Em Pernambuco, menos de 20% da população tem acesso à água potável. “Havendo um cuidado maior com saneamento básico, a gente acredita que pode ser reduzida a vulnerabilidade dessas populações a diferentes doenças como foi o caso do vírus zika”, declarou Stevens Rehen.