Um dia, estávamos sentados no chão.
Nós três.
Acima de nossas cabeças um quadro enorme com todas as letras do alfabeto.
Por cima de nós, em nossas pernas e colo, muitas, muitas letras plásticas coloridas.
Foi quando o Pai pegou a primeira letra do próprio nome e pergunto a ele:
“Filho, que letra é essa?”
E ele, sem o menor constrangimento, não pensou meio segundo para responder:
“Não faço a menor ideia!”
Rimos.
Rimos muito.
Não era tempo.
Sua pouca idade dava a ele o direito de simplesmente não saber.
Outra vez, perguntei a ele se sabia alguma coisa que agora não me lembro do que se trata. E ele, com a prontidão de sempre respondeu:
“Não sei ainda, mas eu vou aprender.”
“Claro” – falei satisfeita- “Você vai aprender isso e muito mais”.
O tempo passou e ele aprendeu o nome de cada uma das letras e, agora, no exato momento em que escrevo, está aprendendo a ajuntá-las, e que coisa linda!
Nenhuma placa, nenhum cartaz, nada nem ninguém passam por ele sem ser analisado, observado, lido.
Dia desses mostrei a ele a capa de um livro que estava escrito assim:
Você nasceu para isso.
E ele começou a ler, bem bonitinho.
Só que lá pelo meio do caminho acho que cansou ou ficou de saco cheio, sei lá.
Só sei que leu assim:
“Você nasceu parabéns!”
Leu um pedaço direitinho e o outro resolveu “adivinhar” vai que cola, né?
Daquela vez, não colou.
Mas, de vez em quando, deve dar certo.
Ele está desvendando o mundo das letras e todas as coisas que acontecem quando ajunta uma na outra.
As variações que elas fazem, os efeitos que sofrem.
E, a cada descoberta das inúmeras possibilidades, surpresa, admiração, contentamento.
E, hoje, quando perguntado que palavra é essa, ele responde em ritmo próprio, mas com a segurança cada vez maior.