O estigma em relação à terapia ainda leva muitas pessoas a recorrerem em excesso aos medicamentos para lidar com transtornos emocionais, ressaltando a necessidade de equilíbrio no tratamento e a importância do acompanhamento profissional.
Por Lilian Lopes/Mailing imprensa
Persiste o cenário em que um considerável número de indivíduos evita a busca por tratamento psicoterapêutico, optando, em vez disso, pelo aumento desmedido no consumo de medicamentos controlados, visando aliviar distúrbios de natureza emocional.
Esse comportamento desviante encontra seu fundamento na perpetuação do tabu que ainda envolve o tratamento psicoterapêutico. O receio de ser estigmatizado e rotulado como “anormal” persiste arraigado na psique humana, agindo como um obstáculo à adesão ao tratamento adequado. Dessa forma, surgem soluções paliativas baseadas em medicamentos, as quais, se não utilizadas conforme indicação e complementadas por abordagens terapêuticas, podem acarretar em desdobramentos prejudiciais, como dependência.
O prolongamento ou uso indiscriminado de sedativos, ansiolíticos, antidepressivos, antipsicóticos, estabilizadores de humor e outros fármacos podem conduzir à habituação e dependência, além de provocar efeitos colaterais indesejáveis. Essa prática de utilização descuidada, para abordar uma gama variada de quadros e sintomas psicoemocionais, pode culminar em prejuízos graves.
Cumpre salientar que não se pretende demonizar os medicamentos. Ao contrário, seu papel é crucial no enfrentamento de doenças, tanto físicas quanto mentais.
No entanto, o cerne da questão reside no abuso e prolongamento do uso dessas substâncias, bem como na automedicação. Urge, pois, a promoção do uso racional de medicamentos. Alarmantemente, a automedicação é um hábito arraigado em 77% dos brasileiros, comportamento que, quando exacerbado, pode acarretar sérios riscos à saúde, como a instalação de dependência química, intoxicações e, em casos extremos, mortalidade.
Ademais, a utilização indiscriminada de agentes medicamentosos pode prejudicar diagnósticos, mascarar sintomas de doenças subjacentes e fomentar resistência bacteriana.
Nesse contexto, é imperativo ressaltar: ao deparar-se com a necessidade, é prudente buscar orientação médica, evitando a adesão a sugestões de amigos, pesquisas na internet ou automedicação precipitada.
Além disso, muitos fármacos têm-se transformado em símbolos de uma sociedade psicologicamente fragilizada. Bilhões de unidades são consumidas com propósitos diversos, como indução ao sono, aumento do ânimo, emagrecimento e melhoria do bem-estar emocional. Preocupantemente, os dados mais alarmantes indicam que o número de jovens e crianças em tratamento contínuo com medicamentos psiquiátricos triplicou nos últimos dois anos.
Assim, reconhece-se inquestionavelmente a importância dos medicamentos no alívio do sofrimento mental e controle de doenças. No entanto, é imperativo reconhecer os limites de sua utilização. Afinal, excessos revelam carências. Quais são essas carências que buscam preenchimento exclusivamente por meio de medicamentos, transformando-os em muletas de apoio?
Por fim, ressalta-se a importância da terapia no autoconhecimento, uma vez que ela desvenda caminhos para a compreensão do que é benéfico ou prejudicial à saúde mental. Dado que somos seres únicos, com angústias e problemas particulares, somente por meio de orientação psicológica apropriada podemos identificar desencadeantes, abordar fraquezas e potencialidades, e buscar um equilíbrio entre bem-estar físico e emocional.
Nesse contexto, o profissional de saúde mental assume uma função crucial ao avaliar com detalhamento a necessidade de intervenção medicamentosa como parte do tratamento. Se essa intervenção se mostra necessária, o paciente será encaminhado ao médico psiquiatra, que prescreverá e auxiliará na adoção de hábitos mais saudáveis.
Consequentemente, essa é a abordagem correta para evitar aprisionamento mental e físico, decorrente do abuso excessivo de medicamentos, os quais podem resultar em embotamento emocional e restrição das interações sociais e da rotina diária do indivíduo.