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Alzheimer

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Presente de Deus

Maravilhosa é a vida que instala em nosso corpo uma diversidade enorme de possibilidades.

O pensamento.  O boi, a onça, o macaco, o cachorro, o gato ou o homem.  Somos todos animais.  Mas, entre todos de qualquer espécie,  só o homem é racional. Só o homem pensa.  Só o homem tem o privilégio da racionalidade.

O homem fala. Articula sons convencionados para expressar seus pensamentos. O poder da fala não me parece um privilégio,. Muitos outros animais emitem sons para expressar seus sentimentos, necessidades, desejos e ou emoções.  Até as formigas se entendem. Uma avisa às outras de uma presa disponível, reúnem-se  e vão todas lá.

Escutar é um deleite. Escutar notícias de bons acontecimentos para melhorar e tocar a vida para a frente. Belas músicas de quem toca bem, canta e encanta.

A nossa visão é uma ferramenta de grande poder. É ela que transporta informações sócio-ambientais para a nossa mente. Possibilita-nos escolher o que agrada ou não. Avisa de algum perigo e decora o nosso  cérebro  com as belezas da natureza.  Grava lá, para nunca apagar, a imagem de uma mulher bonita, ou de uma criança, ou…

Movemo-nos para lá e para cá sem dificuldade.  Pernas, para que te quero?  Sentimos o cheiro das flores e dos bons perfumes. e amolecemo-nos com o contato de um bom carinho.

São  todas estas possibilidades animais que se desgastam e deterioram pelo uso, com o tempo. Alguns de nós dedicam-se mais a falar, outros a escutar, outros tantos a olhar. Há quem se dedique especialmente à mobilidade: caminhar, correr, saltar. E há também, aqueles muito emotivos, sentimentais. Nestes a emoção vence a razão.

E sobre o privilégio de pensar? Há aqueles que podiam falar, escutar, olhar, caminhar, sorrir e alegrar-se… e não podem mais. Porém acham isso normal porque gastaram-se. Conformam-se. Outros, mais inquietos e ambiciosos, quando sentem tudo o que podiam escorregar-se pelas pontas dos dedos e já nada podem mais, não  se conformam.  Continuam querendo o que já não podem.  Sofrem.

Para os inconformados chegou a hora do alzheimer.  Chegou a hora de não os deixar sofrer pelo que não podem.

O alzheimer faz parar de pensar. Faz quem sofre de nada saber. Faz gostar do que não presta e repudiar o que é bom. Faz chorar diante de alegrias e sorrir pela tristeza. É um escárnio da vida. Tira a consciência e rouba a razão.  Alivia o sofrimento. Um presente de Deus.

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 745