A palavra pátria, a “minha pátria” quer evocar um sentimento de segurança e de pertença. Quando expressamos o termo “pátria”, não só queremos nos referir ao nosso país, mas a uma realidade mais próxima, ao nosso “ambiente de vida”, onde nos sentimos bem, nos sentimos “em casa”, acolhidos e amparados. Refere-se também ao lugar onde nascemos, onde crescemos. Ali estão nossas raízes. Ali despertamos uma carga emocional grande, porque nos sentimos amados. Ao lembrar, recuperamos as lembranças e experiências que nos construíram e que estão guardadas na memória. As lembranças despertam uma saudade verdadeira.
A pátria ou o “ambiente de vida”, que para muitos lembra o “vilarejo”, a “comunidade paroquial”, o encontro com os amigos, o jogo de bola, as criatividades que criavam entretenimento, a conversa gratuita onde os jovens se sentiam ligados e amigos, onde nos sentíamos pertencer, nos últimos tempos mudou. Na atualidade a internet mudou o cenário. Os jovens e adolescentes, especialmente, vivem conectados. Uma frase que traduz a intensidade dessa conexão é: “estou online, logo eu sou”. Ou seja, o fato de estar se comunicando pela internet e pelas redes sociais é o que dá aos jovens o sentido de pertença. Ficar sem a internet seria o mesmo que “ser anônimo”, “não ser conhecido e reconhecido”, é de certa forma, “uma experiência de nulidade e de morte”. Ali os jovens e adolescentes “criam o seu mundo”, para além do qual é difícil, muitas vezes, criar novos relacionamentos. A sua identidade se constrói a partir desse espaço e desses relacionamentos. Os jovens querem ser felizes. Para isso, precisam se sentir amados, aceitos, e acolhidos. A internet dá a possibilidade de encontrar “pessoas afins”, “gente que pensa parecido comigo e que tem o meu jeito”. Isso, de certa forma é positivo, porque cria vínculos, conhecimentos e reconhecimentos. Um dos limites, porém, está na intensidade dos vínculos. Quão fortes e consistentes serão? Até quando se manterão virtualmente? O que é preciso fazer para que se fortaleçam e tenham, de fato, “rosto e proximidade”?
É claro que a internet veio pra ficar. Não haverá retrocesso. O importante é observar se, em nossa conexão, não fugimos de “nossos ambientes de vida” próximos. Meus amigos estão sempre do outro lado e não “aqui” onde eu posso falar e olhar, tocar e abraçar. A pessoa altamente conectada corre o risco de perder oportunidades de relacionar-se com a pessoa que está na sua frente, ouvir e contar histórias, partilhar experiências e emoções, sentir a realidade que o toca no momento em que está vivendo. Quem está “o tempo todo” conectado poderá viver essa duplicidade de ambiente. O “ambiente em que está situado com seu corpo” e o “ambiente em que está conectado virtualmente”. É claro, que nos dois ambientes há vida. Isso não se pode negar. Porém, existe uma intensidade diferente em cada realidade e ambiente.
O que dá para se perguntar, relacionando a ideia de “pátria” e os “novos relacionamentos”, a partir da internet, é o seguinte: será que as memórias de quem experimentou a vida nos “relacionamentos concretos” serão as mesmas com os “relacionamentos virtuais”? Que experiências partilharão quem passa grande parte do seu tempo na internet, com relacionamentos virtuais? Será a internet o lugar de se “sentir em casa”, acolhido e amparado, compreendido e aceito? Que histórias irei contar a quem vier depois de mim?