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Amor dedicado

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Aí você está em casa em um sábado à noite.

Em uma noite que nada promete.

Parece que, quando as coisas estão assim, nem as folhas das árvores se movimentam e até as formiguinhas, aquelas que nunca param, resolvem se esconder.

Nessa noite em especial algo que definia com precisão a minha situação movimentada era a água do poço.

Era bem essa.

Até que escuto alguém bater a porta de um carro.

Depois outra, outra, mais outra.

Não escutei vozes, apenas passos apressados.

Eram mulheres.

Acho que umas vinte.

Quando estavam todas reunidas, na porta da minha casa, começaram a gritar e cantar daquele jeito que o fazem pessoas felizes em lugares conhecidos.

Lembro-me perfeitamente quando tudo começou.

O ano era 1986.

A turma era simplesmente terrível.

Meninos grandes, cheios de energia e dispostos a quase tudo para não prestarem atenção às aulas.

E ela, pequenininha e esperta, era a determinação em forma de gente.

Muitas vezes os dias eram pequenos e as madrugadas companheiras para elaborar e corrigir tantas atividades.

Aquele ano acabou e passou para a história sua primeira turma do Ensino Fundamental.

E foi só o primeiro ano.

E foi só a primeira turma.

Depois dessa ela ensinou a ler, escrever, honrar e amar inúmeras crianças.

Ensinou a matéria misturada com valores e educação. Tudo isso com um amor sublime.

Tanto amor, que não é raro hoje, depois de 30 anos daquela primeira turma, encontrarmos homens e mulheres que vêm apresentar seus filhos a sua “tia”.

E, após semear tanto amor dentro da escola, chegou a hora de mudar.

Respirar novos ares.

As mulheres chegaram cantando com a alegria do início de festa.

Ela preferiu não ir ao encontro que haviam marcado.

Mas como as “meninas” queriam mesmo vê-la, resolveram vir aqui.

Saímos todos e foi uma grata surpresa ver, à nossa porta, as colegas de trabalho da minha mãe.

Elas vieram com tanto carinho e gratidão que me fizeram chorar.

Queriam demonstrar o que sentem por quem já não está com elas todos os dias.

E assim o fizeram lindamente…

Vieram também porque ontem foi seu aniversário.

E ela, sem que fizesse festa, recebeu visitas queridas, flores, presentes…

Recebeu a multidão de amigas, sobrinhos, irmãos, filhos.

Mensagens mil e muitos,  muitos telefonemas.

Eu fico pensando: o que faz minha mãezinha ser assim tão amada?

E, por mais que queira florear e enfeitar os motivos, eu sei que não preciso faze-lo.

A receita é simples e eficaz: amor dedicado a quem por ela passar.

Feliz aniversário, mamãe princesa.

Com amor, Bibi.

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