Assisti ao vídeo em que essa menina, falando aos deputados estaduais do Paraná, discorre sobre os motivos das atuais invasões. Seu discurso é a síntese do que ensinam os fazedores de cabeça. Obviamente, ela não acessa o meu ou qualquer dos blogs que defendem ideias conservadoras ou liberais. Sua relação com o contraditório se exerce pela mera aplicação de rótulos. Os adjetivos que dispara – golpista, fascista, machista, homofóbico, racista – abastecem seu vocabulário como os únicos cabíveis a quem diverge do que lhe foi ensinado.
Ela diz que não a doutrinaram e que essa acusação é um “insulto”. De fato, ela não foi doutrinada, mas não pelas razões que afirma. O que fizeram com ela foi ocultação do contraditório e escamoteação de outros pontos de vista, como observou Olavo de Carvalho ao discorrer sobre o muito conhecimento e tempo necessários a uma efetiva doutrinação. Isso fica claro quando Ana Júlia fala emocionada sobre o quanto aprende a respeito do Brasil e da política nos dias de invasão. Ora, durante esse período supostamente pedagógico ela convive somente com outros invasores e com os professores que os pastoreiam. Participa, pois, de um desses eventos dos quais companheiros e camaradas emergem com fulgores de profetas que ouviram a voz do Senhor. Mas é apenas a própria voz que escutam.
A luz dessa sabedoria não remove escamas dos olhos. Por isso, a mocinha afirma que a “escola pertence aos estudantes” e daí deduz, sem esclarecer a relação entre causa e efeito, que o grupo ao qual pertence pode destituir dessa alegada posse todos os que pensam diferente e querem aula. E quem não entendeu algo tão obscuro é homofóbico, machista, fascista, bobo e feio. Ora, nem a escola é dos alunos, dado que pertence à comunidade, nem pode, qualquer fração ou facção dispor dela como bem quiser. Pretender que assim seja, para usar uma palavra da qual a oradora usa e abusa, insulta a Constituição e a inteligência de quem a ouve.
Li que o pai da adolescente seria vinculado ao PT. Ele tem todo direito de orientar sua filha como quiser, embora esse direito não prescinda de uma conduta respeitosa em relação à liberdade dela. Já à sua escola e aos seus professores não é dado esse direito! Vem daí a Escola sem Partido. O discurso da mocinha reforça a necessidade do projeto. Ela quer escola com partido, para reproduzir o que aprendeu. Essa é uma escola que permite ser capturada, que fecha suas portas aos demais alunos, professores e famílias, em nome dos objetivos políticos que lhe prescreveram. Nem mesmo uma eleição de segundo turno para prefeito será mais relevante e democrática que a tomada do prédio por seu aparelhinho pedagógico.
O jornalista Alexandre Garcia, em recente comentário, sugeriu que cada invasor de escola indicasse, em redação de 20 linhas, suas reivindicações. Pois é, seria bom mesmo ler esses textos. Sucessivos exames do ENEM e indicadores internacionais têm mostrado o rés do chão por onde se arrastam as redações de nossos estudantes. Dezenas de milhares de professores têm testemunhos a dar sobre o desinteresse e a indisciplina dos alunos, mais dedicados a gozar o presente do que a construir o futuro. Empenhados em bagunçar a escola e a aula para, supostamente, dar um jeito o mundo. Ademais, tais redações iriam revelar o caráter orquestrado e unitário dessas invasões.
O discurso, que já conta 400 mil acessos no YouTube, é a voz de todos os invasores. A menina parece, como tantos outros, saída de um molde. Crê que a discordância autoriza a grosseria e a causa justifica a desonestidade intelectual. Permite-se – suprema desfaçatez – jogar no colo dos deputados o cadáver do estudante morto a facadas por um colega, após uso de drogas, no interior de uma escola ocupada! “Suas mãos estão sujas de sangue”, esguichou ela sobre os parlamentares, como se fizesse acusação plausível e não promovesse evidente transferência de responsabilidades.
A simpatia pela militantezinha e sua causa, expressa em veículos de comunicação, é – para falar como ela – um insulto ao público. Quem disse que a tolerância é sempre virtuosa?