Godofredo era nordestino e fizera apenas o terceiro ano primário, sendo considerado analfabeto funcional e falava pelos cotovelos. Trabalhava no eito e era uma fera no trabalho: fazia o serviço equivalente a dois camaradas e, por isso, era muito requisitado.
Com a crise que se alastra pelo mundo, comércio exterior em declínio, a falta de financiamentos e a desvalorização dos produtos produzidos, cujos preços são inferiores aos gastos de produção, as empresas e os proprietários de terras, empreendedores que davam serviço às pessoas, retraíram-se, contendo-se precavidamente diante das incertezas, na esperança de uma melhora.
O indivíduo em pauta se deslocou para o estado de São Paulo, entendendo que lá era a panacéia do emprego. E como acontece em todos os lugares atingidos pela crise, as empresas foram afetadas pelo desequilíbrio conjuntural, entre a produção e o consumo, acarretando aviltamento dos preços, falências, desemprego e desorganização comerciais. Por esse motivo, entraram, também, na onda da demissão, negociando com sindicatos e empregados a dispensa dos funcionários e para outras mais sólidas a redução de horas e diminuição do estipêndio, na intenção de proteger os trabalhadores.
Diante dos fatos constatados, verificou-se tratar de uma grande ilusão e passou a procurar qualquer trabalho que pudesse lhe oferecer o sustento e contribuir nas despesas dos parentes, achando-se incomodado com a situação.
O protagonista, ao passar por uma casa comercial que vendia imagens, viu uma tabuleta solicitando empregado com experiência na venda de santos. Apresentou-se ao empresário e, por ter uma dialética desembaraçada e pela necessidade, disse entender do assunto, pois “fora sacristão em sua cidade”. Conforme as explicações convincentes, fora contratado.
Ocorre que o dito não entendia nada de santos; dizia-se católico, mas não praticava a fé. A necessidade e as adversidades fizeram-no mentir, ato que normalmente não praticava por ser repreensível, mas o fizera, circunstancialmente, para adquirir o trabalho.
O patrão, que fora ao banco fazer depósito, deixou o empregado responsável pela loja.
Uma senhora, Corintiana roxa, solicitou ao vendedor uma imagem de São Jorge, santo que tornou-se centro de interesse e adoração da galera do Esporte Clube Corinthians.
Na dúvida e por intuição, levou uma estátua de São Pedro, com chaves na mão por entender ser o São Jorge solicitado. A senhora alegou não ser essa a que procurava, pois tratava-se de outro santo.
O rapaz, por falta de intimidade com o assunto, muito perspicaz e inteligentemente, para não se enganar mais uma vez, convenceu à dona que São Jorge se modernizara, não andava mais a cavalo e sim de carro, por isso portava as chaves do veículo, persuadindo-a a levar a imagem ofertada. Embora com suspeição, ela pensava: tudo está mudando, até os santos estão se modernizando. Resmungava consigo mesma, achando um absurdo a mudança repentina.
A fã fez as suas orações, pedindo para que seu time de estimação ganhasse o campeonato e o santo, embora trocado, foi fiel ao seu pedido.
Por desconhecimento do vendedor, São Pedro fez a vez de São Jorge cumprindo o seu papel de milagreiro e protetor do clube corintiano.
“Em momentos de crise só a imaginação é mais importante que o conhecimento” (Albert Einstein)
Assim me contaram e repasso, com pequenas alterações e acréscimos, para melhor deleite e entendimento dos leitores.