E aí você sai da sua cidade e vai para outra.
De carro.
Lá esteve por várias vezes, mesmo assim, não anda com a desenvoltura que gostaria.
Escreve no GPS aonde quer chegar.
E ele, covardemente, manda para o lado oposto.
Lá pelas tantas, quando a desconfiança de que está perdido passa a ser certeza absoluta, resolve perguntar.
E a primeira pessoa a que pergunta responde assim:
“Esse endereço é na outra ponta da cidade. Você está realmente perdido! Não se preocupe, estou indo para aquele lado, vou deixar você lá.”
Entra no carro e vai pacientemente guiando você pela cidade.
Só abandona, e sai na velocidade em que está acostumado a andar, quando deixa você em frente ao prédio que procurava.
Outra vez, quando nesta mesma cidade perdido estava, pede novamente informação e ouve o seguinte:
“Vou levar você até o lugar, depois levo ao hotel e faço o caminho mais perto e que vai estar livre amanhã, quando for fazer sua prova.”
Enquanto você fica procurando palavras para agradecer, ele olha a placa do seu carro e complementa:
“Um dia estava perdido na sua cidade e alguém fez isso por mim.”
E o moço, bondosamente cumpre tudo o que prometeu, com paradas estratégicas para explicações complementares e tudo o mais.
Em uma noite você está recebendo visitas.
Todos lá nos fundos, ao redor da mesa, comendo como se não houvesse amanhã.
De repente você escuta alguém batendo à porta insistentemente.
Faz pequenos intervalos, mas não para de bater.
Você abandona o pastel com o qual estava se atracando, e vai lá ver quem incomoda.
“Moça, o carro aqui ó, está com as janelas abertas.”
Você agradece, agradece de novo, agradece outra vez e volta para a cozinha, pega o controle do carro do seu tio e vai fechar as janelas que de fato estão arreganhadas.
E aí, apesar de feliz e eternamente agradecido, você se pergunta:
Por que a pessoa deixa seus afazeres em segundo plano simplesmente para ajudar um desconhecido?
Por que gasta seu tempo e combustível para socorrer um perdido em terra estranha?
Por que interrompe seu caminhar para gritar à porta alheia e assim evitar que o carro fique vulnerável?
Eu te respondo, sem precisar de muito tempo para pensar:
Ainda existem pessoas boas e altruístas que estão em toda parte. E melhor, elas passam ao seu lado todos os dias.
Eu costumo chamá-las de anjos.
Como não sei quando estarei perdida em sua cidade com as janelas do meu carro abertas, só para garantir te peço hoje: seja um anjo você também!