GABRIELA OLIVEIRA (gabriela.jornalistavc@jornaldosudoeste.com)
O mês de outubro foi dedicado à conscientização sobre a importância da prevenção ao Câncer de Mama, doença que corresponde a cerca de 25% dos casos de Câncer diagnosticados em mulheres por ano. No Brasil, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Câncer de Mama, no Brasil, representa cerca de 29,7% – baseado em dados de 2020 – de todos os tipos de neoplasias diagnosticadas. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que em 2021 serão mais de 66 mil novos casos da doença diagnosticados no Brasil.
O que muitas pessoas não sabem é que, apesar de afetar majoritariamente as mulheres, o Câncer de Mama também pode atingir pessoas do sexo masculino. Pelo fato de a glândula mamária masculina ser geralmente atrofiada, com baixa produção de hormônios femininos, cerca de 1% dos casos são diagnosticados em homens.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Câncer que atinge homens e mulheres é basicamente o mesmo, mas no caso do masculino há algumas particularidades: devido à demora no diagnóstico, 72% dos casos são identificados já nos estágios mais avançados. De acordo com o Inca, pelo fato de não ser uma doença comum, o homem não tem o hábito de olhar para as suas mamas, o que faz com que, normalmente, quando ele é diagnosticado com a doença, o Câncer já está evoluído.
Em entrevista exclusiva ao JS, o médico oncologista Leonardo Cunha Costa, responsável técnico do Instituto Conquistense de Oncologia (Icon), fala sobre a doença, fatores de risco, prevenção, diagnóstico e tratamento do Câncer de Mama masculino.
Confira a integra da entrevista:
JORNAL DO SUDOESTE – Movimento mundial criado com objetivo de esclarecer a população em geral sobre a importância do diagnóstico precoce do Câncer de Mama e como o diagnóstico prematuro pode salvar vidas, tem focado principalmente a incidência da doença nas mulheres, embora os dados oficiais apontem que 1% da população brasileira masculina seja acometida pela neoplasia. A baixa incidência justifica que os alertas não sejam feitos também para a população masculina?
DR. LEONARDO CUNHA: Na verdade, o que acontece é o seguinte, é um câncer bem mais raro no homem do que na mulher e a gente não tem dados literários, de literatura médica, que apontem que fazer exames de rotina vai diminuir a mortalidade do Câncer de Mama masculino. Então, o que a gente tem que fazer? É alertar o paciente, falar sobre a incidência do Câncer de Mama masculino, que é preciso estar atento, mas que não existe, hoje, uma recomendação mundial para que ele faça exames anuais, como mamografia e ultrassom. O que recomendo é que o homem deva apalpar também sua região peitoral para observar se há alguma anormalidade ( um nódulo ou um caroço duro sob o mamilo ou o a aréola).
JS: Assim como no Câncer de Mama feminino, o diagnóstico e tratamento precoce são importantes para que o homem acometido da doença tenha chances de sobrevida?
DR. LEONARDO CUNHA: Sem dúvida nenhuma, assim como na mulher, quanto mais precoce for o diagnóstico, maiores são as chances de cura.
JS: Qual ou quais exames são recomendados para detecção do Câncer de Mama masculino?
DR. LEONARDO CUNHA: Como expliquei anteriormente, não faz sentido você fazer exames de rastreamento, ou seja, o paciente que não sente nada ir lá fazer todos os anos mamografia, por exemplo. Não há dados na literatura médica que apontem essa necessidade. O que nós sugerimos é que o paciente tenha atenção com a sua região de mama (peito e mamilos) e, caso observe alguma alteração, procure um médico, que vai indicar a realização de uma ultrassonografia. E em determinados casos, quando o paciente possuir e um tecido mamário mais volumoso, às vezes apresentando um quadro de ginecomastia [crescimento de mamas de tamanho fora do normal], o médico pode solicitar a mamografia, que vai ajudar a esclarecer as causas desse crescimento.
JS: Quais são os principais sintomas da doença no homem?
DR. LEONARDO CUNHA: Os crescimento de mamas de tamanho fora do normal são semelhantes da mulher, geralmente é uma lesão palpável na topografia da mama, em alguns casos a região pode estar hiperemiada, vermelha e com algum caroço debaixo do braço ou em um linfonodo e, em casos mais avançados, pode ter dor pelo corpo, nesse caso, quando já tem acometimento metastático.
JS: Quais são os fatores de risco?
DR. LEONARDO CUNHA: Entre os fatores de risco (para o Câncer de Mama) masculinos, sem dúvida nenhuma, é o histórico familiar, é aquele homem que tem na família vários casos de Câncer, mulheres com Câncer, mãe, irmãs, tias. Então, realmente esse seria o fator preponderante de risco para o desenvolvimento do Câncer de Mama masculino.
JS: Assim como na mulher, não são todas as pessoas que têm fatores de risco, que vão ter Câncer de Mama. Quais são os principais fatores que podem ser importantes na hora de detectar um Câncer de Mama no homem?
DR. LEONARDO CUNHA: O mais importante, para detecção do Câncer de Mama masculino, é realmente estar atento àqueles pacientes que tem história familiar forte. Esses pacientes devem estar atentos e se autoexaminar, apalpando a região mamária, com regularidade.
JS: Diagnosticado precocemente, como é o tratamento do Câncer de Mama no homem?
DR. LEONARDO CUNHA: O tratamento do Câncer de Mama masculino quando diagnosticado precocemente, geralmente é cirúrgico. Dependendo do estágio da doença, se o paciente tiver algum linfonodo acometido ou a doença estiver em um estágio mais avançado, pode ser necessário também fazer quimioterapia e hormonioterapia e, em alguns casos, também radioterapia. Quanto mais precoce, mais simples vai ser o tratamento. Se for bem precoce, a tendência é que seja só cirurgia e depois radioterapia e tratamento hormonal.
JS: O Câncer de Mama masculino tem cura?
DR. LEONARDO CUNHA: O Câncer de Mama masculino tem cura sim e a recuperação está muito relacionada ao Câncer de Mama feminino, quanto mais cedo diagnosticado, maior a chance de cura.
JS: O senhor gostaria de acrescentar alguma coisa?
DR. LEONARDO CUNHA: O Câncer de Mama masculino é uma doença rara. Os homens, quase sempre, desconhecem a possibilidade de serem acometidos pela doença. O que recomendamos é que os homens fiquem atentos, principalmente a alterações de volume ou surgimento de nódulos na região mamária, principalmente os que tem histórico de Câncer na família.