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Arrumadeira analfabeta

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A moça morava na zona rural, em terras da família, com a qual trabalhava no eito para ajudar seus familiares. Era completamente desprovida de instrução, mas tinha uma memória privilegiada, fantástica; ouvia e decorava as músicas de seu interesse, especialmente canções Caipiras, que eram da sua preferência. Tinha uma voz maviosa e encantadora, agradável aos ouvidos. Quem a ouvia se encantava com o seu talento vocal.

Elegante, alegre e risonha, morena, alta, cabelos pretos, olhos grandes e vivos, físico robusto. Vaidosa, esmerava-se na indumentária e nos atavios.

Numa festa junina na fazenda da família, ela servia a todos com bastante desenvoltura. Uma senhora rica da cidade se interessou pela moça e a convidou para trabalhar com ela no serviço de arrumação e limpeza da casa. Contou com a aquiescência da família, porém fizeram referências, preocupados com os hábitos citadinos que não se coadunavam com a simplicidade da zona rural. –Não se preocupem, eu cuidarei desses detalhes.

A patroa entusiasmada com o trabalho da empregada devotou-lhe muita confiança. A doméstica, muito diligente e trabalhadeira fazia o serviço com muita rapidez e perfeição. Não tinha preguiça, arrumava a casa, passava, engomava, sempre cantarolando suas músicas. Conquistou a simpatia de todos.

Com liberdade e aquiescência da patroa, frequentava cinemas e pelo que via imitava os artistas. Tinha predileção pelas músicas e os filmes de Mazzaropi – o caipira mais famoso do Brasil –  era aficionada e curtia:  Tristeza do Jeca, O vendedor de linguiça, O noivo da girafa, Jeca e a freira, Jeca e a égua milagrosa e outros. Assistia os noticiários para se atualizar e até discutia com as colegas sobre as questões veiculadas.

Apaixonou-se por um chofer de táxi, ao qual dedicou-lhe amor. O destino se encarregou de dar azo ao romance correspondido. Riam e se completavam na alegria inefável de uma languidez que os contagiavam. Os encontros se amiudaram, o caso amoroso e secreto (escondido da patroa) evoluiu para um compromisso matrimonial.

Certo dia, os nubentes foram a um circo que chegou à cidade, curtir o espetáculo circense, um sonho acalentado de sua infância imaginativa. O palhaço com voz histriônica anunciou um prêmio para o melhor cantor e solicitou que pessoas da plateia manifestassem esse desejo. Como a moça se achava em condição de concorrer e queria homenagear o seu cupido, apresentou-se e disse que cantaria uma música de Mazzaropi e a oferecia a “O. X.”.

O locutor insistiu em saber o significado da sigla “OX”.  A pretendente resistiu até que por insistência do apresentador e a solicitação da plateia, revelou o segredo. Tratava-se do seu noivo “Ontonhe Xofé” presente no espetáculo.

A gargalhada foi geral pela inusitada e surpreendente declaração, porém a moça deu o seu recado com maestria, cantando uma música de Mazzaroipi que estava em voga, agradando a galera que passou de apupos a elogios, gritando: Bis… Bis… A música apagou todo o preconceito do analfabetismo.

O amor tem a característica de transpor barreiras.  Os corações apaixonados   se impõem pela realização da conquista, privilégio do amor.   Ivonete Morais, no cordel “O amor de A a Z” declara em seus versos: “Coração estando aberto/Vem com ele a humildade/O amor é sentimento/ Que sentimos na verdade/ Num reluzir de um olhar/Pra esse amor conquistar/Trazendo felicidade.

O analfabetismo precisa ser combatido e exterminado, o que ainda não se concretizou. Desde o MOBRAL existe essa promessa e muitos programas nesse sentido, porém ainda não realizaram essa intenção.

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 745