O Brasil, no quesito de produção de energia elétrica, é um exemplo para o mundo. Segundo o Balanço Energético Nacional (BEN) de 2021, quase 83% da energia elétrica produzida em nosso país provém de fontes renováveis, como energia solar, eólica, de biomassa e, principalmente, hidrelétrica. A energia proveniente da força hidráulica dos rios representa quase 57% da matriz elétrica brasileira.
Quando olhamos para a matriz elétrica mundial, o cenário é totalmente diferente. Em 2022, segundo a International Energy Agency, aproximadamente 61% da matriz elétrica mundial vem da queima de combustíveis fósseis em termelétricas, com uso de carvão mineral, gás natural, petróleo e derivados. As maiores economias mundiais apresentam predomínio do uso de fontes não renováveis em sua matriz elétrica, como EUA, China, Alemanha, Índia e Rússia.
A uso desses recursos fósseis como fontes de energia está por trás das mudanças climáticas que vem ocorrendo em nosso planeta. Alterações nos regimes de chuvas e temperatura, associados a ocorrência cada vez mais frequente de eventos extremos, são resultados da constante emissão de gases de efeito estufa em nossa atmosfera, provenientes da queima de combustíveis fósseis. Esses gases, como, por exemplo, o dióxido de carbono (CO2), atuam como uma espécie de barreira que retém o calor do sol em nossa atmosfera, modificando os ritmos climáticos que conhecemos.
Associado a emissão de gases do efeito estufa, o desmatamento também contribui na alteração dos padrões climáticos. As árvores, por meio do processo de fotossíntese, retiram o CO2 da atmosfera, armazenando carbono em suas raízes, troncos e folhas. Com o corte da vegetação, além de interrupção desse processo, o carbono armazenado é liberado novamente na atmosfera. Ainda, a perda de vegetação pode afetar a regulação do ciclo hidrológico de uma região, processo relacionado a formação de nuvens de chuva.
Assim, devido a emissão de gases do efeito estufa e desmatamento, regiões onde o clima era, historicamente mais chuvoso podem, devido às mudanças climáticas, enfrentar eventos de seca cada vez mais frequentes. Este é o ponto principal que evidencia o risco que a matriz elétrica brasileira corre devido às mudanças climáticas. Quando os ciclos de chuvas são interrompidos ou modificados, a vazão dos rios diminui, o que pode afetar os sistemas de geração de energia hidrelétrica. Nesse cenário, o risco abrange mais de 50% de nossa matriz elétrica.
Já estamos experimentando uma amostra desse cenário. Nos últimos anos, tivemos um aumento em nossas contas de luz com a bandeira tarifária vermelha, resultado da produção insuficiente pelas hidroelétricas em função de eventos de secas, onde foi necessário acionamento das termelétricas alimentadas por combustíveis fósseis.
Esse e outros exemplos deixam claro a relação entre as mudanças climáticas e o risco que a matriz elétrica brasileira corre. Nossas cidades, nossas extensas áreas cultiváveis e nossos parques industriais dependem da energia gerada pelos rios. Por isso, o Brasil deve ter e manter como política de Estado o combate ao desmatamento e a continuidade em acordos internacionais relacionados as mudanças climáticas, assumindo um papel de protagonista para assegurar nossa segurança energética.