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As razões espirituais e culturais da Reforma

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Martinho Lutero.

 

 

As mudanças econômicas, sociais e políticas criaram o ambiente ideal para a Reforma.  A crise religiosa resultou de um descompasso entre as necessidades espirituais dos fiéis e a organização da Igreja Católica.

O homem sempre acreditou em Deus. Foram notáveis os progressos da fé desde a Idade Média. As cruzadas, as construções das catedrais e as próprias heresias (doutrina contraria ao que foi definido pela Igreja).

Com a invenção da imprensa foram numerosas as edições da Bíblia, ampliando a consciência religiosa dos fiéis, suas exigências em relação ao clero e seu poder de crítica. Erasmo de Roterdã, humanista cristão foi autor de uma nova edição dos Evangelhos. Ele condenava o clero, sua ignorância e comportamento inadequado. Pregava uma religião mais simples baseada na leitura dos Evangelhos.

Eram graves os problemas da Igreja Católica, com um clero ignorante em matéria religiosa, tanto na classe alta como na baixa. Desde a Idade Média era costume a indicação de elementos da nobreza para ocupar os bispados vagos. O baixo clero, sem formação adequada, cometia verdadeiras barbaridades na administração da Igreja e da religião.  Na Alemanha muitos padres titulares deixavam suas paróquias nas mãos de substitutos incompetentes, criando uma espécie de proletariado eclesiástico. Para sobreviver cobravam para ministrar os sacramentos, especialmente o batismo e a confissão. A ignorância levava à vícios de conduta social  e ao comércio com as coisas sagradas.

 A situação do papa  era criticada. Muitos papas comportavam-se como senhores leigos. Eram mecenas, patrocinavam e faziam guerras, tinham filhos naturais, e viviam em cortes luxuosas, cujas despesas eram cobertas pelas contribuições dos fiéis, como a compra de indulgência (perdão e remissão dos pecados com propostas para a salvação).

A intervenção das poderosas famílias italianas na eleição dos papas e o envolvimento destes com o poder político na Europa terminaram por desmoralizar o papado, a tal ponto que era forte a teoria conciliar (Reunião da Igreja cristã, para definir e deliberar sobre assuntos pertinentes à religião).

Com a finalidade de construir a Basílica de São Pedro, em Roma, o Papa Leão X negociou a venda de indulgências na Alemanha com o banqueiro Jacob Fuger, dando-lhe um caráter de operação mercantil. Tais indulgências, eram verdadeiros bilhetes de salvação, eram um saque sobre o tesouro do sofrimento de Cristo que o papa podia administrar.

O avanço da consciência religiosa dos fiéis aumentou seu poder de crítica, e os abusos do clero tornaram-se visíveis.  A salvação somente poderia ser atingida por meio da realização de obras, transformando os padres em verdadeiros intermediários entre os fiéis e Deus. Esta obstrução como via da salvação gerou uma crise de consciência religiosa, extremamente grave, porque se deu num momento de transição, quando as estruturas estavam rompidas e os problemas religiosos envolvidos pelas questões econômicas, social e políticas.

COMENTÁRIOS SOBRE A REFORMA DE LUTERO:

Martinho Lutero (1483-1546) alemão, filho de Hans Luther e Margarethe Lindemann.  Em 1512, doutorou-se em Teologia na Universidade de Wittenberg e assumiu a cátedra de Teologia Bíblica, que conservou até a morte como professor de Teologia. Foi atuante pregador, professor e administrador.

Aproveitou os abusos praticados nas vendas de indulgências (remissão dos pecados, perdão, com promessa de salvação mediante a realização de obras) para denunciar publicamente as irregularidades que o clero vinha cometendo. Dando início a reforma.  Em 31 de outubro de 1517 fixou 95 teses que condenavam os abusos do clero na porta da Catedral de Wittenberg (cidade onde morava). Suas acusações atingiam dogmas da Igreja, pois declaravam que a salvação depende só da fé e não das obras, conforme as boas ou más ações dos fiéis.

Lutero defendeu suas opiniões, energicamente, nos debates universitários públicos em Wittenberg e outras cidades. Lutero mostrou-se radical em suas propostas contrárias aos judeus alemães, tendo sido inclusive considerado posteriormente um antissemita.

A 15 de junho de 1520, o Papa advertiu Lutero, com a bula “Exsurge Domine”, onde o ameaçava com a excomunhão, a menos que, num prazo de setenta dias, repudiasse 41 pontos de sua doutrina, destacados pela Igreja, na Dieta real a 22 de janeiro de 1521.

Lutero foi chamado a renunciar ou confirmar seus ditos. Martinho Lutero se negou a se retratar o que tinha afirmado. Questionado respondeu: “Que se me convençam mediante testemunho das Escrituras e claros argumentos da razão – porque não acredito nem no Papa nem nos concílios já que está provado amiúde que estão errados, contradizendo-se a si mesmos – pelos textos da Sagrada Escritura que citei, estou submetido a minha consciência e unido à palavra de Deus. Por isto, não posso nem quero retratar-me de nada, porque fazer algo contra a consciência não é seguro nem saudável. A graça salvadora reside dentro do homem pecador. Não posso fazer outra coisa, esta é a minha posição. Que Deus me ajude”.

Esta posição acabou provocando um inquérito, por parte da Igreja romana, que viabilizou  a condenação aos seus ensinamentos e sua excomunhão pelo papa Leão X em 3 de janeiro de 1521, na bula “Decet Romanum Pontificem”. Ele foi condenado, também, pelos partidários do Imperador Carlos V, entronado em 26 de junho de 1519.  A Dieta de Worms  (Assembleia governativa)  o  Imperador redigiu o Édito de Worms a 25 de maio de 1521, declarando Martinho Lutero fugitivo e herege, e proscrevendo suas obras.

Lutero refugiou-se no castelo de Wartburg, de Frederico III, conhecido como o sábio, onde escreveu panfletos, estudou grego e hebraico, para aprofundar-se no significado e origem das palavras utilizadas nas Escrituras – conhecimentos que logo utilizaria para a sua própria tradução da Bíblia, dando inicio a tradução do Novo Testamento do original grego para o alemão, impresso em setembro de 1522.  Esta obra contribuiu decisivamente para a padronização do idioma alemão.

  Muitos príncipes alemães o apoiaram porque desejavam libertar-se em seus domínios da influência do papa e do imperador, que era católico. Esse apoio foi decisivo na vitória do luteranismo.

Os príncipes tomaram as terras pertencentes à Igreja Católica, que passaram a ser consideradas propriedades do Estado.  A pequena nobreza alemã aproveitou a oportunidade para tentar a unificação da Alemanha, sob a liderança de Von Hutten e Von Sickingen.

 Em 1524, os camponeses também aproveitaram a ocasião, mas para se revoltarem.   O líder deles, Thomas Muntzer, foi capturado no ano seguinte, porém a revolta continuou, com algumas interrupções até 1536. Lutero que era sustentado pelos príncipes, condenou os revoltosos.

Em 1529 reuniu-se a segunda Dieta de Spira, a primeira realizou-se em 1526, na qual se tentou impor o catolicismo aos príncipes luteranos. Como estes se rebelaram, passaram a ser chamados PROTESTANTES. Em seguida organizaram a liga militar de Smalkalde contra o imperador e seus partidários católicos.  Em 1555, a questão foi finalmente resolvida pela Dieta de Augsburgo: cada príncipe decidiria que religião adotar em suas terras.

Em 1529, publicou seu Pequeno catecismo onde explica, em linguagem simples, a teologia da Reforma evangélica. Proibido de assistir à Dieta de Augsburg por ter sido excomungado, Lutero delegou a defesa dos reformadores, formulada na Confissão de Augsburg (1530), a seu colega e amigo, o humanista Felipe Melanchthon.

Na Confissão de Augsburgo, encontram-se os fundamentos do luteranismo: a salvação não se alcança pelas obras, mas pela fé, pela confiança na bondade de Deus, pelo sofrimento interior.  O culto religioso, muito simples, somente a leitura de salmos e da Bíblia. O contato direto entre Deus e o fiel, independe do clero como intermediário. O único intermediário entre o homem e Deus é Jesus Cristo. “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vai ao Pai, senão por mim”. João 14:6.

Os sacramentos da Igreja Católica são sete: o Batismo, a Confirmação, a Eucaristia, a Penitência, a Unção dos Enfermos, a Ordem e o Matrimônio.

Lutero conservou apenas dois dos sete sacramentos da religião católica: batismo e eucaristia ou comunhão. Mesmo assim, na eucaristia acreditava na presença de Jesus no pão e no vinho, e não na transformação do pão e do vinho no corpo e no sangue de Cristo, como os católicos acreditam.

O protestantismo se expandiu na Alemanha, em seguida na Europa.  Essa expansão foi detida com a Contrarreforma, criada como reação ao protestantismo, foi marcada pela repressão e pela reafirmação dos dogmas católicos. O Concílio de Trento (1545-1563) modificou a doutrina e o culto católicos e impediu a reconciliação com os protestantes. O Concílio de Trento teve como objetivo principal reafirmar os dogmas da Igreja Católica.

Durante o século XIX, o protestantismo transformou-se em movimento mundial como resultado de intensa atividade missionária. Além disto, tornou-se cada vez mais variado à medida que surgiam novas seitas e tendências religiosas. Um fator importante foi a aparição do Movimento Ecumênico que favoreceu a união de muitas igrejas protestantes e levou à formação do Concílio Mundial de Igrejas (1948). Foram estabelecidos diálogos com a Igreja Católica, Ortodoxa e com outras crenças não cristãs.

A maioria das igrejas protestantes conservou as doutrinas das tradições católica e ortodoxa, como a Trindade, a expiação, a ressurreição de Cristo, a autoridade da Bíblia e o caráter sacramental do batismo e matrimônio.

A absoluta conformidade e fidelidade aos ensinamentos bíblicos deu credibilidade a esse movimento religioso protagonizado pela reforma de Lutero.

Os protestantes consideram a Bíblia a única fonte essencial de ensinamentos. Rejeitam a postura católica que outorga ao papa a autoridade máxima em questões religiosas,  de fé e à moral, o culto à Virgem Maria e aos santos.  A infalibilidade do papa é contestada por não possuir comprovação bíblica dessa característica.

Matrimônio com Lutero (de 1525 até 1546)

Catarina sinalizou para um amigo de Lutero que o reformador seria o tipo de marido que ela aceitaria – apesar da diferença de idade entre ambos, que era de quase dezesseis anos e apesar de Lutero dizer que não se casaria – ele julgava que a qualquer momento seria assassinado. Não se sabe o que, por fim, fez Lutero decidir-se pelo casamento. Então no dia 13 de junho de 1525, o ex-monge Martinho Lutero casou com a ex-freira Catarina de Bora. Ele tinha 42 anos e ela 26. A cerimônia aberta aconteceu 14 dias depois, em 27 de junho. Esse casamento incentivou vários padres e freiras a romperem o celibato e casarem-se.

Descendência

De Martinho Lutero e Catarina de Bora (1499-1552) nasceram seis filhos: Johannes, Elisabeth, Magdalena, Martin, Paul e Margaretha. Duas filhas faleceram ainda crianças, e Margaretha foi a única que manteve a linhagem.

Martinho Lutero começou sua vida como católico da Ordem Agostiniana, fervoroso nas meditações e orações e morreu como herege por ter se casado com uma ex-freira.

RESUMO DAS AÇÕES DE MATINHO LUTERO:

Martinho Lutero foi monge agostiniano e questionou a cobrança de indulgências por parte do alto clero da Igreja Católica.

Na Dieta de Worms, Lutero foi convocado a confirmar ou negar o que escrevera, e ele confirmou. Isso o fez ser banido do Sacro Império Germânico.

Casou-se com uma ex-freira, o que incentivou outros religiosos a romperem o celibato.

Fez a primeira tradução da Bíblia para o alemão.

A Invenção da imprensa – foi  fator determinante para a propagação da tradução bíblica.

FONTES:

Enciclopédia Microsoft® Encarta;

Pesquisas na Web

Enciclopédia livre Wikipédia

 

Postagem de:

Antonio Novais Torres

antoniotorresbrumado@gmail.com

Brumado, em 04/12/2020.

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