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Às ruas, novamente…

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Por Pedro Cardoso da Costa

Em 2013, uma diferença de vinte centavos no preço das passagens de ônibus levou uma massa às ruas em busca de mudanças. Esse foi o argumento principal utilizado pela mídia, que pouco contribuiu para a formação de uma cultura reivindicativa sólida pela população. A cobertura frequentemente enfatiza fatalidades ou sugere que os problemas nacionais não têm solução, apenas reforçando a ideia de que “as coisas são assim mesmo”.

É importante lembrar dois grandes movimentos populares brasileiros. Em 1984, o movimento Diretas-Já mobilizou milhões pela retomada das eleições presidenciais diretas. Em 1992, as manifestações pediram e conseguiram o impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello, eleito diretamente após o movimento de 1984.

Para criar uma cultura de participação cidadã efetiva, talvez seja necessário começar com por movimentos menores, focados em problemas locais de comunidades, bairros e cidades. Essas ações poderiam evoluir gradualmente até se tornarem movimentos nacionais voltados para questões mais amplas.

Um primeiro passo concreto poderia ser um grupo de aposentados, que têm mais tempo disponível, instalando-se pacificamente em frente à Câmara dos Deputados e ao Senado, reivindicando, por exemplo, o fim dos 60 dias de férias dos juízes. Permaneceriam ali até alcançarem o objetivo. Com o passar do tempo, outras pessoas provavelmente se juntariam ao movimento, em revezamento constante, criando uma manifestação ordeira, sem impedir o direito de ir e vir de ninguém.

A partir daí, novas pautas poderiam ser definidas, como o fim das emendas parlamentares. Cada conquista abriria caminho para reivindicações mais amplas, com intervalos para permitir que o Congresso Nacional efetivamente implementasse as mudanças.

Outras demandas urgentes poderiam incluir: a extinção de milhares de municípios deficitários que não possuem arrecadação própria; o fim do analfabetismo de onze milhões; saneamento básico para cem milhões de brasileiros; água potável para 33 milhões; acesso a banheiros para seis milhões de pessoas; a redução do domínio do crime sobre 23 milhões de cidadãos; e a urbanização das favelas, garantindo dignidade para os mais de 16 milhões que nelas vivem.

Além disso, seria necessário estabelecer metas claras para a redução dos homicídios, visando diminuir em dez mil a cada ano, para que, em quatro longos anos, o número caia para poucos milhares ou até centenas, diante da impossibilidade de zerar, pois qualquer número de homicídio nunca seria normal.

Outros grupos menores também poderiam atuar nos municípios, cobrando ações concretas para manter as cidades limpas, exigindo punições de práticas como o descarte irregular de entulhos, colagem de cartazes e pichações, fechamento de ruas públicas para torná-las particulares, além de muitas outras.

Com ações contínuas e organizadas, talvez, em algumas décadas, a sociedade brasileira atinja um nível de participação política e civilidade comparável ao de países desenvolvidos. Caso contrário, se tudo permanecer restrito a reclamações e xingamentos nas redes sociais, daqui a cem anos, estaremos exatamente onde estamos hoje.

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 745