Por Ascom/ BSF
O ponteiro do relógio apontava 11h na comunidade de Canabravinha e a panela da agricultora Maria da Conceição Pereira da Silva, de 56 anos, ainda estava vazia. A casa de taipa com chão de terra é a fotografia de uma realidade cruel para centenas de famílias de agricultores e agricultoras em situação de extrema pobreza, sem acesso a políticas públicas, programas ou projetos.
Na região norte do estado, no Território Sertão do São Francisco, 490 famílias estão sendo identificadas a partir de buscas ativas por meio do projeto Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) Bahia Sem Fome. O Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa) é a organização executora da iniciativa em seis dos dez municípios do Território Sertão do São Francisco. Além de Curaçá, são atendidas as cidades de Campo Alegre de Lourdes, Canudos, Pilão Arcado, Remanso e Sento Sé.
Segundo o coordenador do Ater Bahia Sem Fome no Irpaa, André Luiz Pereira, já foram identificadas 50 famílias e outras 20 estão sendo mapeadas. De acordo com ele, a iniciativa começou a transformar as rotinas das famílias atendidas: “os relatos mostram que as condições de vida irão melhorar, seja pela criação de galinheiros, pela assistência técnica ou pelo acesso a insumos”.
O projeto oferece assistência técnica, incentiva a construção de estruturas como galinheiros e cercados, e, ainda, contribui na produção e diversificação alimentar. “Vamos comprar sementes e plantar feijão no nosso cercado. Da última vez, plantamos só para consumo, mas agora podemos pensar em melhorar a produção”, avalia a agricultora familiar Luzia Pereira da Silva, 23 anos, da comunidade Canabravinha, localizada em Patamuté, um dos cinco distritos de Curaçá.
Água e resiliência no semiárido
Em Canabravinha, o acesso à água era um dos maiores desafios. Dona Maria relembra os tempos em que precisavam caminhar quilômetros para buscar esse bem tão essencial. “Era um sofrimento. Hoje, com a chegada da cisterna e do poço, a situação melhorou. Podemos plantar com mais segurança”, diz ela, que, agora, já não tem mais a panela vazia e planeja investir no cultivo de feijão e na criação de galinhas com os recursos do projeto.
Para Manoel Conceição Pereira da Silva, 19 anos, a construção de um galinheiro será uma das mudanças mais significativas, porque a criação de galinhas é improvisada, e os animais destruíam parte do plantio. “Agora, quando chegar o galinheiro, a ideia é criar mais galinhas e garantir o plantio de feijão e melancia”, relata o jovem agricultor.
Mais do que garantir a produção de alimentos, o Ater Bahia Sem Fome busca a convivência sustentável com o semiárido e incentiva a autonomia das comunidades. Para o coordenador do programa Bahia Sem Fome (BSF), Tiago Pereira, o impacto vai além do prato na mesa. “O nosso objetivo é promover autonomia e ensinar as famílias a se manterem de forma digna no campo. O sertão é um espaço de potência e superação”, defende o doutor em agroecologia.
O projeto, com duração de 48 meses, é financiado pelo Governo do Estado da Bahia, por meio da Superintendência Baiana de Assistência Técnica e Extensão Rural (Bahiater), como parte do programa Bahia Sem Fome. “A gente quer criar as galinhas, vender o ovo, plantar o feijão e a abóbora, e assim tudo vai melhorar. O que queremos é isso: trabalhar e garantir o futuro da nossa família”, resume dona Maria, refletindo a esperança de dias melhores.
Foto: Thassio Ramos/ Ascom Bahia Sem Fome