A Câmara Municipal de Vitória da Conquista (CMVC) realizou, na noite dessa terça-feira (15), uma audiência pública para discutir os efeitos da pandemia do novo coronavírus nos anos escolares referentes a 2020, ano de início da crise sanitária, e 2021. A proposta é de autoria do vereador Orlando Filho (PRTB).
Por: cmvc/ascom
De acordo com o vereador, as dificuldades impostas pela crise, especialmente na educação, devem ser enfrentadas com diálogo, cooperação e acolhimento para minimizar os prejuízos para crianças e adolescentes e para suas famílias. Ele ressaltou que a educação é um direito de todo cidadão brasileiro.
Efeitos da pandemia são catastróficos para a educação – A presidente do Sindicato do Magistério Municipal Público (Simmp), Elenilda Ramos, frisou que a entidade está sempre à disposição para construir a educação, que ela destaca como fundamental para a formação do indivíduo. A sindicalista afirma que retornar alunos e professores às salas de aula sem segurança sanitária é uma “cilada”. Elenilda classificou os efeitos da pandemia como catastróficos, mas ponderou que o retorno ao ensino presencial só pode ser feito com a melhora dos números da Covid-19. Para ela, “teremos uma herança difícil” a ser superada.
A educadora ressaltou que Vitória da Conquista saiu na frente nas aulas remotas e desde o ano passado vem ofertando a modalidade ao alunado da rede municipal. Ela explicou que os professores e alunos vêm enfrentando dificuldades como falta de formação, de material adequado e assistência, e muitos alunos foram “excluídos” porque não têm infraestrutura, como celular e acesso à internet, para acompanhar as aulas. Este problema é enfrentado por professores também, relatou Elenilda. Para ela, o ensino remoto não é o ideal, mas é a realidade possível no contexto da pandemia.
Rede particular respondeu rápido, mas não esperava prolongamento da crise – A pedagoga e diretora de escola, Andreia Dias, afirmou que os desafios da educação são anteriores à pandemia. Para ela, a Covid-19 é mais um desafio a ser enfrentado, especialmente porque a educação foi um dos setores mais impactados pela crise sanitária. Andreia frisou que o ensino a distância foi a solução adotada e que a rede particular conquistense conseguiu articulá-lo rapidamente para atender aos alunos por meio de plataformas digitais. O que não se esperava era o prolongamento da pandemia, que já se arrasta por quase um ano e meio.
A educadora avalia que o ensino presencial é fundamental e insubstituível, mas a tecnologia ganhou espaço e veio para ficar nas salas de aula. Dias ainda ressaltou que os profissionais de educação não pararam suas atividades e que o trabalho chegou a aumentar na busca por saídas para incentivar os alunos. “Muitos se perderam no caminho”, lamentou. Andreia pondera que a Covid-19 aumentou as desigualdades, pois muitas famílias que já não tinham estrutura adequada para cuidar de suas crianças e adolescentes tiveram a situação piorada. A escola que, em muitos casos, era um espaço de cuidado e acolhimento deixou de existir para esses alunos.
Estado só retornará aulas presenciais com queda nos números da Covid-19 – Ricardo Costa, coordenador do Núcleo Territorial de Educação (NTE 20), ressaltou que as ondas da pandemia interrompem planos de retorno às salas de aula. Ele relatou que maio foi um mês difícil para o setor, com a perda de educadores e alunos para a Covid-19. Ricardo frisou que a pandemia atingiu fortemente os alunos do Estado, em sua maioria, adolescentes cursando o Ensino Médio. O coordenador explicou que o perfil desse aluno dificulta o estabelecimento de atividades remotas, pois muitos não têm celular ou dividem um aparelho com toda a família, têm dificuldades de acesso à internet e são de famílias que estão enfrentando dificuldades básicas, como alimentação precária.
O educador explicou que o Governo da Bahia implementou medidas para amenizar essas carências como o vale-alimentação estudantil, ‘Bolsa Presença’ para alunos de famílias de alunos em situação de vulnerabilidade, melhorias na infraestrutura de internet das escolas estaduais e formação de professores. Ele explicou que não houve escolarização, mas teve educação e acolhimento aos alunos. Para Costa, o desafio é planejar o retorno, enfrentar a evasão escolar que aumentou bastante com a pandemia e os impactos na saúde mental da comunidade escolar. O coordenador do NTE 20 afirmou que não existe condições objetivas para o retorno das aulas presenciais, neste momento, mas o Estado já estabeleceu condições para isso, como a queda na ocupação de leitos que deve ficar abaixo de 80%.
Não existe espaço completamente a salvo do vírus – A vereadora de Salvador, Cris Correia (PSDB), convidada para a audiência, relatou a situação de seu município. De acordo com ela, na capital o tema do retorno às salas de aula foi politizado, causando prejuízos para os alunos. Correia explicou que Salvador adotou o sistema híbrido, tanto na rede particular como pública, com rodízio, semanal ou diário, de alunos em sala de aula. Cada sala pode ser ocupada com até 50% dos alunos, tendo como referência o tamanho original da turma.
Mesmo assim, a vereadora lamenta que muitas salas estejam vazias porque ainda existe receio por parte das famílias. Além disso, segundo Cris, existe um movimento sindicalista contrário ao retorno das aulas presenciais, apesar de muitos profissionais desejarem o retorno. Ela afirmou que os sindicatos estão usando carros de som para campanhas de desestímulo ao retorno das aulas, amedrontando as famílias dos alunos.
Cris avalia que o ensino remoto não atende às necessidades do aluno e que existe margem de segurança para aulas presenciais. Ela ainda defende que não existe espaço completamente a salvo do vírus, mas protocolos de segurança sanitária podem deixar as escolas aptas para receber os alunos e profissionais. A vereadora frisou que 100% da comunidade escolar soteropolitana está vacinada, mais uma condição para que os alunos voltem às salas.
Pandemia afeta saúde mental de crianças e adolescentes – A médica Juscilene Leão afirmou que biossegurança é um conjunto de medidas sanitárias que devem ser adotadas por todas as prefeituras municipais para o retorno às aulas presenciais. Leão ressaltou que a pandemia trouxe insegurança para as pessoas, “veio para nos abalar”. De acordo com a profissional, a área médica vem apontando impactos graves da pandemia na saúde e no psicológico de crianças e adolescentes. A alta exposição dessas pessoas a tecnologias como celulares e outras telas vem causando um maior número de casos de doenças visuais. Para Juscilene, “o retorno à sala de aula é necessário”, mas é preciso pesar os riscos e os benefícios, monitorar a vivência escolar e adotar todos os protocolos de segurança sanitária. Ela frisou que crianças transmitem menos o vírus e também são menos acometidas pela doença.
Retorno às aulas presenciais precisa de planejamento criterioso – O secretário municipal de Educação, Edgard Larry, ressaltou que o debate sobre a educação deve ser constante, para além da pandemia. Segundo o gestor, são vários os desafios para que a educação se reinvente e enfrente a pandemia e seus impactos. Larry explicou que a secretaria vem, desde 2020, desenvolvendo ações nesse sentido como a construção de um sistema de aulas online. “Vitória da Conquista foi protagonista nesse sentido”, afirmou.
O secretário ressaltou que sua pasta construiu um protocolo para o retorno às aulas presenciais e que o documento está em fase de revisão. Larry afirmou que é preciso promover um amplo diálogo com a população e com a comunidade escolar para “fazermos da melhor forma possível”. Segundo ele, é preciso acolher todos os atores da rede pública municipal de educação. Ele lembrou ainda que a vacinação da rede é condição para o retorno e afirmou que a educação vem trabalhando em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde. De acordo com Larry, a imunização da categoria já chega a cerca de 90%.
Governo precisa responder como e quando as aulas presenciais serão retomadas – O vereador Augusto Cândido (PSDB) afirmou que a interrupção das aulas presenciais já causou “perdas irreparáveis”. Ele ressaltou que os protocolos dos Ministérios da Saúde e da Educação orientam a retomada. “Precisamos voltar às aulas”, declarou. O parlamentar afirmou que não compreende a decisão da Prefeitura Municipal que liberou eventos com até 50 pessoas, mas mantém as escolas fechadas. “Por que não a sala de aula?”, indagou. Augusto criticou a fala do secretário Edgard Larry. Para o edil, a educação precisa apresentar um plano concreto sobre como e quando as aulas presenciais serão retomadas. “É isso que a gente quer ouvir do gestor”, disse. O vereador também criticou os professores da Uesb, onde também leciona. Segundo Cândido, a categoria afirmou que voltaria às aulas presenciais com a sua vacinação, mas agora cobra também a imunização dos alunos.
Problemas da educação são anteriores à pandemia – O professor da rede privada, Héber Marques, afirmou que a pandemia é uma realidade com a qual todos terão que aprender a lidar. Ele ressaltou que os problemas da educação são graves e anteriores à pandemia. “Como a educação vai lidar com a pandemia?”, questionou. Para o educador, “estamos atrasados há muito tempo”, pois o uso de tecnologias em sala de aulas é um desafio não enfrentado pelos gestores. De acordo com Héber, muitos profissionais da educação não sabem ou não querem usar esses mecanismos. Ele ainda cobrou melhores condições de trabalho e de salários para os educadores. Segundo o professor, a vacina vai resolver o problema da doença, não da educação. “Vacina é pra doença, não é para educação”, alertou.
Ansiedade e desânimo afetam alunos no isolamento – Sani Farias, psicóloga, frisou que o isolamento social por conta da Covid-19 causou muitos impactos em pais, alunos e profissionais. Ela ressaltou que crianças e adolescentes estão enfrentando ansiedade, queda de rendimento escolar e desmotivação. Além disso, existe uma sensação de angústia diante das incertezas promovidas pela pandemia. Sani relatou aumento de doenças mentais e de outros problemas de saúde por alta exposição a tecnologias como celulares. A profissional aconselhou os alunos a manterem uma rotina de estudo de forma regular e leve para minimizar os impactos da pandemia e do isolamento.