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Audiência pública traça caminhos para combater adoecimento de bancários

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Com dados alarmantes e a presença de representantes de diversos órgãos públicos e entidades representantes de bancários e bancos, foi realizada na sexta-feira (27/10) a audiência pública Retrato do Adoecimento no Setor Bancário no Estado da Bahia.

“O setor que mais lucra é também o que tem maior índice de adoecimento”, introduziu o procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho (MPT) na Bahia, Luís Carneiro, que participou da mesa de abertura do evento, junto com outras autoridades. O procurador ressaltou a importância do estudo conduzido pela procurada do trabalho Ana Emília Albuquerque, dizendo que “a categoria passa por muitos riscos de adoecimento, e esse estudo é fundamental para encontrar formas de evitar o aumento dos casos”.

Ainda na mesa de abertura, a superintendente Regional do Trabalho da Bahia, Gerta Fahel, reforçou que “é preciso pensar na prevenção de casos, e não em como remediá-los”. O desembargador do Luiz Roberto de Mattos, que coordena o projeto Trabalho Seguro da Justiça do Trabalho na Bahia, destacou a necessidade de enfrentar o problema. “Vemos essa situação diariamente nos tribunais e precisamos louvar ações como esta que buscam, através do debate, os caminhos para solucionar esse grave problema que afeta trabalhadores e toda a sociedade”, afirmou.  Integraram ainda a mesa a diretora de vigilância e atenção à saúde do trabalhador, Letícia Nobre, a coordenadora do Cerest, Tiza Mendes, o gerente técnico da Fundacentro, Daniel Martins, e a diretora da Associação dos Magistrados do Trabalho da Bahia Silvia Isabelle.

Durante a abertura da mesa, Silvia ressaltou que a reforma trabalhista não preza pela saúde física e mental do trabalhador, e que ela tem visto um aumento substancial de casos de assédio moral. Letícia completou, dizendo que além dos riscos de vida que a profissão oferece, por conta do número de assaltos as agências, “o suicídio por conta das pressões e assédios que os bancários sofrem é presente”. Ela completou dizendo que “todo o estado brasileiro está ameaçado com essa conjuntura política, uma vez que essas mudanças podem aumentar o índice de doenças, e que elas não afetam só o indivíduo, mas todos que estão ao redor, como a família”.

“Mais de 90% dos casos de adoecimento por conta do exercício laboral que chegam até o ambulatório da Cerest, são de funcionários de bancos”, afirmou Tiza Mendes. Ela completou dizendo que os próprios trabalhadores relatam os problemas que sofrem devido as pressões e cobranças. “Os pacientes apresentam quadros de doenças físicas, como LER/DORT, e psicológicas, como depressão e crises de pânico e ansiedade”, concluiu.

Augusto Vasconcelos, presidente do sindicato dos bancários da Bahia, ressaltou que “apesar de já discutir esse assunto em outros ambientes, a reunião de dados feita de forma inédita pelo MPT é muito importante. Quando um órgão como o MPT toma para si essa luta, ela sai da esfera individual, e toma proporções nacionais ”. Ele disse ainda que a presença de representantes dos bancos é fundamental nessa discussão, por que cada vez mais ele vê casos em que os próprios chefes negligenciam as situações. “A reunião de dados sozinha não resolve os casos. Precisamos buscar soluções que evitem que na próxima reunião de dados, esses números sejam maiores”, completou.

À Tarde foi a vez do representante dos bancos, o advogado Dagoberto Pamponet, falando em nome do Sindicato dos Bancos da Bahia e Sergipe, apresentar sua versão. Ele enalteceu o trabalho realizado pelos órgãos, mas pediu um prazo para que as instituições financeiras analisem o documento lançado durante a audiência e se pronunciem junto ao MPT. A procuradora Ana Emília pediu que a manifestação dos empregadores fosse encaminhada num prazo de 15 dias. Também à tarde, o médico e auditor do trabalho Ferando Vasconcelos apresentou um relato minucioso das condições a que são expostos os empregados do setor nas ações fiscais e das dificuldades de fiscalizar bancos com a estrutura existente de pessoal do Ministério do Trabalho.

Durante o debate, que ocupou boa parte da tarde, diversos trabalhadores relaram situações de adoecimento, afastamento e retorno ao trabalho. Os representantes de órgãos e entidade puderam responder aos questionamentos e vários casos relatados também foram encaminhados por escrito para posterior retorno. Uma trabalhadora chegou a questionar, após contar que passou por processo de assédio e adoecimento, chegando a quadros de depressão: “Onde chegaremos? Ao suicídio?”, ao revelar que, mesmo tendo encaminhado o problema vivido aos canais internos do banco e ao INSS, não se viu amparada. Todos os relatos foram colhidos e após as manifestações dos bancos, a equipe irá novamente se reunir para encaminhar as providências a serem adotadas daqui para a frente.

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