*29/09/1907†25/09/2007
Homenagem de Luiz Frederico Leite Rêgo (Fredinho) na celebração da missa do 7º Dia de Augusta dos Santos Lima.
Augusta dos Santos Lima nasceu em 29 de setembro de 1907, filha de Abílio Alves de Lima e Raquel Augusta dos Santos, na localidade conhecida por “Olhos D’Água de Deô”, no atual distrito de Itaquaraí, município de Brumado (à época denominado Bom Jesus dos Meiras), na fazenda pertencente ao seu avô, o Tenente Coronel João Pedro de Lima, integrante do 317º Batalhão de Infantaria, Estado da Bahia, Comarca de Caetité.
Ficou órfã da mãe aos três anos, sendo a penúltima filha do casal. Foi batizada por D. Placídia Risério e seu esposo, o Cel. Marcolino Risério de Moura (Intendente e prefeito de Brumado, que chegou a comandar o Executivo Municipal por cerca de 30 anos) e acabou sendo adotada pelo casal como filha e herdeira.
Os padrinhos também batizaram minha avó D. Lourdinha. Minha mãe, Maria Ignez, a segunda das seis filhas de minha avó, foi batizada por D. Augusta. A partir daí, surgiu o carinhoso apelido “Dindinha” ou “Dinda”, como nos acostumamos a chamá-la. Também tomamos a liberdade de tratá-la por “Gusta”, uma forma mais carinhosa de tratamento.
Sempre foi algo fascinante para mim, meus irmãos e meus primos, travar contato com ela. Era desde a nossa tenra infância a pessoa mais velha que conhecemos. É a imagem de “velhinha” que temos idealizado desde crianças. A figura que sempre nos encantou, com seu jeito singular, a leveza de seus gestos, a fala dócil, e a sagacidade de suas observações. Curiosamente, ela nunca nos viu – já havia perdido a visão quando nossa geração nasceu – e sua audição foi ficando cada vez mais prejudicada. Ainda assim, nem em nossas mais engenhosas traquinagens de crianças seriamos capazes de enganar, de alguma forma, a inteligência dela.
- Augusta também acompanhou o crescimento de minha mãe e minhas tias, desde a infância, pelo contato direto que tinham. Não era só uma referência a ser respeitada, por conta da idade, mas também a ser admirada. Foi com ela que minha avó e filhas aprenderam fazer crochê – e Augusta com o seu tato apurado, mesmo cega e idosa, era capaz de realizar verdadeiras obras de arte com as agulhas, fato público e notório de todos que a conheceram. As filhas de D. Lourdinha aprenderam também a seguir a fé católica com mais afinco, conhecendo dezenas de orações que a madrinha sabia de cor e salteado.
No tocante à fé cristã, é oportuno ressaltar que D. Augusta foi uma importante benemérita da comunidade católica brumadense. Herdou de sua madrinha, D. Placídia Risério, a devoção ao catolicismo. Seguindo esses passos, inaugurou na cidade a tradição da celebração à Santa Terezinha do Menino Jesus, celebrada no primeiro dia do mês de Outubro. Era devota de São Miguel Arcanjo (Santo festejado no mesmo dia do seu aniversário). Foi zeladora do Apostolado da Oração, e também filha de Maria.
O prédio onde atualmente funciona o Centro Pastoral, também conhecido com Salão Paroquial de Brumado, foi uma doação de D. Augusta. Mas ela doou à Igreja muito mais que bens materiais: cedeu um tanto do seu tempo, de sua afeição, de seu cuidado e de suas experiências. Quando jovem, chegou a auxiliar na limpeza de Igreja Matriz. Enfim, fez de seu sentimento religioso um verdadeiro ato de caridade para com a Igreja e com os próximos, sem poupar qualquer esforço para auxiliar naquilo que fosse necessário.
Augusta não deixou para nós como exemplos apenas a sua trajetória na terra, mas nos ensinou a ter como referências aqueles que ela também admirava. Por seu padrinho, o Cel. Marcolino Risério de Moura, guardava um sentimento profundo de estima e respeito, tendo-o como exemplo de homem virtuoso. Tem no Monsenhor Antonio Fagundes semelhante veneração, a quem considera um dos pilares, e dos mais sólidos, da Igreja Católica brumadense.
Falecida na manhã do último dia 25, terça-feira passada, D. Augusta completaria 100 anos no sábado passado, dia 29 de setembro. A data histórica – aguardada ansiosamente e com tremenda expectativa – era motivo de regozijo para familiares, amigos e admiradores. Mas não é por conta de quatro dias que deixaremos de considerá-la centenária. Continuará sempre em nossas lembranças, a ser um símbolo de uma época que não devemos esquecer, especialmente a nossa juventude.
Perdemos uma figura singular de nossa família e do nosso convívio. Não é uma perda só nossa, mas de inúmeros afilhados, sobrinhos, primos, primas, parentes e amigos que também sentem essa perda de um referencial religioso e moral da família brumadense. Mas nos conforta saber que Augusta está agora num lugar acolhedor, o qual fez por merecer durante a sua vida.
Texto de Luiz Frederico Leite Rêgo