Procedimento inédito abre caminho para novas técnicas e aumenta a chance de sobrevivência de pacientes que estão na fila de espera por um órgão. “É uma alternativa para a escassez de órgãos”,
opina o cardiologista Roberto Kalil
Por: Manu Vergamini
O sucesso de uma cirurgia inédita realizada nos Estados Unidos, em que um homem recebeu por meio de um transplante um coração de porco, abre caminho para que a medicina possa contar com novas técnicas, que venham amenizar a crônica falta de doadores de órgãos e, assim, salvar vidas.
A opinião é do cardiologista Roberto Kalil, professor titular de cardiologia da Faculdade de Medicina da USP e diretor do InCor e hospital Sírio Libanês.
“A falta de doadores é algo comum no mundo. No Brasil, as doações de órgãos estão muito aquém do desejado. Muitas pessoas ficam na fila de espera para fazer um transplante cardíaco durante anos, e acabam falecendo, antes que tenham um doador de um coração e elas consigam fazer a cirurgia”, lembra ele.
O procedimento — chamado de xenotransplante — foi autorizado pelo FDA, órgão equivalente à Anvisa nos Estados Unidos. O coração animal, geneticamente modificado, era a única opção disponível para o paciente, que possuía uma doença cardíaca terminal.
Kalil lembra que as primeiras tentativas de se transplantar um coração de um outro animal para um ser humano datam de 40 anos. “Há quatro décadas a ciência tem procurado encontrar uma maneira de tornar possível esse tipo de cirurgia, não apenas tecnicamente, mas essencialmente do ponto de vista da rejeição ao novo órgão. Graças à modificação genética, a rejeição foi minimizada. A escolha do porco, cujo coração apresenta grande semelhança com o coração humano, também contribuiu para o êxito da cirurgia”, explica o doutor Kalil.
Para ele, o desenvolvimento dessa técnica pode vir a revolucionar as cirurgias, particularmente as cardíacas, que assim terão a chance de passar à categoria de eletivas (programadas), o que salvará milhares de vidas. “Podemos estar presenciando o início de uma nova era dos transplantes”, completa ele.
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