Por Camila Costa
A expectativa dos profissionais, do mercado de trabalho e do setor produtivo do Brasil em cima da indústria 4.0 vai além dos ganhos de produtividade a nível operacional, o conhecido chão de fábrica. A nova revolução industrial impacta, entre outras coisas, na potência de produtividade do País. Trocando em miúdos, esse novo conjunto de tecnologias, como big data, internet das coisas, inteligência artificial, promete melhorar a remuneração dos profissionais capacitados; otimizar o aproveitamento das novas tecnologias; encurtar os prazos de lançamento de novos produtos; flexibilizar as linhas de produção e, no fim da linha, melhorar a qualidade de vida das pessoas.
Nos últimos anos, houve um aumento da incorporação de tecnologias digitais em vários segmentos da atividade empresarial, como mostra a última pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) sobre o assunto. A amostragem revela quais setores têm mais utilizado tecnologias digitais e quais, por alguma razão, ainda não fizeram esse caminho. Mais de duas mil empresas de todos os portes foram entrevistadas e disseram fazer uso de dez tipos de tecnologias digitais, em diferentes estágios da cadeia industrial.
Com a intenção de pautar a discussão nos próximos quatro anos, o setor produtivo elaborou um estudo que relaciona a implementação da indústria 4.0 diretamente ao aumento da produtividade. A combinação do Big Data com o emprego da Inteligência Artificial, por exemplo, melhorará o uso de insumos e aumentará a qualidade dos serviços executados (Veja quadro). Um estudo da CNI enviado aos candidatos à presidência da República reforça a necessidade da preparação de profissionais para esse mercado e de absorção das tecnologias pelas empresas.
Segundo o diretor-nacional de Operações do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Gustavo Leal, a indústria 4.0 se apropria das novas tecnologias de base digital e, com isso, há uma profunda mudança na forma da produção das coisas. “Isso tudo vai trazer um enorme ganho de produtividade para as empresas e vai trazer para o Brasil também uma excelente oportunidade de nós resolvermos uma série de problemas que nós temos no que diz respeito à competitividade e prosperidade da indústria”, explica. Gustavo reforça que a quarta revolução industrial é fruto da migração das tecnologias de base digital para o processo fabril, onde a tecnologia habilitadora transforma a maneira de produzir os bens.
Para ficar ainda mais claro, Gustavo explica ainda que a indústria 4.0 é a ponte para o País alcançar o nível mais alto de colaboração: máquina homem; máquinas máquinas, onde o consumidor interage diretamente com esse novo circuito de produtividade. O emprego dessas tecnologias pode desenvolver ainda ambientes interativos autônomos, isto é, sem a intervenção humana. A previsão, segundo o SENAI, é que surjam 30 novas ocupações em oito áreas que devem sofrer o maior impacto da Indústria 4.0. Leia mais aqui.
Customização em massa
Ou seja, já pensou em poder, em uma mesma linha de produção, criar bens customizados, personalizados de acordo com a necessidade de diferentes clientes? Em cor, tamanho, funções? As comunicações instantâneas entre elos distintos da cadeia produtiva e o desenvolvimento de sistemas de automação flexíveis permitirão, justamente, esse tipo de produção. Um dos benefícios da customização em massa também envolve a melhora da produtividade: reduz os custos para produtos adaptados e permite o aumento do portfólio de bens.
Até o surgimento deste tipo de modelo, a flexibilidade dos processos produtivos era ainda mais limitada, mesmo não tendo avançado tanto, como explica do professor da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em inovação, tecnologia e recursos, Antônio Isidro da Silva Filho. Segundo Antônio, esse tipo de segmento não está amplamente disponível no mercado, mas a tendência é que as indústrias apostem em um alto nível de customização, a partir da incorporação de tecnologias digitais.
“O desafio é, até que ponto a customização de produtos vai ser possível quando você fala de segmentos tradicionais. Depende de algumas condições, como por exemplo, o nível de mudança nos equipamentos que as indústrias vão precisar fazer para conseguir absorver o impacto da customização. Mas perceba que isso é um caminho. Quer dizer, a tendência é que a indústria precisa estar mais próxima das preferências do consumidor, e não ao contrário, no sentido de o consumidor ter que se adequar ao que a indústria oferece”, afirma o professor.
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