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BONOMO

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Bonomo, brasileiro descendentes de italianos. Seus pais só se comunicavam através da língua pátria, e os filhos, em casa, seguiam o ritmo dos ascendentes. Ele era baixo, careca, avermelhado, cabelos ruivos e trabalhava na matriz de uma empresa sediada na capital de São Paulo.

 Foi escalado para fazer o inventário e auditoria relativa, às atividades contábeis, financeiras e o estoque das agências filiais instaladas na Bahia. Era norma da companhia enviar, para os locais onde tinha filial, pessoal qualificado da matriz para desempenhar esse trabalho. Posteriormente, o gerente recebia cópia do relatório e as determinações da Matriz concernentes às irregularidades a serem sanadas. Dependendo da gravidade do ocorrido, o gerente administrador era demitido.

Pois bem, Bonomo veio para a filial de Vitória da Conquista para esse objetivo. Hospedou-se no melhor hotel, no centro da cidade. Contudo, antes de iniciar os serviços, pegou um táxi e deu uma volta na urbe para conhecer os pontos turísticos – aventura e curiosidade de paulista ao visitar a Bahia.

A cidade fica a 923 metros de altitude, medidos nas escadarias da Igreja Matriz local. Assim, as pessoas ádvenas que têm problemas coronários não se sentem bem nessa localidade. Ocorreu que Bonomo, ao tomar o banho matutino, sentiu-se mal e veio a falecer. Saiu do banheiro completamente desnudo, agoniado a procura de socorro que não aconteceu, caindo morto no corredor do hotel. Uma morte súbita diagnosticada como enfarto do coração.

Cientificado do ocorrido pela direção do Hotel, o gerente da filial tomou as devidas providências e comunicou o fato à subdiretoria instalada na capital. O subdiretor responsável pela agência estava viajando, e o chefe de escritório que o representava mandou que providenciasse um enterro simples, sem maiores gastos.

Quando o gerente da filial de Conquista estava providenciando o enterro, conforme lhe fora determinado, com ajuda de alguns “chapas”, tendo em vista que o falecido não tinha parentes no lugar, surgiu, inesperadamente uma pessoa procurando pelo responsável pela agência.

 O homem se identificou como piloto do avião – ‘Comandante Santana’, acompanhado do seu copiloto, alegando que viera de São Paulo buscar o morto.

Após as explicações do gerente da filial, o comandante Santana, foi incisivo: “Vou levá-lo de qualquer maneira, custe o que custar. Providencie o embalsamamento!”. Foi um deus nos acuda.

 O gerente da filial diligenciou e solicitou ao médico legista que embalsamasse o corpo. O doutor se utilizou dos estudantes de medicina que estavam de férias na cidade, os quais providenciaram o serviço. Outra via-crúcis foi a autorização policial para o traslado (criam-se dificuldades para se obterem facilidades). Finalmente o corpo foi levado para a família na capital paulista.

Por bom senso, o chefe de escritório da agencia de Salvador deveria se comunicar com o subdiretor que estava ausente em viagem ou com a matriz em São Paulo, essa situação tão grave, entretanto, substituindo o titular, quis se colocar como autoridade. Na pretensão de prestar serviço, cometeu erro grave.  Foi negligente por não ter lido o telegrama de São Paulo, comunicando a vinda da aeronave para trasladar o defunto.

  Não atentou para o que determina a lei que reza ser necessário dar conta à família do morto que estava a serviço da firma, com as devidas explicações e laudo médico constando a causa do falecimento.

Houve oportunismo do hotel, que cobrou as roupas de cama, travesseiro, colchão e, ainda, fez retirar o corpo pelos fundos, para não constranger os hóspedes, uma indignidade preconceituosa inadmissível. O médico legista também cobrou os honorários além do valor normal.

A realidade é que não se escolhe lugar para se morrer, e a atitude da direção do hotel não foi justa. Há necessidade de se encarar a morte como uma coisa natural, e não com preconceitos desprovidos da realidade humanística, porquanto não se escolhe como, quando nem o lugar para se morrer.

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 745