O setor siderúrgico pode alcançar emissões líquidas zero até o início da década de 2040
por Agência Brasil 61
De acordo com o relatório intitulado “15 Insights on the Global Steel Transformation”, desenvolvido pelas empresas alemãs Agora Industry e Wuppertal Institute for Climate, Environment and Energy, prevê-se que o setor siderúrgico alcance emissões líquidas zero até o início da década de 2040. O estudo, realizado na Alemanha, Austrália e Brasil, recomenda que países exportadores de ferro, como o Brasil, em vez de focarem apenas na exportação de hidrogênio verde (H2V), devem se preparar para investir em “hidrogênio incorporado” na forma de ferro e aço verdes.
Nesse sentido, a implantação do Hub de Hidrogênio Verde no Complexo do Pecém, no estado do Ceará, trará benefícios significativos, especialmente para a usina siderúrgica local. A ArcelorMittal adquiriu a Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) com esse objetivo em mente, indicando que já existe tecnologia nesse sentido. Em um evento recente na Alemanha, executivos locais já discutiram a produção sustentável de aço. Globalmente, o mercado está se movendo para substituir as tecnologias de produção de aço, confirmando essa projeção. No entanto, são necessários investimentos substanciais, da ordem de 3 bilhões de euros por ano, como observado pelo especialista em energias renováveis, Jurandir Picanço.
O estudo também alerta que nove siderúrgicas que ainda dependem do carvão podem enfrentar alto risco de perda de ativos e de aprisionamento de carbono. Para evitar esse colapso, é necessário aumentar a eficiência no uso de materiais, aumentar a reciclagem, produzir aço com base em H2V, explorar a bioenergia e adotar abordagens de captura e armazenamento de carbono. O relatório destaca ainda que o comércio de ferro verde pode reduzir os custos da transformação global do aço, sendo vantajoso tanto para exportadores quanto para importadores, já que o transporte de “hidrogênio incorporado” seria economicamente mais viável do que o transporte de hidrogênio e seus derivados por navio. Para os importadores, o ferro verde pode aumentar a competitividade da produção de aço com baixa emissão de carbono, ajudando a manter os empregos locais no setor siderúrgico.
Shigueo Watanabe Júnior, analista do ClimaInfo para o setor de energia, avalia que o estudo traz ideias excelentes e números promissores, mas sua implementação enfrenta o desafio dos altos investimentos necessários. Ele destaca que as siderúrgicas brasileiras não possuem recursos abundantes, o que limita a capacidade de investimento. No entanto, o Brasil tem potencial para transferência de tecnologia e capacidade de produção de hidrogênio verde. O principal obstáculo é o financiamento para essa transformação. Watanabe acrescenta que o governo poderia investir em projetos desse tipo, mas há questões mais urgentes e prioritárias no país. A transformação completa ocorrerá quando o aço produzido com carvão se tornar mais caro do que o aço produzido com H2V, mas isso pode levar algum tempo.
A concretização dessa realidade dependerá de países como Estados Unidos, China e Austrália, que são os maiores consumidores de aço do mundo. É crucial que o preço do aço convencional aumente o suficiente para tornar o investimento em outras alternativas mais atraente. Não é possível prever quando isso acontecerá, mas é importante mobilizar as pessoas e conscientizá-las sobre essa realidade e o que é possível fazer.
Jurandir Picanço ressalta que não levará muito tempo para que os países estabeleçam barreiras comerciais em relação ao alto teor de carbono, o que está alinhado com as demandas globais atuais de sustentabilidade e transição energética. Na União Europeia, essas barreiras já existem, o que significa que os produtos precisarão ser cada vez mais sustentáveis. Caso contrário, serão impostas tarifas elevadas. Portanto, é uma tendência real. No Ceará, o foco está na produção de hidrogênio verde para exportação, mas no futuro, todos os produtos serão verdes em sua totalidade, pois a região possui abundante energia para a produção.