Em entrevista ao Brasil61.com, presidente do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), Esteves Colnago, fala da possibilidade de o Brasil se tornar um dos players mundiais do minério essencial na fabricação de fertilizantes
Por: Luciano Marques/Agência Brasil 61
A entrevista desta semana do Brasil61.com é com Esteves Colnago, diretor-presidente do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), vinculado ao Ministério de Minas e Energia. Colnago fala sobre os planos do Brasil para diminuir a dependência de importação do potássio, peça chave na agricultura nacional.
Colnago também fala sobre a possibilidade de mineração em terras indígenas, o que pode transformar o Brasil em uma das maiores potências mundiais do minério, e sobre a importância de se discutir o assunto, que é estratégico para a economia nacional.
Confira a entrevista:
Levantamento da Agência Nacional de Mineração (ANM) mostra que o potencial brasileiro em potássio seria de 2,9 bilhões de toneladas, mas só produzimos 550 mil toneladas por ano. Essa necessidade por uma produção maior do minério, que inclusive rendeu no Plano Nacional de Fertilizantes, surgiu agora, com a crise dos fertilizantes ocasionada pela guerra entre Ucrânia e Rússia, que é um dos maiores fornecedores do Brasil, ou é uma questão que já está no radar há mais tempo?
Esteves Colnago, presidente do CPRM
“O que está acontecendo não é resultado de um trabalho que fizemos agora. O Serviço Geológico do Brasil tem permanente atenção no que diz respeito à busca de minerais estratégicos para o País. Aquilo que está sendo veiculado agora no que diz respeito ao potássio é resultado de um trabalho que vem de anos atrás. Nos últimos tempos conseguimos uma intensificação na busca do fertilizantes na Amazônia, porque já tínhamos evidências disso. Como estamos com trabalho intensificado na busca por fosfatos.”
A exploração do potássio na Amazônia esbarra na questão da proibição de se minerar em terras indígenas, algo que aliás será discutido este mês no Congresso Nacional. Muitas entidades são contra a mudança da lei. É possível aproveitar essa enorme jazida na Amazônia e, ao mesmo tempo, preservar o meio ambiente? Outros países que mineram o potássio também enfrentam problemas semelhantes?
Esteves Colnago: “O que existe no momento é uma sequência de mal entendimentos de como o processo pode se desenrolar, mas estamos com a consciência tranquila de vão se encontrar alternativas para viabilizar a exploração desses recursos naturais que o Brasil tem e que estão hoje em reservas que são protegidas de explorações minerais. Não estaremos inventando a roda. Hoje, países como Canadá e Austrália, que também têm situações de ocupações indígenas em seus territórios, exercem mineração sem nenhum problema, articulados e conversando com as comunidades indígenas”.
Segundo dados da Agência Nacional de Mineração, Sergipe, Amazonas, Minas Gerais e São Paulo possuem as principais jazidas de potássio. Além dessa reserva na região amazônica, onde a exploração é polêmica, é possível encontrar outras fontes desse minério tão importante para a agricultura? E com essas novas fontes, o Brasil deixa de ser dependente de importação para se tornar uma potência no setor?
Esteves Colnago: “Nós temos um foco muito grande nessa área de fertilizante. E estamos indo também para nossa costa, para o mar, lá também existem reservas importantes de fertilizantes. Estamos focando também na costa brasileira para poder identificar oportunidades de fertilizantes. Nós queremos nos tornar um player. Nós temos a oportunidade. O nosso trabalho é buscar isso”.
A crise dos fertilizantes abriu toda essa discussão em torno da necessidade de o Brasil aproveitar melhor a produção interna de potássio. Todas essas discussões, mesmo que algumas polêmicas, como a exploração em terras indígenas, trazem algum benefício para a mineração nacional?Esteves Colnago: “O debate sobre o assunto está abrindo o olho da sociedade para isso. A sociedade está começando a entender. É uma movimentação da sociedade em função da situação que está hoje colocada. A dependência do Brasil da importação de fertilizantes gerou um debate nacional e está mobilizando a sociedade. A sociedade brasileira tem de participar ativamente desse processo, mas não é fácil”.