No conceito convencional, a bateria funciona a partir de uma reação química que produz uma corrente elétrica. A nova tecnologia muda esse padrão, já que usa campos elétricos controlados e armadilhas de elétron
Por Brasil 61
Com apoio do programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) da Fapesp, um projeto brasileiro criado pelo inventor Charles Adriano Duvoisin busca desenvolver uma bateria de longo prazo — capaz de durar até cem anos, contra os 10 a 12 anos de vida útil máxima das baterias tradicionais. O pesquisador conta que foi necessário repensar todos os aspectos da bateria. “Tivemos de avaliar desde os materiais utilizados até o design do sistema de armazenamento de energia, pois a durabilidade não é apenas uma questão de eficiência, mas também de segurança e de impacto ambiental”. O pesquisador tem como sócio Fernando de Mendonça, um cientista centenário que foi um dos fundadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Segundo o pesquisador, o novo componente não é apenas mais uma bateria, uma vez que ele aborda, ainda, aspectos como segurança, durabilidade e eficiência energética. Além disso, a resistência a vazamento de radiofrequência e a capacidade de operar em condições extremas são aspectos cruciais do projeto. “Essas características são particularmente importantes para aplicações no setor aeroespacial, onde as baterias precisam suportar condições de temperatura extremas e ainda assim funcionar com alta confiabilidade. Com a nova tecnologia, é possível garantir a segurança e a estabilidade das baterias em ambientes de alto risco, como satélites e sistemas de comunicação espacial”.
No conceito convencional, a bateria funciona a partir de uma reação química que produz uma corrente elétrica. A nova tecnologia muda esse padrão, já que usa campos elétricos controlados e armadilhas de elétrons. “É uma ideia brasileira inovadora que possibilita que qualquer bateria produza mais corrente elétrica com a inversão dos campos elétricos direcionados. Isso permite frear o fluxo de íons e criar um sistema de gerenciamento de segurança”. Adriano comenta que a primeira bateria do mundo em que se tem o controle total da própria bateria. “A partir da prova teórica, a previsão é que ela tenha vida útil de cem anos”, detalha. “Precisamos considerar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Uma bateria que resista cem anos representa menos lixo, mais sustentabilidade e mais economia”.
O conceito permite controlar o fluxo de íons por meio de armadilhas de elétrons e pode ser aplicado a qualquer tipo de bateria: das usadas em relógios inteligentes e smartphones às destinadas à aviação e à indústria naval, por exemplo. “E ainda tem a vantagem de o controle do fluxo de íons garantir mais segurança. O conceito funciona para opções de lítio, de chumbo, de sódio ou qualquer outra”. Segundo o pesquisador, o principal desafio é o custo, uma vez que o componente seria 10% a 30% mais caro do que as opções convencionais. Para Duvoisin, entretanto, é possível que os consumidores vejam essa diferença como um investimento a longo prazo. “Embora o preço inicial seja mais elevado, a durabilidade da bateria é um fator decisivo: com vida útil de cem anos, o consumidor economiza ao não precisar substituí-la com frequência. Isso representa uma economia significativa ao longo do tempo”. À medida que a tecnologia for mais difundida, o custo deve cair, mas o componente deve encontrar a concorrência dos que dominam o mercado de baterias. “Eles têm mais recursos financeiros e infraestrutura já consolidada. Mesmo assim, a vantagem competitiva da tecnologia, com foco na durabilidade e na sustentabilidade, é um grande diferencial”
A bateria proposta por Duvoisin é mais eficiente e também busca minimizar impactos ambientais, uma exigência crescente tanto dos consumidores quanto dos reguladores. As baterias convencionais, especialmente as de íons de lítio, provocam grande impacto ambiental durante a produção e no momento do descarte. O projeto foi premiado pelo Instituto General Motors e os cientistas já têm dois artigos científicos de alto impacto publicados. “Uma das nossas prioridades é garantir que a bateria seja sustentável em todas as fases de vida. Estamos desenvolvendo formas de minimizar os resíduos e garantir que os materiais usados sejam recicláveis”, conta. “Isso é fundamental não apenas para atender às exigências do mercado, mas também para contribuir com um futuro mais sustentável”.
O projeto começou como pesquisa acadêmica, mas Duvoisin sempre teve a intenção de tornar a tecnologia comercial. Para isso, parcerias com grandes empresas e instituições são fundamentais: o pesquisador já negocia com companhias tanto para validar o conceito como para ampliar as possibilidades de aplicação da tecnologia em diferentes setores. A colaboração permite que o projeto seja validado e testado em condições reais de mercado. Em seis meses, Duvoisin espera ter novidades sobre os investidores e os próximos passos do desenvolvimento da tecnologia. “Estamos em uma fase crucial do projeto e, nos próximos meses, esperamos ter mais avanços nos testes e nas parcerias. Com o apoio certo, o projeto pode alcançar sucesso global. O mundo está pronto para uma bateria mais eficiente, mais segura e mais sustentável, e estamos prontos para liderar essa mudança”. Segundo o inventor, a ideia é oferecer uma solução flexível o suficiente para atender a diferentes necessidades e que, ao mesmo tempo, seja sustentável e acessível.
Imagem: Divulgação/ PIPE – FAPESP