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Brumado: Manifesto assinado por médicos contratados pela Prefeitura defende uso de medicamentos sem eficácia comprovada para prevenção da Covid-19

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Por Redação (redacao@jornaldosudoeste.com)

Coincidentemente, quatro dias após a repercussão negativa da defesa feita publicamente pelo prefeito Eduardo Lima Vasconcelos (PSB), do uso do vermífugo Ivermectina para prevenção da Covid-19, contrariando cientistas, infectologistas e o próprio fabricante (Laboratório Merkel), que insistem que além de não haver comprovação de eficácia, haveria riscos à saúde dos pacientes e ao controle da pandemia, uma “Carta aberta à população” subscrita por quinze médicos, a maioria deles contratados pela Secretaria Municipal de Brumado, distribuído na tarde da sexta-feira (19), através de aplicativo de mensagens, pelo titular da Secretaria Municipal de Saúde, farmacêutico Cláudio Soares Feres, advoga a utilização do tratamento precoce contra a doença, que inclui a prescrição, entre outras drogas, do vermífugo Ivermectina, além de avançar na defesa do gestor, embora não o citando nominalmente.

Na “Carta aberta à população”, os quinze profissionais da Saúde não citam qualquer estudo cientifico para embasar a defesa do uso do “tratamento precoce”, mas fazem referência a um Protocolo do Ministério da Saúde, divulgado através da plataforma “tratecovbrasil.saude.gov.br” (já retirado do sistema do Ministério),  que foi condenado por autoridades sanitárias, inclusive pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que recomendaram sua revogação, e é alvo de uma investigação do Ministério Público Federal, cuja inserção no rol de recomendações atendeu unicamente à decisão do presidente da República, Jair Bolsonaro (Sem Partido), para fazer uma defesa enfática, nas entrelinhas, do prefeito Eduardo Lima Vasconcelos.

Ainda na defesa do gestor, embora não o tenham citado, os médicos ressaltam, na “Carta”, inclusive, uma suposta ameaça à democracia, ao pontuar o direito do paciente e dos profissionais de Saúde de opinarem e escolherem o tratamento a ser seguido. “(…) A democracia do paciente em ter o direito de opinar e decidir pelo próprio tratamento. A democracia do médico ter o direito de escolher e informar a melhor conduta terapêutica ao seu paciente e, com sua anuência e permissão, prescrever as medicações que achar convenientes. Essa democracia está ameaçada por quem almeja cercear esses direitos”, destacam os profissionais de Saúde na “Carta aberta à população”.

De forma mais explicita, ao tutelar o prefeito que foi criticado pela defesa do uso do fármaco que não tem eficácia comprovada no combate à doença, os médicos subscritores da “Carta”, questionam o motivo pelo qual o gestor deveria ser criminalizado por analisar uma Estratégia de Saúde Pública que afirmam estaria amparada em Protocolos do Ministério da Saúde. Nesse ponto, por conveniência, os profissionais demonstram desconhecimento de que a inclusão destes procedimentos [tratamento com medicamentos não aprovados pela ciência] tem sido reiteradamente condenados por cientistas e entidades médicas do país, além de estar sendo alvo de uma investigação do Ministério Público Federal. Segundo os quinze médicos que subscrevem a “Carta aberta à população”, a defesa feita pelo prefeito do uso do vermífugo Ivermectina estaria fundamentada em experiências positivas observadas nos últimos doze meses e legitimada por médicos de diversas especialidades, sem, no entanto, apontar que experiências teriam reconhecimento cientifico e nomear os profissionais, além deles, evidentemente, que estariam defendendo o uso do fármaco. “Quanto ao gestor, que crime comete ao anunciar uma Estratégia de Saúde Pública amparada por Protocolos do próprio Ministério da Saúde?  Embasada em uma série de experiências positivas observadas ao longo desses meses de pandemia?  Amparada e legitimada por médicos de diversas especialidades, que se debruçaram voluntariamente sobre o tema, estudaram a fisiopatogenia da doença e encontraram formas de minimizar a gravidade dos acometimentos sistêmicos, evitando internamentos, agravo à saúde e tentando salvar vidas?”, pontuaram os médicos brumadenses.

Na “Carta aberta à população”, os quinze profissionais de Saúde sublinham a defesa de alternativas para o combate à pandemia e cobram da sociedade “bom senso e respeito à dignidade humana”, que no entendimento dos subscritores, estariam na “mesma vala onde são enterrados os corpos dos desvalidos que morreram à míngua, negligenciados, sem alguma oportunidade de tratamento ou consolo”. Nesse ponto, a manifestação dos quinze médicos que assinam a “Carta”, resvala no desconhecimento ou na má fé intelectual, ao ignorar que “os desvalidos que morrem à mingua, negligenciados, sem alguma oportunidade de tratamento ou consolo”, são vítimas da desídia de gestores públicos na formulação de políticas públicas consequentes que exigem a correta destinação de investimentos na área da Saúde Pública.

Tutores de procedimentos que não tem aval da ciência, os quinze médicos que subscrevem a “Carta aberta à população”, não destinaram uma linha sequer para cobrar respeito do poder público brumadense em relação a adoção de procedimentos que são preconizados pela Organização Mundial da Saúde, infectologistas de todo o mundo e, inclusive, nos momentos de lucidez, por gestores encastelados no Ministério da Saúde, além, mais grave ainda, de não se solidarizar com profissionais de Saúde que tem sido vítimas do personalismo e da perseguição política, como se o sucateamento da estrutura funcional por razões inconfessáveis não devesse estar sendo contabilizada como fator para o agravamento da crise pandêmica no município.

 

Médico reforça defesa do tratamento precoce, nega que tenham sido pressionados, mas admite que secretário participou da elaboração da “Carta aberta à população”

Por Redação (redacao@jornaldosudoeste.com)

Porta voz dos subscritores do “Carta aberta à população”, o Coordenador do Centro de Atendimento a Covid de Brumado, médico Danilo de Sousa Menezes, ouvido pela reportagem do JS, por telefone, no final da tarde da sexta-feira (19), não apontou o motivo pelo qual somente agora, um ano depois do início da pandemia e após haver a defesa do procedimento pelo gestor municipal, teria havido a necessidade dos profissionais de Saúde, a maioria deles contratados pela Prefeitura Municipal de Brumado, vir a público para defender o tratamento precoce da doença (Covid-19).

Ressaltou, no entanto, que numa pandemia, no momento de caos no Sistema de Saúde, os médicos podem e devem usar de tratamentos que não tenham evidências cientificas, mas que podem contribuir para que não haja progressão da doença. Lembrou que o mais importante é que o médico tenha autonomia para conversar com o paciente, detalhar o tratamento, que pode prevenir e apontar os eventuais efeitos colaterais que pode causar. “Temos feito isso, desde o começo, sempre no início dos sintomas, na fase inicial ou de replicação viral da doença, entre o primeiro e o quinto dia”, disse, acrescentando que respeita as posições contrárias, mas que seguirá defendendo, assim como os outros profissionais que subscrevem a “Carta aberta à população”, o que acredita ser uma alternativa, principalmente diante do número de casos e de óbitos pela doença no município.

A reação contrária da sociedade ao tratamento precoce, com drogas que não tem a eficácia cientificamente comprovada, no entendimento do médico Danilo de Souza Menezes, se deve à alguns fatores. Citou dois: “A preocupação da sociedade apenas em criticar e da ‘grande mídia’ que não tem dado espaço para que o tratamento precoce, com uso de medicamentos que não tem eficácia comprovada pela ciência, seja aceito pela população”.

Médico Danilo de Souza Mendes (Foto: Divulgação).

O médico Danilo Mendes voltou a reforçar o entendimento da liberdade do profissional, com a participação do paciente, de definir a melhor estratégia para enfrentamento de uma doença que continua desafiando cientistas e médicos em todo mundo. “O momento exige que a gente faça o tratamento conforme o que temos de evidências disponíveis. Essa é uma doença que não tem precedentes e, nesse sentido, temos de lançar mão de todos os medicamentos disponíveis, para salvar vidas”, ponderou, sublinhando que também não há consenso com a ciência em outras patologias. “Por isso devemos fazer uso de medidas e medicamentos disponíveis que poderão ajudar, como estão ajudando, no enfrentamento à Covid-19”, apontou.

Questionado, o médico fez questão de deixar claro que os signatários da “Carta aberta à população” não estão incentivando a automedicação, mas afirmando que o tratamento precoce, com as drogas que ainda não estão cientificamente aprovadas, tem sido eficaz em alguns casos para evitar novos internamentos e mortes. Segundo ele, mesmo sem ter dados disponíveis para apresentar, essa escolha tem diminuído o número de internações, reduzido a sobrecarga do Sistema Hospitalar, prevenido complicações pós-infecção e reduzido o número de óbitos. Mas enfatizou que esses medicamentos devam ser, necessariamente, usados com prescrição e acompanhamento médico.

O médico evitou comentar sobre a exoneração de uma profissional [Enfermeira Iana Daiane Farias da Silva], com currículo invejável, ocorrido na segunda-feira (16), supostamente por perseguição política, uma vez que teria, nas eleições municipais de 2020, apoiado o candidato, hoje vereador, Amarildo Bonfim Oliveira (PSB), ex-aliado que caiu em desgraça com o prefeito por ter votado contra matérias encaminhadas pelo gestor à Câmara Municipal, entre as quais a que reduziria o período de licença maternidade das servidoras municipais, obrigaria alunos a permanecer até às 17h nas Escolas de Tempo Integral e instituía a cobrança de Imposto Predial e Territorial Urbano nos Distritos e Povoados da zona rural.

A enfermeira, que respondia pela Coordenação de Enfermagem do Hospital Municipal Professor José Maria de Magalhães Neto, teria sido a segunda vítima da retaliação do prefeito Eduardo Lima Vasconcelos (PSB) ao ex-aliado. A primeira foi a esposa do edil, exonerada 24 horas após a votação da Coordenadoria da Divisão de Administração e Recursos Humanos do Hospital Municipal Professor José Maria de Magalhães Neto.

“Não posso comentar sobre essa questão (exoneração da enfermeira) por não ter conhecimento. Apenas entendo que é preciso ouvir as duas versões”, disse o médico Danilo Mendes, sugerindo que a versão que tem sido divulgada pode não ser verdadeira e que a Administração Municipal possa ter tido outras razões para efetivar o ato. Novamente saindo em defesa da Administração Municipal, o médico Danilo de Souza Mendes acentuou que o Governo Municipal tem investido na contratação de médicos, enfermeiras e técnicos de Enfermagem, além da aquisição de equipamentos, insumos e medicamentos. “Não há redução do quadro (de profissionais), pelo contrário, estamos com mais médicos, enfermeiras e técnicos de Enfermagem sendo incorporados às equipes. Há, ainda, um esforço, diante da demanda, para aquisição de medicamentos e insumos, que na medida do possível nos dá tranquilidade para cumprir nossa missão”, pontuou.

Questionado sobre a participação do secretário municipal de Saúde, Cláudio Soares Feres, na iniciativa e elaboração da “Carta”, o médico Danilo de Sousa Mendes até tergiversou, mas acabou revelando que não teria havido a participação direta, mas que “todos da equipe (da Secretaria Municipal de Saúde)” teriam contribuído”. “Somos um time, compartilhamos as responsabilidades, estamos juntos na tristeza, nos momentos de anunciar a familiares o óbito de um paciente, mas também nas alegrias, nos momentos bons e nas realizações”, ponderou, insistindo que independentemente da participação ou não do secretário Cláudio Feres, o importante era que a imprensa divulgasse a importância da relação médico-paciente, para prescrição do tratamento precoce para salvar vidas e evitar o colapso do Sistema de Saúde.

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