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Caism (Hospital da Mulher) oferece assistência pioneira para mulheres com alto risco de câncer ginecológico e mamário

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Pacientes são encaminhadas pela rede pública da Região Metropolitana de Campinas

 

Por  Isabel Gardenal/Unicamp Notícias

 

O Hospital da Mulher – Caism está oferecendo assistência de modo pioneiro a um grupo particular de mulheres da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Elas são saudáveis mas podem ter em sua genética alto risco para câncer ginecológico e mamário. Essas mulheres estão sendo atendidas preventivamente no Ambulatório de Alto Risco para Câncer de Mama e de Ovários, que investiga uma provável mutação genética para essas doenças.

Segundo César Cabello dos Santos, professor do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas e coordenador da Área de Mastologia da Divisão de Oncologia, esse é um atendimento diferenciado, visto que o hospital somente recebe casos de maior complexidade, de nível terciário. “Nesta situação, porém, também estamos atuando na atenção primária e secundária, pelo grande risco de vida à mulher, inclusive para aquela que está aparentemente bem.”

De acordo com ele, essas mulheres já vêm ao ambulatório com algum antecedente familiar para câncer de mama de primeiro grau, na pré-menopausa, ou seja, mães, irmãs ou filhas com histórico desses cânceres antes dos 50 anos. “Cerca de 40% dos casos novos do câncer de mama atendidos pelo Caism ocorrem abaixo dessa idade, fenômeno típico de um país em desenvolvimento como o Brasil.”

O mastologista do Caism César Cabello – Foto Néder Piagentini/unicamp Notícias

Se a mãe teve câncer de mama jovem, a filha já pode ser inserida nesse ambulatório, onde são atendidas situações de maior gravidade ainda: da avó com câncer de mama aos 45 anos, da mãe aos 40 e da irmã aos 30. Estas combinações têm aumentado o risco dessas doenças, conforme César Cabello.

Por isso, as mulheres com antecedente familiar de alto risco devem passar por abordagem minuciosa, que inclui, por exemplo, visitas mais frequentes ao mastologista e ginecologista. Elas necessitam de um maior acompanhamento e de receber orientações sobre rastreamento, anticoncepção, reposição hormonal. “Muitas não são mães e, por essa causa, é preciso discutir a preservação da sua fertilidade e, quando é esse o caso, avaliar quais os métodos contraceptivos mais seguros, isso porque nem todas podem ingerir pílula ou tomar hormônios”, explica o médico.

Se o risco é muito alto (acima de 40%), elas são orientadas quanto às mastectomias bilaterais redutoras de risco, com retirada da mama; e as salpingooforectomias redutoras de risco, com retirada dos ovários (ooforectomia) e da trompa de Falópio (laqueadura). Essas cirurgias redutoras de risco são chamadas popularmente de mastectomias e salpingooforectomias profiláticas.

Exames
As pacientes que chegam ao ambulatório são rastreadas através de diagnóstico por imagem. Ocorre que os programas de rastreamento atuais praticamente se restringem à mamografia e ao ultrassom no Sistema Único de Saúde (SUS). A ressonância magnética das mamas é indicada quando existe risco para câncer de mama acima de 20%.

“O programa de prevenção que integra essas três ferramentas produz um impacto muito positivo na saúde”, esclarece o mastologista. “Ainda que não sejam capazes de desvendar o câncer em 100% dos casos, diminuem o risco de morte em 90% deles. E isso tem gerado curiosidade tanto na comunidade científica como na população.”

Para Cabello, mamografia, ultrassom e ressonância magnética de mama podem ser, no entanto, insuficientes e só são usados por um período até que se opte pela cirurgia. No caso das mastectomias, como elas são invasivas, no Caism recomenda-se a reconstrução com próteses adequadas a cada paciente e com as melhores técnicas de cirurgia plástica (oncoplastia).

O docente também realça que, com o incremento dos testes genéticos, de fato seria possível selecionar hoje quais mulheres com antecedente familiar seriam beneficiadas pela cirurgia. Mas estes testes não integram o rol de exames permitidos pelo SUS.

Por conta disso, o Caism está buscando nesse momento recursos para que os testes genéticos sejam uma realidade no hospital, posto que contribuiriam para identificar quem tem altíssimo risco para esses cânceres. A captação está sendo tentada através de projetos de pesquisa, de contribuições do terceiro setor, de parcerias público-privadas, etc.

“Quando encontramos um gene associado a um alto risco na mulher saudável, a forma correta de avaliar isso é estudar a mãe, a irmã ou a filha com a patologia, achando nelas também a mutação. A pessoa saudável, com menos de 50 anos, que tem a mutação possui um risco altíssimo e tem indicação cirúrgica”, sublinha.

Reabilitação
Outra etapa do atendimento a essas mulheres envolve a reabilitação, feita de forma multidisciplinar (por profissionais da enfermagem, psicologia, fisioterapia, médicos e cirurgiões de oncoplastia). Faz-se um planejamento do que é melhor para a paciente e para a sua qualidade de vida, contando também com sua participação na tomada de decisões.

Um grande desafio para o SUS é conseguir particularizar o rastreamento e a abordagem a essas mulheres, pois a estimativa é de 59 mil casos novos de câncer de mama no Brasil em 2018, informa Cabello. Mesmo essas técnicas sendo pouco difundidas no serviço público, a expectativa é de que as mulheres deixem de morrer por essa causa na RMC, assinala o mastologista.

De acordo com ele, mesmo com alguma dificuldade, o hospital tem procurado se adaptar à realidade da população. Boa parte das mulheres com câncer de ovário na juventude, e com tumores da linhagem epitelial, tem uma chance alta de terem alterações genéticas e alto risco também para câncer de mama.

O principal fator de risco para câncer de ovário, menciona, é o antecedente familiar. “Há mulheres com famílias que têm câncer de mama e ovário, câncer de mama e intestino, câncer de mama e tireoide, cujas interligações são importantes e classificam as que realmente têm alto risco”, diz.

Ambulatório
Cabello comenta que esse ambulatório do Caism possui uma demanda interna de pacientes. “Muitos parentes imediatos de mulheres que investigamos, sobre possível câncer de mama, são convocados. Mas também recebemos mulheres encaminhadas pela rede pública.”

Com isso, o hospital vive um sério problema: o tratamento é dispendioso e o espaço para tratá-las é limitado. “A limitação é física e humana. Certamente gostaríamos de ampliar o nosso ambulatório, entretanto já vivemos o problema de cuidar dos casos confirmados de câncer”, esclarece.

Mas o médico acredita que, com mais recursos, será possível expandir o atendimento. “Este é um serviço universitário no qual temos alunos, residentes, médicos, pós-graduandos e outros profissionais da saúde. Trabalhando juntos com a ideia de buscar os casos de alto risco, poderemos certamente diminuir a mortalidade pela doença.”

Por outro lado, a conscientização quanto ao alto risco para câncer, opina ele, deve ser feita entre as mulheres, entre as pacientes e entre quem atende essa população. “Esse conceito é fundamental e, dentro das nossas possibilidades, tentamos fazer um bom trabalho com esse grupo e temos feito escola nesse assunto”, afirma.

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