Por: Câmara Municipal de Vitória da Conquista
Foi realizada na manhã desta quarta-feira, 23, no Memorial Câmara, uma Sessão Especial em homenagem ao Dia da Consciência Negra, instituída pela Câmara de Vereadores por meio da Lei Regimental N° 002/2008. A sessão tem por finalidade discutir a problemática da discriminação racial e homenagear pessoas que se destacam no trabalho realizado pela comunidade negra e combate ao racismo. Neste ano, a Câmara homenageou Vera Oliveira Dias, a lavadeira Maria Tânia Venâncio Sampaio e Vanessa Lopes da Silva.
Ninguém nasce odiando uma pessoa pela cor – O presidente do Legislativo, Luís Carlos Dudé (MDB), abriu a sessão relembrando que a Câmara foi construída a muitas mãos e é fruto do empenho de muitas mulheres e homens negros. “Hoje é um dia importante para relembrar que ninguém nasce odiando uma pessoa pela cor da sua pele. Essa é uma construção social errada que precisa ser modificada”, salientou.
Dudé destacou que a sessão tem como finalidade provocar reflexões sobre a igualdade entre as pessoas. Ele lamentou a morte recente de artistas brasileiros renomados como o cantor e compositor Erasmo Carlos. “Ao longo destes últimos dias, a arte, a cultura e a música brasileiras tem tido momentos de muita tristeza, com a perda de tantos músicos renomados”, disse. Dudé lembrou ainda diversas personalidades conquistenses como Dona Dió do Acarajé, Padre José Carlos da Conceição e Zé Pequeno. Por fim, o presidente da Casa cobrou projetos e ações voltadas para a igualdade racial.
Linguagem do amor – Antes de realizar a ramunha, Pai Rhude de Oxum saudou os presentes na Casa e disse que a religião de matriz africana não promove ódio, divisão e disputas por verdades, e sim promove o amor. Segundo o religioso, não existem dois ou quatro deuses, trata-se de linguagens diferentes para acessar a única verdade do plano superior. “Jesus Cristo nos ensinou que há muitas moradas na casa do meu Pai e a religião africana, preservada no Brasil, é uma dessas linguagens”, afirmou.
Em seu discurso, o Pai Rhude falou sobre a importância de buscar o diálogo entre as religiões, para que não ocorra intolerância religiosa, porque é necessário aprender a respeitar e entender que o outro não é um inimigo. Enquanto fazia a ramunha, o religioso explicou o motivo de rezar com a água. Para ele, esse elemento representa o que esfria quando tudo está muito quente, traz calmaria e concórdia. Durante a reza, Pai Rhude pediu harmonia para Vitória da Conquista e o fim do ódio.
Liberdade conquistada, não concedida – O vereador Alexandre Xandó (PT) trouxe reflexões sobre o racismo no Brasil, enfatizando que ele se baseia nas marcas do corpo (cor de pele e cabelo). Xandó ressaltou a importância do protagonismo da população negra em espaços de poder como o da Câmara Municipal. Nesse sentido, parabenizou o presidente da Câmara, Luís Carlos Dudé (MDB), pela condução desses debates no Legislativo Municipal. Xandó apresentou os homenageados e explicou como se deu a escolha. Assim, homenageou as lavadeiras, o Beco de Dôla – quilombo urbano conquistense, e a juventude negra que se expressa por meio da arte e do esporte.
Na perspectiva de ampliar esse debate com outros segmentos da sociedade, Xandó destacou o diálogo inter-religioso, enfatizando movimentos que ocorrem dentro das igrejas católica e evangélicas. “Essas pessoas são antagônicas ao ódio. Elas querem amar, tem muito amor para dar e isso é motivo de muita alegria”, declarou. Xandó destacou também a Marcha dos Quilombolas, que denunciou o abandono e as principais demandas dessas comunidades. Ele encerrou sua participação propondo mudanças no regimento interno da Câmara Municipal, que define regras na vestimenta das pessoas que precisam acessar o Legislativo.
Quilombos fazem parte da história do Brasil – Nobélia Alves Rocha Mota afirmou que é bom “ter um espaço como esse para dizer que estamos na luta e precisamos do apoio de todos”. Ela falou da luta das comunidades quilombolas e explicou que são parte fundamental do Brasil. A representante das 32 comunidades quilombolas conquistenses disse que essas pessoas querem fazer parte das decisões públicas e pediu o apoio da Câmara. Ela ainda ressaltou que os quilombos estão de portas abertas para o diálogo com a Casa. Ao final, ressaltou que, quando necessário, vão ocupar os espaços como Prefeitura, Câmara e ruas na luta por direitos.
Marujada Mirim – Roque Antônio Gonçalves Santos (Bilolô), da Marujada Mirim, contou um pouco da sua trajetória desde os tempos da banda Abadaba até o seu trabalho com a banda Marujada Mirim. “Hoje atendemos cerca de 50 crianças no projeto, realizando diversas atividades”, disse. Ele frisou a importância do acolhimento para o desenvolvimento do projeto e lamentou. “Não atendo mais (crianças) porque não tenho espaço suficiente para recebê-las”, falou. Bilolô ressaltou que “mesmo assim não desisto. Enquanto eu tiver vida estarei lutando por essas crianças”. Ele também exaltou a comunidade onde reside, o bairro Pedrinhas.
É importante união independente da religião – O pastor Natalício Amorim Oliveira defendeu o respeito entre as religiões e falou sobre o seu trabalho nas comunidades do bairro Vila América. “Cada um aqui tem a sua fé e nós temos que respeitar a fé do nosso próximo. Nós estamos à frente da igreja no bairro Vila América e trabalhamos com jovens, mulheres e homens negros que enfrentam muitas dificuldades sociais. Diariamente eu recebo jovens que estão nas drogas, homossexuais que veem à minha casa e a gente acolhe essas pessoas, pois o papel da Igreja é esse”, contou. Ele ainda frisou: “como pastor negro, representando igrejas pequenas, sei que precisamos quebrar essa doença que é o racismo”. O pastor finalizou reforçando que “independente da religião, é importante a união entre as pessoas para fortalecimento das minorias”. Ele pediu o apoio dos vereadores e atuação em toda a cidade.
Conquista precisa aprovar 20 de novembro como feriado – Rosilene Santana, conhecida como Mãe Rosa, criticou as vestes consideradas apropriadas para entrar no prédio da Casa Legislativa, porque muitas pessoas da periferia não têm essas roupas e são impedidas de entrar num lugar que seria para combater as desigualdades. De acordo com a religiosa, a Bahia é o estado mais negro do Brasil e somente três cidades do estado têm o dia 20 de novembro como feriado. Em contraponto, todas possuem feriados católicos. “Cadê o mandato laico? o país laico?”, questiona.
Mãe Rosa, que fundou o primeiro terreiro de candomblé do Vila América, falou sobre a importância dessa região também ser rodeada por igrejas evangélicas e pela capela da Irmã Dulce. Ela convidou os vereadores a conhecer o bairro. Durante o discurso, a religiosa pediu que Conquista comemore o feriado do dia 20 de novembro com distribuição de comida africana e baiana para a população. Ainda pediu mais investimento do Executivo Municipal. “Somos a única religião que dá comida de graça diariamente. Nós precisamos de emenda para isso. Não queremos emenda para fazer festa, porque isso a gente sabe fazer. Queremos para o nosso povo”, afirmou.
Combate ao racismo deve ser cotidiano – Padre Zenilton Dias dos Santos, mais conhecido como Monginho, leu um poema exaltando a cor negra. Ele afirmou que cristão devem ser promotores da paz e relatou o movimento negro na Igreja, que vem de uma jornada de luta e resistência. Monginho dirige a Paróquia Santa Dulce dos Pobres. O padre falou de expressões racistas que são usadas cotidianamente e alertou para a necessidade de uma educação também cotidiana para combater o racismo. Em sua fala, destacou o Dicionário de expressões (anti) racistas, lançado pela Defensoria Pública do Estado da Bahia em 2021.
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Nada nos foi dado de graça – O Coordenador Municipal de Promoção da Igualdade Racial, Ricardo Alves, destacou os processos históricos que culminaram em importantes avanços na representatividade e elaboração de políticas públicas que alcançam o povo negro no Brasil. “Nada nos foi dado de graça, foi resultado de muita luta”, destacou.
Ricardo foi nomeado recentemente para o cargo que ocupa na Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social. Ele defende que as políticas públicas que já foram criadas não podem pertencer apenas a um grupo político partidário. “Estamos falando de processos sociais e não podemos nos apropriar dessas políticas públicas como sendo somente nossas. Esse movimento vai sendo construído ao longo da nossa história”, declarou. Ricardo ainda destacou os impactos da Covid-19, que evidenciaram ainda mais os contrastes do país, que insistem em penalizar a população negra.
Segundo Ricardo, as chuvas que castigaram Vitória da Conquista penalizaram muito mais as comunidades quilombolas locais. Ele apresentou políticas intersetoriais que estão sendo discutidas para comunidades quilombolas, como na área da saúde. “Comunidade quilombola é prioridade, não podemos confundir essas comunidades como sendo comunidades de Zona Rural”, lembrou. Ricardo encerrou sua participação reivindicando alinhamento das relações institucionais. “Se não for assim, quem sofrerá são as pessoas que aguardam por nossos entendimentos. Estamos lutando para ter, em breve, uma Secretaria de Promoção e Igualdade Racial aqui na cidade. O governo está passando por uma reestruturação e estamos ouvindo aqueles que mais precisam, pois são nossa prioridade”, finalizou.
Homenagens do Dia da Consciência Negra
HOMENAGEADA: Everaldina Oliveira Dias
HOMENAGEADA: Everaldina Oliveira Dias
HOMENAGEADA: Maria Tânia Venâncio Sampaio
HOMENAGEADA: Maria Tânia Venâncio Sampaio
HOMENAGEADA: Vanessa Lopes da Silva – Nessyta Lopes
HOMENAGEADA: Vanessa Lopes da Silva – Nessyta Lopes
Fotos: Divulgação