Ela ia andando daquele jeito que você só anda quando está indo para sua própria casa.
Sabe como é, né?
Não precisa consultar nada nem ninguém, simplesmente anda.
Vai seguindo em frente sem nem olhar para os lados, afinal, conhece tudo tão bem.
Olhar detalhes para quê?
Até que entra em uma loja e precisa, para a compra de um determinado produto, preencher um cadastro.
“Senhora, por favor, nesse espaço coloque o seu endereço.”
A moça, que até então era a mais segura de todas, de um minuto para o outro, passa a ter o olhar mais inseguro de todos.
Fica parada com a caneta na mão olhando para a parede.
“Moça, está tudo bem? É só colocar aqui o seu endereço.”
Depois de algum tempo:
– Não faço ideia de onde eu moro.
A atendente se assusta:
“Como assim, minha senhora? Está perdida?”
– Não! Eu sei sim onde vivo, só não faço ideia do meu endereço.
“Infelizmente, senhora, sem o preenchimento desse cadastro com o endereço, eu não posso realizar a venda. Esse produto tem a venda controlada, preciso apresentar ao fornecedor o endereço de cada um que comprou ou não consigo comprar mais dele.”
Ela tentou discutir, convencer de que precisava daquele produto de qualquer jeito ainda naquele dia, mas não sabia, não fazia ideia de qual seria seu endereço.
Como se mudara para a cidade há pouco tempo, ainda estava se acostumando, decorando o logradouro.
Não teve quem convencesse a vendedora.
Ela saiu da loja cabisbaixa e seguiu o seu caminho.
Foi quando se deu conta de que algumas coisas eram verdade:
Não sabia contar às pessoas onde morava;
Não fazia a menor ideia de qual o CEP de sua casa;
Quadra, lote, prédio e torre eram para ela fatores completamente desconhecidos.
Mas uma coisa era certa:
Ela sabia muito bem para onde estava indo e não tinha a menor dúvida de como chegar.
Ao lembrar-se de tudo isso, abriu um sorriso e continuou o seu caminho, sem o negócio de que precisava, mas satisfeita pela certeza de saber aonde ia.