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Choro livre

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Chorar, todo mundo chora.

Nem vem porque até mesmo o mais ogro dos ogros, numa hora ou outra, não resiste e desagua, chora.

E chorar, vamos combinar, chorar lava a alma, limpa o coração, faz a gente ficar leve e não feliz assim no ato, é claro, mas menos triste um pouquinho.

Uma das coisas inconvenientes de ser adulto é não poder chorar a hora em que a gente quer.

Não poder, quando o chefe briga, quando batem no seu carro, ou pior, quando a realidade da vida vem e esfrega decepção bem no seu nariz, simplesmente sentar e chorar.

Parece, por convenção social, ser isso proibido.

As pessoas sentem-se constrangidas, é incômodo, inconveniente.

Quem está por perto, ou quem sabe metido na cena que fez o bezerro desmamado abrir a boca, fica sem saber o que fazer. Passa também a não saber como se comportar.

Por isso, porque as pessoas querem solução em vez de soluço, adultos não choram em público e passam a vida engolindo lágrimas, disfarçando o que sentem, sendo fortes e tendo gastrite.

Algumas vezes, nessa luta que é segurar o que se sente, as lágrimas decidem simplesmente descer, sem pedir licença.

E aí, quando se vê que não há o que fazer, que as lágrimas que não deveriam vir já estão e a moça no meio da briga com o namorado simplesmente solta:

“Faz de conta que eu não estou chorando.”

Pobrezinha.

As lágrimas faziam parte de seus argumentos, mas ela, por achar que não devia, solicita formalmente ser ignorada.

E é.

Acho esse jeito de lidar com o choro simplesmente lamentável.

Acredito, piamente, que quem chora quando quer libera o que vai no coração ao em vez de engolir o que sente não infarta, vive mais, dá mais certo.

Quanto a mim, que sou famosa pelas lágrimas que não consigo controlar, choro e choro mesmo. Choro muito, choro sempre.

De alegria, de tristeza, de emoção…

Qualquer motivo é motivo.

Agora, que já me assumi assim, cerco-me dos lenços do mundo e quando vem a vontade, deixo que vire água.
 

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