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Cirurgia de Lula: entenda como funciona procedimento médico para tratar hematomas cerebrais

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Presidente foi operado após dores de cabeça decorrentes de queda que sofreu em outubro. Segundo boletim médico, Lula está bem e continua sendo monitorado na UTI de hospital em São Paulo

Por Poliana Casemiro, Luiza Tenente, g1

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou por uma cirurgia de emergência para a drenagem de um hematoma. A cirurgia ocorreu em São Paulo nesta terça-feira (10).

Segundo os médicos, a lesão identificada em Lula é decorrente de uma queda que ele sofreu em outubro, em um banheiro de sua residência oficial. Na ocasião, o presidente bateu a região da nuca e levou cinco pontos.

Após apresentar dores de cabeça nos últimos dias, ele procurou ajuda médica e fez exames, que constataram um sangramento entre o cérebro e a membrana meninge (que reveste o órgão). Segundo o hospital Sírio Libanês, Lula foi submetido a um procedimento chamado trepanação.

Sangramento x cicatrização

Segundo os médicos, o que houve com Lula é uma consequência de um problema na cicatrização após a queda. Em traumas como o que o presidente sofreu, existem duas possibilidades:

  • Na primeira delas, a lesão causada pela pancada cicatriza sem necessidade de intervenção, mesmo com um pequeno hematoma.
  • Na segunda, durante a cicatrização, o sangue na região forma uma camada mais grossa, que pode se expandir e levar ao rompimento de vasos.

“Às vezes tem um sangramento mais abrupto. Quando tem um sangramento mais abrupto, ele expande rápido, aí o cérebro não se adapta e aparece o sintoma. É o que aconteceu”, explicou o médico Rogério Tuma, da equipe de atendimento de Lula durante coletiva.

Na segunda-feira, depois de se queixar de dor de cabeça, os médicos fizeram novos exames em Lula e identificaram o problema na cicatrização. Segundo eles, o hematoma media três centímetros.

O que é um hematoma cerebral?

O hematoma é resultado de uma hemorragia, ou seja, de um sangramento que acontece na parte interna ou externa do crânio.

Segundo a equipe médica de Lula, apesar de o ferimento na queda ser na nuca, a hemorragia identificada no presidente estava na parte frontal do crânio.

A hemorragia identificada é do tipo frontoparietal, que fica entre o lobo frontal e parietal. O lobo frontal é o responsável pelos movimentos voluntários do corpo, a linguagem e o gerenciamento das habilidades cognitivas. Já o lobo parietal faz a integração das informações sensoriais, como toque, temperatura e dor.

Mas por que o sangramento aconteceu mais de um mês depois do acidente?

“Esse tipo de hematoma, que é decorrente de um trauma, pode acontecer algum tempo depois da queda”, explica Gisele Sampaio, neurologista e professora da Unifesp.

Felipe Barros, neurologista da Clínica DFV Neuro, afirma que o sangramento pode nem aparecer nos primeiros exames ou até ser diagnosticado no início, mas ainda de forma discreta. Em ambos os casos, é só depois que ele aumenta, como uma “torneira que ficou um tempo gotejando”.

“Esses problemas de coagulação podem acontecer com qualquer pessoa, especialmente em idosos”, diz.

Em geral, nesses casos, os pacientes apresentam dores de cabeça, tontura e confusão mental. No caso de Lula, segundo as informações oficiais, ele teve apenas dores de cabeça.

Qual foi o procedimento feito por Lula?

No boletim médico divulgado na última madrugada, o Hospital Sírio Libanês, onde Lula está internado, informou que o presidente havia passado por uma craniotomia. No procedimento, é feita a retirada uma parte do crânio para acessar a área atingida pela hemorragia e drenar o sangue.

No entanto, na coletiva feita pela equipe médica na manhã desta terça-feira (10), os médicos esclareceram que Lula, na verdade, foi submetido a uma trepanação.

Nesse caso, em vez de haver a retirada de parte do osso do crânio, são feitas discretas perfurações para “sugar” o sangue do hematoma.

“Nos casos mais simples, a hemorragia é tratada com pequenas perfurações, em que são colocados drenos para a retirada do sangue”, explica a neurologista Gisele Sampaio.

Depois, não é feita qualquer intervenção para a cicatrização, porque ela acontece com o tempo, de forma natural.

Como é a recuperação?

Segundo a especialista, é possível que ocorra uma recuperação plena em pouco tempo após esse tipo de cirurgia.

Na coletiva de imprensa, os médicos de Lula informaram que o presidente está bem, não teve lesões cerebrais com o sangramento e não enfrenta riscos. A previsão é que ele tenha alta na próxima semana.

O médico Mauro Suzuki explicou que, geralmente, a cicatrização desse tipo de cirurgia acontece sozinha e não é necessária uma nova cirurgia depois. “Geralmente, há uma cicatrização espontânea dessa abertura, sem necessidade de nenhuma outra intervenção futura pra fechamento, algo relativamente comum em neurocirurgia”, disse.

Qual a diferença entre AVC e um hematoma cerebral?

Segundo Barros, da Clínica DFV Neuro, hematoma é o sangue “contido”. “Em geral, é um diagnóstico que vem com um ‘sobrenome’: os mais comuns, após traumas na cabeça, são o hematoma subdural e o hematoma extradural”, diz.

Ele explica que é como se o cérebro fosse embrulhado para presente, em uma embalagem chamada meninge. Se o sangramento acontecer embaixo do “embrulho”, vai ser subdural; se for em cima, extradural.

Já os acidentes vasculares cerebrais (AVC) são relacionados aos vasos sanguíneos de dentro do cérebro. Há dois tipos:

  • Isquêmico: um vaso entope, impedindo o fluxo de sangue;
  • Hemorrágico: um caso é rompido, como se um “cano estourasse”.

No caso do AVC hemorrágico, há também a formação de um hematoma – a diferença é que é intracerebral. Apesar de a causa mais comum ser a pressão arterial alta, o quadro também pode estar associado a quedas ou choques na cabeça.

Foto: Ton Molina/Fotoarena/Estadão Conteúdo

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 744