Enquanto o Supremo Tribunal Federal mergulha na dosimetria das penas para a quadrilha política, comandada pelo PT da antessala da Presidência da República e condenada pelos mais diversos crimes relacionados ao nauseabundo escândalo do Mensalão no governo Lula da Silva, ao que indicam as pesquisas, os paulistanos pretendem lhes dar voto de clemência. A absolvição aos petistas pode sair das urnas de São Paulo, o maior contingente eleitoral do país, no próximo domingo.
O clima de “já ganhou” é tão expressivo na campanha de Haddad que a cúpula dos partidos aliados, confortavelmente adaptados ao estilo apaniguador dos petistas na administração pública, já está em guerra por fatias de poder na prefeitura de São Paulo. Também querem provar que o eleitor é um tremendo desinformado, quase imbecil, que não se afeta, por ignorância idiomática, às taxativas falas da Suprema Corte para condenar os “profanadores da República”, a “nova espécie de máfia italiana”, o “projeto de poder de uma quadrilha travestida de agremiação partidária”. Talvez seja latinório intangível à parca educação brasileira e não renda o esperado efeito profilático nas urnas de 2012.
O jornal Folha de S. Paulo, em matéria assinada pelos repórteres Bernardo Mello Franco e Cátia Seabra na última quinta-feira, dia 25 de outubro, revela os flancos de batalha por cargos numa suposta administração de Fernando Haddad. Não por acaso, os jornalistas apuraram que o PP do deputado Paulo Maluf cobiça a secretaria de Habitação, já que tal pasta deve movimentar bilhões em recursos públicos do programa federal “Minha Casa, Minha Vida” nos próximos anos. O motivo do desejo pela pauta é mais que óbvio. É excrescente.
Quando o ex-presidente Lula da Silva topou participar daquele espetáculo grotesco, apertando a mão de seu irmão siamês caçado pela Interpol, em troca de apoio à candidatura de seu novo “poste”, todos acreditavam que o ato espúrio era apenas uma vingança histórica de Maluf, contra aquele que outrora o chamava de bandido, e uma forma do deputado do PP abocanhar uma secretaria nacional no ministério das Cidades, conhecido reduto de drenagem de dinheiro público. Mas a real fatura malufista só chegará após as eleições, caso Haddad seja consagrado prefeito. A secretaria municipal de Habitação faz parte desses dividendos de Lula.
No campo adversário, essa mesma arrogância ajudou a derreter a candidatura de José Serra, que tratorou o tucanato para ter seu nome chancelado, com garantia de vitória. Seria a oportunidade do PSDB vingar a derrota sofrida nas urnas presidenciais de 2010, quando Lula conseguiu eleger seu primeiro “poste”. Enquanto Serra curte seu ocaso, o ex-presidente segue iluminando a avenida política. “Com os resultados animadores, a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) passou a semana comentando no Palácio do Planalto, entre risos, que o PT vai instituir prévias para ‘Poste de Lula’”, afirmou a coluna Panorama Político, de O Globo.
No entanto, a eleição paulistana não é apenas berço para clemência de mensaleiros. Ela também será redentora e está permitindo novos voos de fênix ao duplamente defenestrado ex-ministro Antônio Palocci. Conforme informou a jornalista Natuza Nery, com exclusividade e no laço da notícia, Palocci voltou a participar de reuniões sigilosas com Lula e a presidente Dilma Rousseff na sede do Banco do Brasil, onde fica o escritório da Presidência da República em São Paulo. Qual assunto? O provável governo de Fernando Haddad na capital paulista e a participação do ex-ministro petista, violador de sigilos e milionário consultor, nessa administração.
Como diz a máxima do matuto, São Paulo está num mato sem cachorro! Com uma sociedade refém da hipocrisia de uma anacrônica e enorme ala conservadora, que paradoxalmente rechaça inovações e alternativas políticas no nascedouro, mas faz piada eleitoral concedendo mandatos a palhaços de circo e celebrities duvidosas, não é de admirar que os paulistanos estejam dispostos a protagonizar um revigorante perdão aos mensaleiros. Três tempos dinâmicos na vida política brasileira: poderio saqueador no governo federal; condenação pesada, e supostamente profilática, no STF; e ascensão legítima em São Paulo. Mais escatológico, impossível.