“Uma coisa é uma coisa. Outra coisa é outra coisa.”
– Como assim?
“Não tem como misturar tudo. Tem coisa que é separada uma da outra e pronto.”
– Do que você está falando?
“Ué, que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.”
– Essa profundidade eu já compreendi. Já vi que hoje você amanheceu querendo filosofar. Só não entendi ainda o que, sobre o quê.
“É que o povo fica falando que uma coisa é outra coisa e que outra coisa é uma coisa, aí eu fico bravo.”
Respira fundo, estica a coluna:
– Você bebeu alguma coisa?
“Bebi sim.”
-Talvez isso explique. Bebeu o quê?
“Água.”
– E tinha o que nessa água?
“Ué, essas coisas que tem nessa água aí da geladeira.”
– Quer dizer que bebeu água pura?
“Foi.”
-Então tá, continue.
“Então, aquela Menina chegou aqui em casa hoje dizendo isso, eu quase morri.”
– Dizendo o quê?
“Que uma coisa é outra coisa e que outra coisa é uma coisa.”
-E você? Respondeu o que a ela?
“Que não! Que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.”
-Ela aceitou?
“Nada, ficou um tempão querendo me convencer de que eu estou errado, mas eu não deixei.”
A ideia de entender sobre o que Ele falava já não mais existia.
-Que bom que você é firme. Muito bem.
“No fim, foi embora convencida.”
Surgiu aí um lampejo de esperança em descobrir do que se tratava o assunto:
-Foi mesmo? Ela foi embora convencida do quê?
“De que água, essa água que sai da torneira é água e que gelo, aquele gelo que a gente coloca dentro do suco, é gelo e não tem nada a ver com água.”
– Mas gelo é – desistiu – gelo, né?
“É. Água é água e gelo é gelo. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.”
Falou todo satisfeito por ter convencido mais uma sobre sua descoberta.