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Com exportações em alta, Brasil não corre risco de desabastecimento de carnes, garantem especialistas

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Tendência global de falta de produtos, queda nas exportações e empobrecimento da população não deve ser vista no país, segundo fontes ouvidas pela reportagem

 

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Um documento publicado na última semana pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) mostrou que, com a pandemia causada pelo novo coronavírus, a tendência é que haja um empobrecimento geral da média da população global e medo de desabastecimento e de queda nas exportações brasileiras.

O estudo “A pandemia da Covid-19 e as perspectivas para o setor agrícola brasileiro no comércio internacional” é uma resposta de 23 especialistas com profundo conhecimento no setor, chamados adidos agrícolas. Os adidos responderam a três questionamentos do Mapa, que envolviam as perspectivas para o setor agrícola, a demanda do mundo por alimentos e a retomada da economia em um cenário pós-covid-19.

Em análise feita pelo Centro de Inteligência da Carne (CiCarnes) da Embrapa, “o livre comércio favorece a diversidade e o menor custo na alimentação, por alocação eficiente de recursos globais. A resolução desta tensão se dará por meio de um comércio internacional ainda mais ‘administrado’, em que governos ajustarão tarifas e barreiras, caso a caso, entre o temor do desabastecimento e a conveniência da produção nacional.”

O assessor técnico da Comissão Nacional de Bovinocultura de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Ricardo Nissen, acredita que o Brasil não sofrerá com desabastecimento de produtos, especialmente no mercado de carnes. “Temos uma produção muito grande de carne bovina e de aves”, justifica.

O que pode gerar preocupação, segundo ele, são plantas no mercado interno que fecharam nesse período de pandemia para segurar a produção. “A gente tem um cenário em que o consumidor vem buscando menos carne bovina, que é uma proteína animal de alto valor agregado. Mas a partir do momento em que a demanda estimular novamente e tiver sinais de demandas fortes, com certeza essas plantas voltarão a operar e colocar produtos no mercado interno”, avalia Nissen.

Já o pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) Thiago Bernardino acredita que é importante olhar esse mercado de cortes de carne a partir da oferta e da procura. “Em relação à oferta, o Brasil já vem com uma oferta restrita desde o final de 2019. A falta de animal de reposição resultou em picos de preço esse ano em São Paulo, por exemplo. Então, a gente já vem com uma produção menor devido a preços menores ao longo de 2018 e primeiro semestre de 2019”, recorda.

“A gente tem uma demanda muito forte da China. O país se tornou nosso maior comprador de agosto para setembro, mas em outubro comprou muita carne, o que resultou em preços altos da arroba. A China começa o ano pressionada por uma retração da economia local, antes da covid-19, e reduz um pouco as compras no primeiro trimestre, voltando a comprar muita carne em abril”, esclarece.

Para Bernardino, o mercado externo atual é favorável ao Brasil. “Isso somado a problemas na Austrália, a relação da China com os Estados Unidos e infecção por dentro de unidades produtoras de produção de carne bovina por covid-19. Ainda temos a Peste Suína Africana na China, que motiva mais compra de carne suína no Brasil, além do câmbio desvalorizado, favorável no mercado internacional em termos de vantagens comparativas”, elenca o pesquisador do Cepea.

A demanda interna desse mercado poderia ser um ponto forte neste ano, de acordo com Thiago Bernardino, mas devido ao cenário de pandemia e à queda na renda, a retração no setor é natural. “Se o PIB cai de 5% a 10%, a gente tem uma retração natural. A demanda de carne bovina cai em torno de 4% a 5%. É um impacto muito grande e é isso que vai ditar os próximos meses pós-covid-19 no mercado de pecuária”, projeta.

Arte: Sabrine Cruz/ Agência do Rádio Mais.

Diversificação 
Outro fator citado como importante para o Brasil nesse cenário durante e pós-pandemia é a necessidade de diversificação de alimentos e de destinos para exportação. Ricardo Nissen, da CNA, defende que a prática pode ampliar o faturamento.

“Isso já ocorreu diversas vezes em outros mercados, como na suinocultura, que já foi muito dependente da Rússia. Mas a tendência é buscar essa diversificação de mercados e de produtos, para que o Brasil consiga exportar dianteiro, trazer industrializados, processados e in natura para ter grande margem de produtos e sofrer menos impacto”, explica Nissen.

Para o setor privado nacional, segundo o estudo, haverá também necessidade de adaptação às futuras demandas. De acordo com os dados coletados, o mercado precisa estar preparado para pautas como novo estilo de alimentação, embalagens menores e mais sustentáveis, alimentos orgânicos e funcionais e sistema eletrônico de entrega de alimentos.

Foto de Capa: Arquivo CNA.

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