Por Redação
As relações entre entes federativos e agentes políticos, nos três níveis do poder, estão cada dia mais difíceis, principalmente em razão das visões antagônicas em relação às expectativas de crescimento da curva de contágio e aos procedimentos que devem ser adotados no combate ao Covid-19. Na Bahia, por exemplo, sem estrutura física e com quadro de pessoal especializado reduzido, prefeitos de pequenos municípios do interior do Estado convivem diuturnamente com o fantasma de uma eventual contaminação em grande escala da população e tem buscado viabilizar junto aos Governos Federal e do Estado recursos financeiros e materiais que possam, numa emergência, assegurar que ofereçam minimamente assistência à seus munícipes. E parecem, contrariando as propagandas oficiais, não estar merecendo a atenção que o grave momento experimentado pela Saúde Pública no país exige.
Na quarta-feira (08), o prefeito de Licínio de Almeida, médico Frederico – Dr. Fred – Vasconcellos Ferreira (PCdoB), que tem se destacado pela serenidade e afabilidade, inclusive no trato com adversários políticos, elevou o tom e foi incisivo ao denunciar o que chamou desrespeito do Governo do Estado com o município que administra, como de resto, com os gestores do interior baiano.
O prefeito usou seu perfil nas redes sociais para desabafar e refletir a indignação que toma conta, seguramente, de outros gestores municipais baianos.
Com uma dureza verbal pouco usual, pelo menos empregada publicamente, entre aliados – mesmo que a relação política esteja abalada, como é o caso do prefeito com o governador do Estado – Frederico Vasconcellos foi “curto e grosso” ao apontar, textualmente, que: “O Governo Estadual acha que nós do interior somos PALHAÇOS. Após sugerir abertura do comércio e volta das atividades cotidianas nos foi enviado 59 máscaras, 100 pares de luvas e 40 frasco de álcool etílico para combatermos a pandemia”.
O prefeito, com a autoridade e conhecimento da gravidade do problema que enfrenta por ser médico com atuação no Programa Saúde da Família, onde aprendeu a conviver com a alta demanda e alta incidência de casos complexos aliados à pouca estrutura que obrigam os profissionais a conviver não apenas com o atendimento clínico individual e preventivo, mas incorporar a esses procedimentos aspectos emocionais, familiares e sociais, portanto, conhecedor da realidade da Saúde Pública de municípios de pequeno e médio portes, como o que hoje administra, prosseguiu seu desabafo exigindo dos deputados comunistas Daniel Gomes de Almeida (federal) e Jean Fabrício Falcão (estadual), majoritariamente votados no município, um posicionamento firme em relação ao que chamou de “covardia” que teria sido patrocinada pelo Governo do Estado, através da Secretaria de Estado da Saúde da Bahia, contra a população liciniense.
Na postagem, o prefeito sublinhou que a população de Licínio de Almeida não quer “esmolas”, exige “respeito por parte do Governo Estadual”.
Concluindo o desabafo, Frederico Vasconcellos voltou a apelar à população liciniense para que não descuide do cumprimento das normas que estão sendo recomendadas pela Secretaria Municipal de Saúde, que estão em consonância com as preconizadas pela Organização Mundial da Saúde, pelo Ministério da Saúde e pela Secretaria de Estado da Saúde da Bahia, mantendo o isolamento social e evitando a circulação e aglomeração de pessoas, lembrando que “(população de Licínio de Almeida) estamos entregues à própria sorte”.
A repercussão da postagem do prefeito foi imediata. Frederico Vasconcellos, cinco horas depois, voltou às redes sociais para anunciar que acabara de receber um telefonema do secretário de Estado da Saúde da Bahia, Fábio Vilas Boas Pinto, se desculpando “pelo fato lamentável dos EPIs (Equipamento de Proteção Individuais) e fazendo o compromisso do envio de uma quantidade substancial em até 15 dias”.
O prefeito disse ter aproveitado para cobrar do secretário o aumento de vagas de Terapia Intensiva na região e que Fábio Vilas Boas Pinto teria anunciado a intenção do Governo do Estado, através da Secretaria de Estado da Saúde da Bahia, de disponibilizar mais vinte leitos de Unidade de Terapia Intensiva. Segundo Frederico Vasconcellos, o secretário apontou que os vinte leitos previstos deverão ser disponibilizados nas instalações da futura sede da Unidade de Alta Complexidade em Oncologia – Unacon (Hospital do Câncer), em Caetité.
O compromisso assumido pelo secretário, se confirmado, vai dobrar, antes mesmo da conclusão das obras de adequação da estrutura física onde será instalada a Unacon, a capacidade de leitos previstas para a Unidade, que no projeto original prevê uma Unidade de Terapia Intensiva com dez leitos.
O prefeito aproveitou para reforçar o entendimento da importância, neste momento de enfrentamento do Covid-19, da união de todos para oferecer tranquilidade para a sociedade e, reafirmou que “o respeito é uma das premissas da relação bilateral entre entes federativos”, para sublinhar que não vai transigir na defesa dos interesses de Licínio de Almeida, mas que saberá reconhecer e “agradecer quando as ajudas prometidas chegarem”.
Os deputados federal e estadual do PCdoB, respectivamente Daniel Gomes de Almeida e Jean Fabrício Falcão, cobrados pelo prefeito a se posicionar em defesa da população de Licínio de Almeida, onde foram majoritariamente votados em 2018, não se posicionaram oficialmente.OTO