redacao@jornaldosudoeste.com

Como as casas de farinha constroem identidades?

Publicado em

Por Ascom Uesb

 

Aipim, mandioca, macaxeira… Vários são os nomes que identificam uma das raízes mais populares no Brasil, especialmente na região Nordeste. A mandioca é matéria-prima de inúmeros produtos industriais e, claro, de diversos alimentos. Grande parte dessa produção acontece, ainda, de forma artesanal, por pequenos produtores nas casas de farinha – nome dado às pequenas fábricas que processam a raiz.

Mas, mais do que um local de fabricação de alimentos, as casas de farinha reforçam os laços de pertencimento e identidade das comunidades que enxergam a importância da produção de mandioca e dessas pequenas fábricas para suas vidas. Especialmente, quando se tratam de populações da zona rural.

Essa realidade chamou a atenção de Nádia Sousa. A então mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Uesb escolheu o tema para abordar em sua pesquisa, intitulada “‘Já torrei mei mundo de farinha nessa vida…’: lugar e memória social no saber fazer das casas de farinha no povoado de Boa Vista da Tapera, Encruzilhada – Bahia”. “A pesquisa teve o objetivo de analisar o significado da produção da farinha de mandioca no povoado em questão com o propósito de compreender a casa de farinha como elemento emblemático para a reprodução social e a configuração do lugar”, explicou a pesquisadora.

Segundo Sousa, os elementos apresentados ao longo da pesquisa e as evidências do significado da farinha de mandioca para os moradores locais demonstraram que há uma influência direta entre os alimentos tradicionais derivados da raiz na configuração do lugar e na constituição de traços identitários da cultura dos moradores locais. Nesse sentido, a professora Geisa Flores, orientadora da pesquisa, ressaltou que o trabalho estabelece uma aproximação instigante entre a memória social e o lugar, como categoria de análise da Geografia. “Com essa articulação teórica, a autora explora o significado da mandioca e das casas de farinha para os moradores do povoado de Boa Vista da Tapera e demonstra que a produção da mandioca no povoado está impregnada de experiências que os grupos mantêm com o espaço em que se inserem”, defendeu a docente.

Construção de identidades – Durante a pesquisa, Sousa buscou entender como foi construída essa relação. Para isso, ela se aprofundou no conhecimento sobre a produção de farinha, que é passada de geração em geração e explorou os utensílios utilizados nessa prática em diferentes épocas. Além disso, o estudo abordou os laços de afetividade que são construídos na prática da produção da farinha e a importância desse alimento tradicional para os moradores. “São produtos que marcam o dia a dia das famílias taperenses e permitem-nos afirmar que a produção artesanal da farinha de mandioca nesse povoado está associada às raízes do lugar e, portanto, ao sentimento de pertencimento”, contou a pesquisadora.

“Estamos no Nordeste e a pesquisa de Nádia demonstra a permanência da mandioca como hábito alimentar tradicional na identidade local”, completou a professora Geisa Flores. A docente reforçou, ainda, que pesquisas com essa temática podem contribuir para dar mais visibilidade ao trabalho realizado pelos agricultores e produtores de mandioca e suas iguarias, bem como para despertar o poder público para o reconhecimento da importância da raiz e das casas de farinha, principalmente, como importantes propulsoras de geração de emprego e renda.

Deixe um comentário