Em entrevista, escritor baiano Jefferson Silva explica analogia entre natureza e humanidade que guia a trama do lançamento “Sentinela”
Por: Maria Clara Menezes/Agência LC
Autor de Sentinela, livro com analogias profundas entre vaga-lumes e seres humanos, Jefferson Silva acredita que a escrita literária é uma forma de auxiliar pessoas no enfrentamento da vida. De acordo com ele, as palavras são ferramentas que mudam visões de mundo e, por isso, tornam-se objetos de revoluções pessoais.
Em entrevista, defende: “Algumas vezes, os dias são devoradores da nossa beleza, mas somos nós que decidimos o quanto isso irá ofuscar nossa clareza ou nos estimular a brilhar com braveza”. Por isso, em sua obra de ficção, traça paralelos entre os animais conhecidos por iluminar na escuridão e as pessoas que têm medo de encarar seus aspectos mais obscuros. Leia:
1 – “Sentinela” conta a história de um vaga-lume que tem o trabalho de iluminar a floresta durante a noite, em uma analogia ao enfrentamento de medos e inseguranças. Por que você escolheu um vaga-lume para representar uma história tão humana?
Jefferson Silva: Não sei bem se vaga-lumes têm sentimentos semelhantes aos nossos, contudo, quando eles brilham, evitam ser caçados por seus predadores, os morcegos. Acredito que isso seja uma grande lição para a humanidade, porque aquilo que tenta nos devorar é apenas um gatilho para que possamos brilhar. Algumas vezes, os dias, a rotina, as situações na vida são devoradores da nossa beleza, mas somos nós que decidimos o quanto isso irá ofuscar nossa clareza ou nos estimular a brilhar com braveza.
2 – Você afirma que a obra é uma maneira de as pessoas reconhecerem a si mesmas na história. Em sua visão, qual a importância de apresentar um livro que se conecta com dramas universais da humanidade?
J.S.: Livros devem encorajar as pessoas a lidarem com os próprios dramas, já que às vezes a vida parece estar contra nós. Mas as palavras penetram aos olhos, mudando a nossa visão de mundo. Antes de qualquer coisa nos aceitar a palavra nos aceita, e isso revoluciona tudo. Enquanto palavras puderem mudar o mundo, eu farei com elas canções em forma de história.
3 – Sua narrativa é bastante poética e, inclusive, utiliza palavras únicas, criadas por você. Como foi o processo de criação dessas palavras? Por que decidiu aumentar o vocabulário?
J.S.: A escrita em si flui muito. Eu tenho muitas coisas para contar e para escrever, e, quando estou a me expressar, a magia acontece. Por isso acredito no poder das palavras. Minha escrita reflete muito no que sou, e sou único, todos somos, minha autenticidade é notada com minha criatividade.
4 – Você se tornou escritor para encontrar uma maneira de confortar a si mesmo através da literatura. Escrever “Sentinela” também foi um processo de autoconhecimento? De que maneira?
J.S.: Sim, acredito que ler e também escrever nos auxilia no processo de autoconhecimento. Escrever é generosidade se as palavras foram usadas para acolher. Eu vivi o que muitos viveram. Por isso, tenho que partilhar minhas vivências e superações. Por isso, quero disseminar a literatura para o mundo ainda mais, disseminar “Sentinela”.
6 – “Sentinela” provoca muitas reflexões no leitor sobre a existência humana e a realidade que o cerca. O que mais você espera que as pessoas compreendam com a leitura do livro?
J.S.: A essência da natureza em nossas vidas, um dos motivos por escolher vaga-lumes como protagonistas da história, já que cada dia mais esses seres inofensivos estão entrando em extinção. Para onde irá o brilho natural enquanto nos acostumamos com o superficial?
Sobre o autor: Nascido em Salvador, na Bahia, Jefferson Silva Pinho de Jesus estudou em uma escola pública da capital e, ao se formar, optou por focar no design gráfico. Amante da área da saúde, tornou-se estudante de Farmácia. Concomitantemente a essa formação, envereda desde cedo no mundo artístico: fez cursos de canto, ganhou concursos de dança e escreve. É autor dos livros “O Homem Árvore”, “O Caminho e o Andarilho” e “Sentinela”.