Carro novo, casa nova ou reformada em breves intervalos de tempo, móveis modernos, roupas e sapatos compõem a lista de possibilidades que o mercado de consumo apresenta. Há uma possibilidade quase que infinita de itens. Compra-se um produto que é logo substituído por outro. Obtém-se uma satisfação que logo se desfaz para novamente refazer o desejo de algo novo. Nisso se cria um drama em quem não consegue colocar limites às compras.
O que percebemos é que há uma possibilidade nova despertando no coração das pessoas. Temos percebido, pelas experiências, que as pessoas são mais felizes quando não mergulham de cabeça no consumo, mas vão despertando para experiências novas. O dinheiro abre muitas possibilidades. A questão é decidir no que se quer investir e o que dá mais resultado para a realização humana. Comprar experiências tem se apresentado como uma alternativa inteligente para a felicidade pessoal. Fazer uma viagem, jantar num restaurante com amigos, escalar o desafio de uma montanha, passar o fim de semana em lugares interessantes com quem se ama, conhecer novas cidades e pontos turísticos e aprofundar o conhecimento histórico e cultural pode trazer muito mais realização do que comprar coisas.
A compra sempre diz para mim: “eu sou alguém que pode investir”, ou “eu sou alguém que sabe me vestir”, mas essa noção é muito passageira e logo pede outra coisa. A compra tem pouca força de durabilidade na satisfação. Logo vem outro modelo, outro produto, cor, tecnologia e a necessidade de consumo vai me perseguindo sem cessar. Seguir o ritmo do desenvolvimento deixa muitas pessoas ansiosas, sempre em busca da última novidade. Mostrar que comprou primeiro pode ser motivo de realização. Ocorre que esse jeito de viver mantém a vida presa ao que aparece e não faz a pessoa responder a indagações mais profundas de sua alma. A tendência do dinamismo do consumo é de repormos uma compra sempre com outra. É um mecanismo muito parecido com o vício.
Consumir menos e melhor pode ser uma forma de amenizar o impulso da compra de coisas, investindo em experiências mais duradouras, que me possibilita um retorno de memória, me fazendo sentir de novo a alegria daquilo que foi vivido. A experiência está mais ligada à profundidade do ser. Se um casal investe numa viagem aos lugares históricos sagrados, por exemplo, poderá se alimentar dessa experiência por muito tempo, uma vez que ela fica guardada na interioridade. A memória afetiva desse momento continuará alimentando a realização desse casal. Segundo o especialista em comportamento da Universidade de Cornell, nos EUA, Thomas Gilovich, “as experiências, ao contrário dos produtos, seguem em nossa memória e são revividas sempre que compartilhadas, expandindo nossa percepção de prazer e a de pessoas com quem as dividimos”. Um jovem empresário (Carlos Carnelllas, Rev. Época, 19 de janeiro de 2015) depois de passar por um acidente, decidiu fazer a experiência de escalar o Everest, maior monte do mundo. Vendeu alguns bens para fazer isso e a experiência fez com que ele percebesse a vida de um jeito diferente. “Nunca penso no que deixo de ter. A montanha me tornou alguém mais desapegado e feliz”. Além disso, segundo ele, “a noção de fragilidade que a montanha nos impõe é transformadora”. São atitudes como essa que vão ressignificando a vida e mostrando que há algo mais valioso do que mergulhar no dinamismo das compras.
As vivências de experiências, além de possibilitar um sentido mais duradouro, tem uma possibilidade de arrependimento muito menor. Quem compra muito facilmente se arrepende diante da possibilidade enorme de escolhas de produtos. Esse arrependimento pode ser longo e ser vivido sempre que nos deparamos com o produto comprado ou com a fatura no cartão de crédito. Aliado a isso, constata-se que há um arrependimento muito maior nas pessoas pelo que deixam de fazer do que por aquilo que experimentaram. Diante disso, vale nos perguntarmos qual será a nossa próxima experiência e não qual será nossa próxima compra.