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Compulsão pela leitura

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O promotor público tinha compulsão pela leitura.  Essa história foi-me   narrada por alguém que ouviu do seu pai, quando ainda era adolescente estudante universitário. O seu genitor observou: “nem tanto, nem tão pouco, o cidadão deve procurar permanecer no meio-termo. As pessoas hão de se comportar sem exageros.  A erudição, a ganância pelo saber, pela sapiência chega até o indivíduo com a necessária experiência profissional e pela leitura. Não havendo a necessidade da obstinação em devorar livros, em demasias para adquirir conhecimentos para o enriquecimento da intelectualidade”.

 “As roupas, os títulos, os cargos, a inteligência e a erudição são como folhas, flores e frutos que ficam pendurados nos galhos de uma árvore e, por serem transitórios, vão despencar a qualquer momento”

O promotor público, em questão, exerceu múnus em determinada cidade e se considerava um intelectual na acepção da palavra. Lia, e, às vezes, relia segundo o seu interesse, tudo que lhe caia às mãos. Sentenciava: “Se algo foi escrito e publicado é necessário que seja lido”.

Para o aprendizado não existe milagres é um processo temporal. Há de haver dedicação para obtenção dos resultados, contudo, não há de se tornar um fanático com extravagância de ideias e palavras estapafúrdias e estilo rebuscado denotando sapiência como ocorreu com o indigitado.

O vício obsessivo pela leitura do profissional era comentado pelo povo como um sujeito louco e obstinado pelo conhecimento. “O povo aumenta, mas não inventa”.   “Onde há fumaça há fogo”. O homem era considerado louco varrido, na opinião da população, pois lia em qualquer lugar.

Na realidade o profissional adquiriu grande saber jurídico e era possuidor de uma bagagem intelectiva de conhecimentos gerais. Carregava consigo o status de sábio.  Agia presunçosamente pelas suas qualidades de saberes. Defendia os valores éticos e morais, honradez e justiça, firmeza e coragem. Com esses valores decidia o seu julgamento. Ciente dessas qualidades, olhava os demais de cima para baixo com jactância. Era   autêntico no cargo que exercia.

Manifestava opinião favorável sobre si próprio com ares de afetação. Os que mantinham relações com ele o classificava de convencido, orgulhoso e vaidoso.

Certa vez, por cortesia ou bajulação, foi convidado por um provisionado para um almoço em sua casa, localizada em cidade vizinha. Os preparativos da suculenta refeição foram caprichosamente preparados para agradar o doutor promotor em reconhecimento de sua autoridade moral, caráter sem jaça, inquestionável intelectualidade.

O promotor deparou-se com a biblioteca do provisionado e teceu elogios pela qualidade das obras e dos livros ali contidos, pérola, em sua opinião de leitor. Teceu comentários sobre a importância dos livros para o desenvolvimento cognitivo do indivíduo.

Interessou-se por um exemplar e comunicou ao anfitrião que ia ao sanitário.  Diante do interesse pela leitura que lhe prendeu a atenção, permaneceu por tempo exagerado se esquecendo do compromisso.  Preocupado, o dono da casa, inferiu haver sucedido alguma coisa pelo tempo em que o doutor se encontrava no banheiro. Algo de errado aconteceu, imaginou.

Diante do ocorrido, resolveu bater na porta do banheiro e perguntar ao conviva se havia acontecido algum imprevisto. O convidado mandou o anfitrião esperar um pouco, pois estava por terminar o último capítulo do livro que estava lendo.

O membro do Ministério Público (promotor) tinha o habito de ler sentado no vaso sanitário, enquanto fazia as sus necessidade fisiológicas.  Essa atitude é incomum.

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