A noção de comunidade tem sofrido variações substantivas ao longo do tempo e do desenvolvimento técnico das civilizações ocidentais. O compartilhamento pode ser a moradia num bairro (onde muitas vezes o termo comunidade é eufemismo de favelas ou áreas pobres de uma cidade), o gosto musical e, hoje em dia, o pertencimento à mesma rede social na Internet. Há que esboçar o algo em comum que se espera dos membros de uma comunidade.
Estudos antropológicos referiam-se a comunidades camponesas, indígenas e quilombolas com mais frequência antes do êxodo rural. Em meados do século XX, o número de habitantes nas cidades da América Latina ultrapassou o dos que vivem no campo e, poucas décadas mais tarde, a percentagem da concentração urbana corresponde à maioria de sua população.
Algumas implicações são de que formaram-se comunidades distintas daquelas que se conheciam antes da concentração urbana. Nas cidades, há grupos de vizinhos que se reúnem para planejar ações de melhoria do prédio, da rua e do bairro. Há também comunidades religiosas que congregam os fiéis em torno de quermesses, festas juninas, procissões e outros eventos públicos.
As cidades contêm profusão de experiências comunitárias. Idosos reúnem-se para praticar atividades físicas, encontros recreativos tomam lugar nos clubes e bares, jovens convidam-se para cortar as quadras com skate e também fazem campeonatos em jogos eletrônicos.
Este é o ponto de maior inflexão do sentido de comunidade. Primeiro, as gerações atuais dos jovens das cidades têm sido protagonistas destas mudanças; segundo, o lugar onde elas ocorrem deixa de ser físico e passa a ser virtual, deixa frequentemente de ser pessoal e torna-se impessoal (onde há interação com pessoas desconhecidas ou das quais há poucas referências).
Comunidade, portanto, é estar juntos para compartilhar um espaço em que os agentes são quase anônimos. O encontro constitui, com efeito, uma relação próximo-distante em que a comunidade é o novo ambiente de uma necessidade da vida moderna. Seus membros só não são completamente anônimos porque, por exemplo, os jogadores de vários países identificam-se com apelidos enquanto se massacram num combate eletrônico pelo Playstation 3 ou X-Box 360.
Os jovens que crescem no meio eletrônico têm, por um lado, recursos que a geração anterior não imaginava (por exemplo “postar”, “twittar” e “blogar” entre seus amigos virtuais usando um computador na forma de tablete cuja bateria dura muitas horas). Por outro, a geração mais recente assume o senso de comunidade do próximo-distante e do anonimato como algo natural da sociedade em que cresce porque não a conheceu de outra forma.
O sentido de comunidade redesenha-se também pelo espaço de atuação, que é cada vez mais emaranhado em processos nacionais e transnacionais. Vídeos publicados no YouTube por usuários em qualquer lugar do mundo recebem milhares de acessos devido ao sentimento de comunidade ou de pertencimento que despertam.
Um viajante não rompe temporariamente seus laços afetivos na medida em que se comunica com parentes pelas redes sociais virtuais.
Habitantes da cidade, por vezes, usam o termo comunidade como se se tratasse daquilo que parou no tempo ou não se modernizou como nas capitais. Fazem tais referências, contudo, quando têm tempo para quebrar a rotina. Usam-se termos como pueblo no México, provincia na Argentina e interior no Brasil. Apesar das oposições que surgem entre rural e urbano, tradicional e moderno, local e global, analógico e digital, há muitas formas de estar juntos.