Até o século 18, a produção dependia basicamente do trabalho humano, que era, de longe, o fator mais importante na determinação das quantidades produzidas. Os bens de capital tinham uma contribuição relativamente menor e eram compostos por ferramentas manejadas pelo homem (foice, machado, martelo) e por máquinas movidas pela força de animais (carroças, arados), pela força da água (rodas, bombas, pilões) e pela força dos ventos (moinhos).
Porém, em 1712, Thomas Newcomen, inventor, ferreiro e mecânico inglês, usou energia do vapor para bombear água das minas próximas a sua casa, iniciando um movimento que mudou radicalmente o modo de produção de bens e serviços, o que hoje chamamos de “Revolução Industrial”. Nascia, assim, na Inglaterra, um novo conceito de “máquina industrial”, que é um bem de capital movido por energia não humana. Essa máquina foi impulsionada pelas grandes reservas de minério de ferro e de carvão mineral do país, que serviram como fonte de energia para as locomotivas a vapor e para as máquinas modernas.
O assombroso aumento da produção por hora trabalhada criou enormes possibilidades de ampliação do consumo e de aumento do bem-estar em escala nunca vista, e a importância do capital como fator decisivo para a produção e a produtividade dominou as teorias econômicas até meados do século 19. A nova realidade estimulou a busca por formas de identificar e medir a contribuição do capital (máquinas) ao processo produtivo e ao aumento da produtividade/hora do trabalho, tarefa que foi facilitada pela evolução dos métodos estatísticos e econométricos.
Até então, não se conhecia a contribuição da educação na determinação da produção e da produtividade. Coube ao economista Alfred Marshall surgir como um dos pioneiros no entendimento da contribuição quantitativa da educação na produção e no rendimento dos fatores (terra, trabalho e capital). Eduardo Gianetti, economista paulista, afirma que havia duas dificuldades para avaliar a “taxa de contribuição” da educação ao resultado da produtividade: uma é o fato de o “conhecimento” pessoal ser de natureza invisível; outra é o caráter de “intransferibilidade” da educação, no sentido de que o conhecimento de um indivíduo não pode ser comercializado e transferido a outrem, como é feito com qualquer bem ou serviço no mercado de trocas.
O conhecimento pode ser transmitido de uma pessoa a outra, mas não da forma que se dá com as mercadorias compradas e vendidas no mercado, em que o negócio é realizado e a tradição (entrega) feita no ato. Aliás, é nesse e só nesse sentido que a educação não é mercadoria: ou seja, ela é invisível e não passível de tradição imediata.
Com a evolução dos métodos econométricos e das técnicas de cálculo, foram realizados estudos que chegaram à conclusão de que a educação pode responder por até dois terços da produtividade do trabalho. Gary Becker, nos Estados Unidos, e Carlos Langoni, no Brasil, são economistas que se detiveram a estudar o papel do “capital humano” na produção e no resultado da produtividade, permitindo concluir que a educação chega, hoje, a ser mais importante do que o capital físico e as matérias-primas. Se isso é verdade, e parece que não há correntes discordantes, aí está mais uma das muitas razões que se podem elencar para transformar a educação em prioridade absoluta no país.
A educação pode ser definida como o ato de promover o desenvolvimento físico, intelectual e moral de um indivíduo, com o objetivo de integrá-lo à sociedade, por meio da transmissão de valores e conhecimentos acumulados, e seu papel vai muito além de questões econômicas. É ela que, ao lado da linguagem e da consciência, dá a nós, humanos, a verdadeira diferença em relação aos animais. A educação tem, ainda, a função de transformar-se em “tecnologia”, no sentido de levar à aplicação prática do conhecimento científico em processos utilizados para a solução de problemas do dia a dia, e nesse sentido ela se vincula diretamente com a produtividade e a melhoria do padrão de vida dos povos.