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Conversadeira criativa

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Durante toda a minha vida construí diálogos imaginários.

Lembro direitinho:  uma vez que limpei todo o quintal de casa “conversando” com o Tom Cruise. Ele estava tão apaixonado…

Com ele só me lembro dessa vez, mas como a conversa foi bem desenvolta, acredito que
tenhamos nos encontrado outras vezes, antes desse dia.

Aí você pode ver vantagem que nessa hora eu treinava meu inglês. Que nada, boba, ele que
treinava português.

Ai, Jesus, tenho que rir da minha cara!

Na época desse encontro, eu era bem adolescentezinha mesmo, então, ainda achava normal.

Assim, fazia isso desde sempre e acreditava que um dia passava.

Que um dia, quando me tornasse uma pessoa adulta, passaria.

E o tempo foi passando e eu fui conversando com mil e um.

Até que, num dia, conheci um moço pela internet.

Misericórdia! Aí, o trem ficou feio.

Era dia e noite conversando com ele, sem parar.

Cada cena que, se a Globo descobrisse, teria  me contratado.

Esse povo que a gente “acha” na Internet um dia se “materializa”, né?

E a ideia da materialização?

Menina do céu, tinha  diálogo, cenário, trilha sonora, uma luta.

Até que um dia…

Essa história de ensaiar as coisas sem avisar a todos os personagens envolvidos tem algumas
desvantagens.

Assim, porque a gente ensaia, passa a fala, dá a deixa para cada detalhe e tal e, na hora do
“Ação”, bem nessa hora, é um atropelo só.

Na hora do ação, a outra criatura com a qual você ensaiou, mas não combinou, faz de um jeito
que não estava no script, aí, nunca, nunca, nunquinha sai como o ensaiado.

No dia do encontro lá foi desse jeito, apesar de todo o meu ensaio saiu tudo trocado,
atropelado, truncado.

Tanto que desisti dessa história de ensaiar.

É certo que foi muito tempo depois, mas definitivamente desisti.

Perdia muito tempo, gastava muita energia e o resultado final não estava agradando.

Por isso, agora vou logo para a apresentação, sem ensaio, sem enrolação.

Vou lá, falo o que pensei, eu continuo pensando uma coisa ou outra antes, e deixo a fala do
outro ser surpresa.

Em vez de ensaiar a resposta, eu, agora, aprecio a surpresa.

Muito mais emocionante!

 

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 745