Mais de quatro mil quilombolas que vivem nos sete municípios da região, localizada no Vale São-Franciscano da Bahia, começaram o processo de imunização
A vacinação contra a Covid-19 chegou para os povos tradicionais quilombolas da região de Barra, no Vale São-Franciscano da Bahia. A microrregião é formada pelos municípios de Muquém do São Francisco, Xique Xique, Itaguaçu e outras quatro cidades, que juntas concentram mais de 8.800 pessoas autodeclaradas descendentes e remanescentes de escravizados, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A coordenadora do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde, Francieli Fantinato, explica a importância da vacina nos grupos prioritários. “As comunidades quilombolas são populações que vivem em situação de vulnerabilidade social. Elas têm um modo de vida coletivo, os territórios habitacionais podem ser de difícil acesso e muitas vezes existe a necessidade de percorrer longas distâncias para acessar os cuidados de saúde. Com isso, essa população se torna mais vulnerável à doença, podendo evoluir para complicações e óbito”.
De acordo com o IBGE, apenas o município de Morpará não possui quilombolas. Até o fechamento desta reportagem, 4.011 pessoas tomaram a primeira dose da vacina, e 548 receberam a dose reforço do imunizante, segundo o Ministério da Saúde.
Número de quilombolas vacinados com a primeira e a segunda dose na microrregião do Barra:
Município | 1ª Dose | 2ª Dose |
---|---|---|
Ibotirama | 89 | 71 |
Barra | 1080 | 32 |
Xique-Xique | 545 | 0 |
Buritirama | 76 | 65 |
Muquém do São Francisco | 1.248 | 378 |
Itaguaçu da Bahia | 973 | 2 |
*Dados do dia 24/06/2021
O município de Muqúem do São Francisco, a 700 quilômetros de Salvador, possui a maior população de comunidades tradicionais da microrregião do Barra. Atualmente, são cinco comunidades quilombolas certificadas pela Fundação Cultural Palmares. São 2.958 quilombolas, de acordo com o IBGE. Desses, o Ministério da Saúde informa que 1.248 o equivalente a 42%, receberam a primeira dose da vacina contra a Covid-19. Já 378 quilombolas tomaram a segunda dose e concluíram o processo de imunização.
Desde o início da pandemia até 23 de junho, o município registrou 553 casos de infecção pelo novo coronavírus, com nove óbitos. Entre os quilombolas, o Ministério da Saúde e a Secretaria Municipal de Saúde não sabem precisar quantos óbitos ocorreram neste período.
Fabiana Torres, coordenadora de Vigilância Epidemiológica de Muquém, explica que a vacinação dos membros quilombolas começou em março e está sendo realizada de forma volante, já que a maioria das comunidades está situada em áreas rurais e de difícil acesso. “É uma localidade de população carente, poucos disponibilizam de um transporte para que se desloquem ao posto de saúde. Os agentes de saúde vão de casa em casa realizando o trabalho”, disse.
A pescadora Laurinda Pereira Teles, de 27 anos, moradora do quilombo da comunidade de Jatobá, foi uma das vacinadas. Ela conta que se sente feliz por ter dado o primeiro passo para a imunização, mas que ainda não se sente segura e, por isso, não renuncia às medidas de segurança sanitárias.
“Sinto uma felicidade imensa por ter tomado a primeira dose. Mas ainda não me sinto segura, sei que já dei o primeiro passo e estou seguindo todas as normas de distanciamento social com o uso de álcool em gel e máscara”, explicou.
O Ministério da Saúde recomenda que a população continue seguindo os protocolos de segurança, até que a maior parte dos cidadãos estejam imunizados. Por isso, ainda segundo Fabiana Torres, o município está investindo em campanhas de conscientização e prevenção para alertar a população quilombola a continuar com as medidas de proteção, mesmo depois de tomar as duas doses da vacina. “Nas comunidades mais distantes, nós passamos com carros de som, duas ou três vezes na semana, orientando sobre o uso da máscara, os cuidados com a higiene das mãos, lavar com água e sabão e álcool gel.”
Proteja-se
Se você sentir febre, cansaço, dor de cabeça ou perda de olfato e paladar procure atendimento médico. A recomendação do Ministério da Saúde é que a procura por ajuda médica deve ser feita imediatamente ao apresentar os sintomas, mesmo que de forma leve. Após a vacinação, continue seguindo os protocolos de segurança: use máscara de pano, lave as mãos com frequência com água e sabão ou álcool 70%; mantenha os ambientes limpos e ventilados e evite aglomerações.
Os quilombolas são prioridade no calendário nacional de imunização do Ministério da Saúde. Fabiana Torres, coordenadora de Vigilância Epidemiológica de Muquém de São Francisco, destaca a importância da imunização do grupo. “Os povos quilombolas ainda são muito carentes devido à população ser vulnerável a todas as condições de higiene, recursos médicos e financeiros. Acredito que eles têm necessidade de serem vacinados com prioridade, porque uma população que não se alimenta adequadamente, é claro que vai ter uma imunidade mais baixa do que os demais.”
Eva Pereira, presidente da Associação dos Quilombolas da Comunidade de Jatobá, ressalta que alguns membros quilombolas optaram pela não vacinação por receio. “Muitas pessoas precisam de informação. Se ouve muito comentário do tipo: se tomar a vacina vai morrer, que a vacina está matando. Comentários que não comprovam nada e, graças a Deus, a maioria procurou o posto para se vacinar”, comemorou.
Ela lembra que apenas uma pessoa não vacinada pode colocar em risco a vida dos seus familiares e da comunidade. Por isso, Eva faz o apelo para que todos os quilombolas aceitem a vacina. “Compareçam às Unidades de Saúde ou postos para se vacinarem, porque, dessa forma, vocês estão cuidando da sua saúde e da saúde do próximo, da sua família e de todos. Assim, podemos fazer a nossa parte para nos prevenir dessa doença, que está ceifando vidas”, completou.
Vacinação na Bahia
De acordo com o Ministério da Saúde, a Bahia recebeu 8.348.770 doses da vacina contra a Covid-19. Segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde, até o dia 24 de junho, 135.554 quilombolas tomaram a primeira dose do imunizante e 17.280 receberam a dose reforço. A vacina é segura e uma das principais formas de combater a pandemia no novo coronavírus. Fique atento ao calendário de imunização do seu município. Proteja-se. Juntos podemos salvar vidas! Para saber mais sobre a campanha de vacinação em todo o país, acesse gov.br/saude.
Serviço
Quilombolas que vivem em comunidades quilombolas, que ainda não tomaram a vacina, devem procurar a unidade básica de saúde do seu município. Para mais informações, basta acessar os canais online disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Acesse o portal saude.gov.br/coronavirus ou baixe o aplicativo Coronavírus – SUS. Pelo site ou app, é possível falar com um profissional de saúde e tirar todas as dúvidas sobre a pandemia.