Na semana em que se celebra o Dia Mundial da Água, não há motivos para comemorar. A afirmação do ministro Sarney Filho, do Meio Ambiente, durante evento do Fórum Mundial da Água, em Brasília, reforça o discurso de que é preciso poupar para não faltar. Nesta semana, a Organização das Nações Unidas divulgou um relatório que aponta o tamanho da crise hídrica mundial: até 2050 mais da metade da população terá acesso restrito à água, caso não haja controle no uso do recurso.
Sarney Filho disse ainda que os reflexos da falta de preservação ambiental já podem ser sentidos no Brasil, que passa por grave crise hídrica nos últimos anos. Ao citar o Dia Mundial da Água, o ministro salientou que o momento é de reflexão.
“Nessa área ambiental, seja na floresta, no clima, na água, nós não temos muito o que comemorar. Nós temos que refletir, buscar caminhos, por que a situação global é muito grave. Aqui no Brasil, as mudanças climáticas resultaram na crise hídrica. A maior seca do Nordeste, Sudeste teve uma crise hídrica há três anos e meio, quatro anos. Brasília ainda está vivendo o racionamento, saindo agora dessa crise hídrica. Isso tudo é reflexo das mudanças climáticas”, disse.
Opinião semelhante tem o presidente da Embrapa, Maurício Lopes. Citando o avanço tecnológico, defendeu o engajamento social e político como ponto de equilíbrio entre produção no campo e proteção ao meio ambiente.
“A tecnologia nos ajudou a intensificar o uso da terra e garantir esse equilíbrio entre a conservação dos nossos biomas e a capacidade do país de seguir produzindo alimento. Qual foi a fórmula para chegarmos nisso? Um grande investimento em instituições e ciência, geração de conhecimento, em treinamento e capacitação que o Brasil fez muito bem nos últimos 40 anos. Políticas públicas, o Brasil foi capaz de passar políticas públicas extremamente importantes”, apontou Lopes.
No segundo dia de eventos em Brasília, o ministro da Integração Nacional, Helder Barbalho, apresentou dados que mostram que pelo menos 917 municípios brasileiros (16%) apresentam algum risco relacionado à seca e à falta d’água. Isso quer dizer que uma em cada seis cidades do país enfrentam problemas com a escassez hídrica. O levantamento se refere aos municípios que tiveram situação de emergência reconhecida pelo governo federal nos últimos seis meses.
Saneamento básico
No Brasil, menos de 45% do esgoto lançado nos rios e nos mares é tratado, de acordo como Ministério do Meio Ambiente. Além disso, mais de 35 milhões de pessoas não têm acesso a água potável no país.
O especialista em Hidrossendimentologia da Universidade de Brasília Henrique Leite Chaves acredita que os investimentos na defesa dos recursos hídricos ainda são tímidos. Ele lembra que a proteção dos mananciais é importante para todos e, inclusive, para a economia do país.
“Sabemos que no Brasil, não apenas na questão do saneamento, mas a própria gestão dos recursos hídricos, ainda é feita de uma maneira tímida, eu diria. Uma vez que investimentos sejam feitos nessa área de gestão integrada de recursos hídricos, inclusive no saneamento, haverá um grande benefício para todos e uma grande economia para o país”, explicou.
De acordo com o Plano Nacional de Saneamento Básico, todos os lares brasileiros, no campo e nas cidades, devem ter água potável e esgoto tratado até o ano de 2033. Até lá, para que isso ocorra, o governo Federal precisa investir mais de 300 bilhões de reais em infraestrutura hídrica.
Agricultura familiar
A agricultura familiar no Brasil exerce um importante papel como principal fonte de abastecimento de alimentos do mercado interno. Apesar de representar uma significativa parcela na produção nacional, os agricultores familiares ainda carecem de sistemas de produção apropriados à capacidade de investimento, ao tamanho de suas propriedades rurais e ao tipo de mão-de-obra empregada.
Na visão do presidente da Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural (Asbraer), Luiz Hessmann, o uso de água nas pequenas propriedades rurais é indispensável. Além disso, ele salientou que há a possibilidade de produzir alimentos sem desmatar, preservando esse recurso precioso.
“O meio rural preserva ‘muito bem, obrigado’ as águas. O que nós precisamos muito seriamente é com o urbano, que está dando alguns problemas. E a água para nós na agricultura é de fundamental importância, é um case de sucesso em qualquer atividade na pecuária ou na agricultura”, afirmou ele.
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