Um agricultor, dono de pequena propriedade, que lhe servia de subsistência, essencial à sua manutenção de vida. Homem trabalhador, honrado e muito respeitado pelo seu comportamento digno. Casou-se com uma das filhas de um fazendeiro abastado e vizinho que lhe deu umas “sementes” de gado, como se fosse um dote matrimonial, procedimento muito usado nos tempos de antanho.
Entretanto o agricultor ficou convencido, após algum tempo, de que o gado dava mais trabalho que lucro, pois a propriedade pequena não tinha pasto suficiente. A manutenção implicava muita despesa com vacina, ração e os cuidados veterinários exigidos. Resolveu vender o gado e ampliar a sua propriedade para o plantio de algodão, uma lavoura que estava dando muito resultado financeiro, da qual a própria família podia cuidar, sem maiores ônus. Porém, fizera o negócio sem consultar a mulher, que não deu por bem feita a transação comercial.
Criou-se entre eles, um imbróglio, que foi ter à casa do sogro, por conta da discordância. A esposa exigiu do pai a intervenção para que o contrato comercial da venda do gado fosse desfeito, alegando que os animais lhe pertenciam e não era justo o marido se aproveitar do que recebera do pai, por doação, em função do seu casamento.
O sogro atendeu ao apelo da filha dando-lhe razão. Chamou o genro e o aconselhou a desfazer o negócio, pois agira mal em vender o gado da filha sem consultar ninguém, além do que, as terras compradas para o plantio do algodão não valiam nada, e assim sendo, a família ficaria prejudicada.
O genro, um homem de fibra, resoluto, não aceitou nenhuma proposta de romper o que havia feito. Argumentou ser uma pessoa séria, e o que lhe estavam pedindo seria uma desonra, uma desmoralização, desse no que desse, a palavra empenhada seria mantida. Não voltaria atrás. Diante de muita pressão do sogro e principalmente da sua mulher, tomou uma atitude inusitada e inesperada: “Tudo bem, se é assim que vocês querem − afrontou o sogro -, vou anular a transação, más também devolvo a sua filha e os seus netos”.
Ante esse impasse, houve entendimento entre os contendores e chegaram a um acordo sensato e consentido por todos de que não valia a pena malquerença na família, até porque as terras compradas poderiam valorizar-se. “E quem sabe? Vaticinou o sogro, com a seca inclemente da região, o gado poderia morrer e o prejuízo seria total”.
O agricultor, determinado, trabalhou no eito, dia e noite, na plantação do algodão. Sem usar defensivos ou adubos, por não ter dinheiro para comprá-los. Contou com a ajuda da natureza, que choveu no período certo, obtendo uma grande produção, cuja venda superou o valor do gado e o aplicado na aquisição das novas terras, confirmando a previsão do rurícola que sentia estar com a razão.
CULTURA DO ALGODÃO:
A cultura do algodão é uma vocação do município de Brumado e região. Já foi, no passado, considerado como “ouro branco” e foi o sustentáculo da economia da cidade ao lado da mineração. O Banco do Brasil, segundo informações colhidas de ex-funcionários, chegou a fazer 3 mil contratos por safra, para o plantio do algodão, atingindo a 5 mil mutuários incluindo as lavouras de milho, mamona, mandioca e feijão, atendendo às localidades de Brumado, Aracatu, Malhada de Pedras, Rio do Antônio, Tanhaçu, Tranqueiras, Dom Basílio e Livramento de Nossa Senhora.
O comércio do algodão, tanto em capulho quanto beneficiado era muito movimentado, milhares de reais (moeda de hoje) circulavam no município, os negociantes de produtos defensivos e implementos agrícolas tinham vendas certas e, o dinheiro dos empréstimos era depositado em contas correntes dos agricultores, pelo banco financiador. Os comerciantes de outras áreas se beneficiavam também com a pujança da cultura do algodão, milho, feijão, mamona, mandioca e da criação miúda.
Os Usineiros recebiam, por antecipação, empréstimos como os EGFs (empréstimo garantido do governo federal) e AGFs (aquisição garantida pelo governo federal), que se referiam a compras por antecipação de estoques, pelo preço mínimo e, assim, os usineiros realizavam as chamadas “compra na folha”, antecipação da aquisição da safra aos produtores.
Em Brumado e região, funcionavam várias usinas de descaroçamento e beneficiamento do algodão, sendo, cinco de propriedade privada e uma do governo federal, as quais atendiam aos produtores em geral.
Empregavam-se milhares de pessoas nas diversas etapas, como preparação do solo, plantio, manejo da cultura (limpeza, poda, e tratamento fitossanitário, colheita, descaroçamento e enfardamento da pluma.
A sua comercialização atraía comerciantes de outros Estados, que reforçavam o fluxo do comércio local e acirravam a concorrência, regulando o preço do mercado. Enfim, toda a cadeia produtiva – a comercialização e industrialização, demandavam uma quantidade enorme de mão de obra, na sua maioria, de pessoas sem nenhuma qualificação especializada e a injeção significativa de capital circulante constituiu e consolidou a cidade como centro abastecedor das cidades circunvizinhas. Status do passado.
O cultivo do algodão é empreendido pelo homem desde a antiguidade na Índia há pelo menos 5 mil anos. O algodão era cultivado também nos antigos impérios chinês e egípcio e na América pré-colombiana, enquanto os europeus ainda desconheciam tal produto e utilizavam a lã de origem animal para produção de tecidos.
Consta que os indígenas, no Brasil, já utilizavam o algodão para confecção de tecidos, antes da chegada dos portugueses. O fato de o algodão ser de grande proveito econômico deve-se, sobretudo aos relativos baixos custos exigidos pela mão de obra e pelo processo simples da sua industrialização. Vale ressaltar que a indústria têxtil teve início com o advento da máquina de fiar, utilizada por nossos antepassados.
O algodão é considerado a mais importante das fibras têxteis e uma das plantas de aproveitamento mais completo, para cuja cultura exige-se enorme quantidade de mão de obra. É de relevante importância na Bahia, no Brasil e no mundo. Está entre as dez maiores fontes de riqueza no setor agropecuário do Brasil.
Com o desestímulo à cultura do algodão entrou em decadência por falta do tratamento adequado, de compromissos e incentivos dos governos, pela omissão e descaso, pela falta de orientação técnica dos órgãos competentes e pela falta de financiamento, com isso houve um grande prejuízo para a economia de Brumado e o agravamento social da região, com o êxodo rural.
Hoje, em Brumado, não se faz, com os mutuários do Banco do Brasil, nenhum contrato para o plantio de algodão, pela falta de créditos com juros adequados e justos e pela inércia e insensibilidade dos gestores públicos com as políticas agrícolas. Há de se esperar que, pela importância socioeconômica da lavoura algodoeira, os governos resgatem essa atividade agrícola de suma importância para nossa região, cuja planta se adapta ao clima instável e inclemente, permitindo, inclusive, mais de uma colheita − as soqueiras.
Espera-se que o Município, o Estado, e os empresários, como gestores econômicos, em parceria, tenham a sensibilidade política e administrativa de lutar pela revitalização da cultura algodoeira e busquem as iniciativas para o desenvolvimento local, mediante articulação de políticas de aporte de recursos financeiros e técnicos para a implementação das potencialidades e das vocações agropecuárias, comerciais e industriais do município.
É imperioso que os agentes políticos locais estejam estimulados pela vontade político-administrativa de fazer acontecer e realizar as prioridades básicas exigidas pelo setor produtivo.
As usinas dos industriais brumadenses estão desativadas, algumas foram transferidas para outras localidades, aumentando o desemprego e promovendo o desequilíbrio da economia municipal, indo gerar empregos e rendas em outras cidades que se mostraram mais eficientes e mais competentes, que souberam negociar a forma de impulsionar o desenvolvimento do seu município.
Brumado, uma cidade com 70 mil almas, uma das mais importantes do Sudoeste baiano, não dispõe, ainda, de uma Estação de tratamento de Esgoto (ETA). Uma necessidade imprescindível para a saúde da população e despoluição do rio-esgoto que o MODERA tem feito ingente esforço para oxigená-lo e fazê-lo reviver.
Imprescindível a construção de uma nova barragem que atenda às necessidades do abastecimento humano e outros usos, luta de muitos anos que até o momento não se concretizou, apesar dos esforços despendidos pela união de todos os seguimentos da sociedade brumadense, organizada.
As carências são muitas, e as soluções só se concretizarão se o povo tiver a consciência de exigi-las pela participação efetiva e a cobrança política, elegendo agentes governamentais que assumam compromissos de interesse público com os que os elegem para, em seu nome, no exercício do mandato, atender às reivindicações do povo.
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