A felicidade rima também com a saudade. Saudade é um sentimento que habita o coração que ama. Quem ama sente saudades e a saudade é a vontade de estar com que se ama. Viver aquela realidade de felicidade, estar naquele ambiente onde a felicidade parecia ser completa, estar naquela atividade ou com aquelas pessoas onde o coração se sentiu verdadeiramente acolhido, voltar àquela experiência de ajuda a alguém, que nos deixou profundamente realizados. Ali experimentei a felicidade. Dessas experiências também nasce a saudade. Assim, felicidade e saudades andam de mãos dadas. Vivemos instantes de felicidade e sentimos saudades logo que se vão.
Esse sentimento de saudades e de felicidade não completa aponta para uma realidade maior. A saudade aponta para um além de si mesma. Quanto sinto saudades posso perceber que nada vai me satisfazer por completo. Nessa incompletude que percebo em mim, posso mergulhar no coração de Deus, fonte do amor e da vida. Uma coisa é pensar que poderei preencher o meu coração com muitas coisas, procurando aqui e acolá desesperadamente. Gostaria de eliminar a saudade que sinto, a falta que sinto. Mas isso não é possível. Quanto mais experiências eu fizer, mais saudades poderei sentir. Por isso, um caminho que parece acalmar o coração é a contemplação de Deus. Olhar para Deus, abrir o coração a Ele, senti-lo e todas as coisas.
Em todo ser humano habita uma ânsia, um desejo, uma saudade que por nada neste mundo pode ser satisfeita. Essa saudade pode ser acalmada, mas nunca eliminada. Me acalmo na medida que sinto Deus em todas as coisas, como a origem, como a fonte de todo ser. Não posso sentir Deus diretamente. Posso de alguma forma, tocá-lo em todas as coisas e também ali onde sinto saudade. E para entrar em contato com a nossa saudade, poderíamos pôr a mão em nosso coração e perceber quantos desejos brotam dali. Desejo de relacionamento, desejo de paz, desejo de um amor que inunda o nosso coração, desejo de Deus que nos consegue trazer tranquilidade. A saudade e o desejo é o reflexo de Deus em nossa alma.
Santo Agostinho dizia: “A ti, ó alma, nenhuma outra coisa satisfaz que não seja aquele que te criou. Qualquer outra coisa que agarres se transforma em nada, porque só pode satisfazer-te aquele que te criou semelhante a ti”. Queremos agarrar muita coisa pensando ser ali o lugar da nossa felicidade. Mas tudo se apresenta como insuficiente. Nosso coração, ainda como diz Agostinho, estará sempre inquieto enquanto não repousar Naquele que o criou, que é a fonte de vida, do amor e de todo o ser.