Após 12 altas consecutivas, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a Selic, a taxa básica de juros da economia, em 13,75%
Por: Felipe Moura/Brasil 61
Após 12 altas consecutivas, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a Selic, a taxa básica de juros da economia, em 13,75%. O resultado interrompe um ciclo de alta da Selic que começou em março do ano passado. Ao Brasil 61, especialistas afirmaram que a decisão significa a reversão dessa tendência, ou seja, que a taxa deve permanecer estável nos próximos meses e começar a cair no próximo ano.
A interrupção do ciclo de alta da taxa básica de juros da economia não foi unânime, já que dois integrantes do Copom votaram pela sua elevação em 0,25%, o que faria a Selic alcançar os 14% ao ano. No entanto, prevaleceu a posição da maioria do colegiado, que entendeu ser a hora de frear a Selic.
Segundo o especialista Marcos Sarmento Melo, o cenário atual é melhor do que o previsto. “No início de 2022, havia uma perspectiva de crescimento baixo e inflação elevada. Agora, a situação se reverteu”.
Para o especialista em finanças Gabriel Rodrigues, o cenário indica estabilidade. “Existe uma previsão para queda nos juros para os próximos anos. Isso se traduz em créditos mais baixos e investimentos em potencial. A queda do dólar em 0,6% também é um fator para o fortalecimento da moeda nacional. Vivemos um momento favorável para nossas commodities, ações, e a tendência é atrair novos investidores,” comenta.
Em seu posicionamento, o Copom não garantiu que vai começar a ajustar a Selic para baixo nas próximas reuniões. O recado é de que se manterá vigilante antes de optar pela diminuição da taxa de juros. Mas o mercado aposta que isso deve ocorrer a partir do ano que vem. A projeção é de que o indicador encerre 2023 em 11,25%, segundo o último relatório do Boletim Focus.
“Na minha opinião, a decisão do Copom foi positiva. O Bacen vai esperar esse quarto trimestre antes de decidir se começa a reduzir a taxa de juros e liberar a atividade econômica”, avalia Eduardo Fayet, da Fundação da Liberdade Econômica.
Fayet explica que como alguns indicadores econômicos, principalmente aqueles relacionados às cadeias produtivas globais, oscilam, a decisão de manter a Selic neste patamar antes de ajustá-la para baixo é correta.
Para Frederico Gomes, professor de Economia do Ibmec Brasília, a manutenção da Selic aponta para o fim do ciclo de alta. “Eu creio que a gente vai ver esses 13,75% por algum tempo. O fato de a decisão não ter sido unânime passa uma mensagem de que o Banco Central ainda está preocupado com a inflação, que vem caindo, mas vem caindo de uma forma muito localizada, ainda não de uma forma espalhada”, explica.
Nos últimos dois meses, o Brasil viu a inflação recuar. Em julho, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) caiu 0,68%, o maior tombo desde 1980, segundo o IBGE. Em agosto, a inflação caiu 0,36%. São, portanto, dois meses de deflação, ou seja, em que os preços, na média, caíram. No acumulado dos últimos 12 meses, a inflação está em 8,73%.
A avaliação dos especialistas é de que a queda da inflação é consequência também da elevação da taxa de juros pelo Copom nos últimos meses. Ou seja, a Selic cumpriu seu papel de frear a atividade econômica com o objetivo de diminuir a inflação. “Ela não deixou com que a economia avançasse sem controle”, analisa Fayet.
Contas no azul
Outro ponto que deve ser celebrado, de acordo com Sarmento, são as contas do governo este ano. Em 2020, a dívida interna chegou a bater 90% proporcionalmente ao PIB, com déficit histórico de R$ 743 bilhões. Recentemente, o Ministério da Economia anunciou um superávit primário de R$ 13,5 bilhões para 2022.
Isso indica que o governo vai arrecadar mais do que gastar este ano. “Estamos gerando superávit, ou seja, não estamos com todo esse problema como imaginamos no início,” finaliza Marcos Sarmento.
Cautela
O Copom avalia que a conjuntura ainda é “particularmente incerta e volátil”, o que requer “serenidade na avaliação dos riscos”. O Comitê acredita que há fatores que podem contribuir tanto para o aumento quanto para a queda da inflação nos próximos meses. Entre os itens que podem gerar inflação no Brasil está a persistência das pressões inflacionárias globais e a incerteza sobre a saúde das contas públicas.
Por outro lado, uma queda adicional nos preços das commodities internacionais, uma desaceleração da economia global maior do que a projetada atualmente e a manutenção dos cortes de impostos previstos até o fim deste ano podem ajudar a diminuir a inflação.