Economista e Investidora explora as complexidades que persistem apesar das medidas de equidade
Por Comunicação/Pinepr
Ao longo dos anos, a percepção da desigualdade de gênero tem evoluído, mas ainda há nuances profundas que escapam à abordagem das políticas de igualdade salarial e cotas. Como muitos, cresci com a ilusão de que o sucesso era conquistado apenas com esforço e mérito, ignorando as complexas pressões sociais de gênero. Acreditava que bastava agir mais como os homens em áreas dominadas por eles para alcançar o sucesso. No entanto, minha experiência no setor financeiro abriu meus olhos para a realidade intrincada que transcende essas abordagens simplistas.
Minha jornada começou em 2012 como estagiária em uma mesa de operações do mercado financeiro. Questões diretas durante entrevistas, como se eu estaria confortável em um ambiente onde xingamentos eram comuns, mostraram um ambiente que ia além da busca de competência. Comentários sobre eu ter ido “bem para uma mulher” reforçaram baixas expectativas em relação ao desempenho feminino. Ao longo do tempo, notei que preconceitos permeavam o setor, como a recusa em contratar gays por medo de processos legais ou o impedimento de mulheres casadas e mães.
Após um ano trabalhando como trader, percebi a resistência à entrada de mais mulheres nesse campo e a dificuldade em desafiar essa mentalidade. Isso me levou a uma pesquisa mais profunda sobre a situação das mulheres no mercado financeiro, revelando um panorama mais amplo de desigualdades enraizadas na sociedade e família, influenciando o acesso à educação formal e financeira.
Ao entrevistar profissionais, ficou claro que minha experiência não era isolada. Mulheres e até homens enfrentavam uma cultura misógina que impunha padrões rígidos de masculinidade, desencorajando qualquer desvio. Em 2013, apenas 25% dos CPFs cadastrados na bolsa de valores eram de mulheres. Uma década depois, apesar dos esforços do feminismo e programas de recrutamento, essa proporção diminuiu para 23%.
É verdade que políticas de diversidade e inclusão têm ganhado força, com empresas sendo instadas a incluir mulheres e minorias em seus conselhos. Mas a disparidade de gênero é intrinsecamente enraizada em concepções sociais profundas. Estudos mostram que mulheres têm 1,4 vezes mais probabilidade de receber avaliações subjetivas negativas, evidenciando um viés que persiste além das medidas organizacionais.
O desafio real não reside nas canetadas institucionais, mas na transformação da mentalidade coletiva. O progresso em equidade de gênero exige uma reavaliação profunda das noções sociais sobre os papéis de homens e mulheres. Políticas e programas podem ser passos iniciais, mas a verdadeira mudança requer uma revolução cultural e cognitiva que só ocorrerá quando todos reconhecerem e confrontarem os vieses enraizados.