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Desfazedor de ignorância

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Estava eu procurando inspiração para escrever os textos do mês de setembro quando leio assim na Crônica nº 1 de Rachel de Queiroz:

“Se você entender de sociologia, dirá que sou uma mulher telúrica; mas não creio que entenda”.

Tive que parar e correr ao Google, não sei o que é “telúrica”.

O mago do desfazimento de minha ignorância diz assim:

“Telúrica: elétrica, extasiante, extravagante, carregada de entusiasmo e alegria.”

Enquanto volto ao texto, me lembro de quando li Madame Bovary, de Gustave Flaubert.

Incrível como em uma determinada fase da vida tem-se a necessidade de impressionar.

Isso acontece, assim, lá no começo dela, quando a idade já é contada com dois dígitos, mas o primeiro ainda é o 1.

E foi bem aí que eu disse a Ele mais ou menos a seguinte frase:

“Estou procurando um Peri para chamar de meu.”

Não posso te dizer ao certo se foram essas as palavras usadas, mas a ideia foi exatamente essa.

Olhando daqui, agora, quando vai lá longe o dia em que minha idade com 1, estou achando a tal frase tão ridícula que nem sei se você terá a chance de ler.

Nesse cenário de “impressiona-me se for capaz”, Ele me emprestou Madame Bovary.

Acho até que era da coleção de alguém, aquelas da Abril que vinham encadernadas.

Capa vermelha, livro bonito.

Eu comecei a ler imediatamente.

E adorei a história logo de cara.

Assim, adorei o que eu entendia, por que eram tantas as palavras que eu nunca tinha visto nem ouvido na vida.

Eram muitas, muitas mesmo!

Eu até tentava entender pelo contexto, mas não dava.

Foi aí que me rendi: saquei lá da estante o dicionário e passei a carregar os dois.

E assim terminei o romance feliz.

Hoje fico aqui, olhando e rindo dessa necessidade boba da tenra idade.

Ainda bem que, para mim, passou.?

Ao menos eu acho.

Por via das dúvidas, vou procurar o livro que nunca devolvi e ler novamente.

Um teste para eu descobrir se houve uma progressão no vocabulário nesses últimos anos.

Espero que sim.

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