Pensemos hoje sobre a importância de aprender a desfrutar. A desfrutar da vida, das coisas, da
realidade que está à nossa volta e nos atinge. Quem não sabe desfrutar torna-se algum dia
intragável. Tem pessoas intragáveis que se tornaram azedas, se tornaram difíceis. Talvez seja porque
não aprenderam a desfrutar. Isto é um antigo adágio da velha sabedoria da vida, aprender a
desfrutar. E todos provavelmente conhecemos isso, exemplos que comprovam esta sabedoria.
Ascese é um caminho espiritual, é uma prática de vida, é o prazer de a pessoa mesma tomar a vida
nas suas mãos. Determinar quando e quanto comer e beber, por exemplo. A pessoa se domina, ela
tem o controle de sua vida. Algumas pessoas fazem da ascese, porém, uma verdadeira obsessão,
não tem prazer na ascese. Sua ascese provém antes de uma negação da vida, ficam com a
consciência pesada quando concedem a si mesmas algo de bom e prazeroso. Ali é um caminho da
ascese que não é bom, porque a pessoa não desfruta nada. Parece que tudo tem uma norma muito
fixa que impede de fazer tal coisa, porque senão, fazendo tal coisa, ela vai entrar num caminho que
não é bom. Por pura abstinência acética, tornam-se incapazes de desfrutar aquilo que Deus lhe dá
de graça. Ao comer, logo pensam em seu peso, ou nos efeitos sobre sua saúde, ou ainda pensam nas
outras pessoas que nesta mesma hora nada tem para comer. É muito bom ser solidário com os
pobres, perceber a necessidade dos outros, mas é errado azedar sua comida com a ideia de que
existem pessoas com fome, por exemplo.
Santa Teresa de Ávila dizia assim: “Hora de jejuar, jejum. Hora de perdiz, perdiz.” Ou seja, desfrute a
vida, desfrute o momento que você está. Quem fica pensando que a perdiz é muito cara, não pode
mais desfrutá-la. E quem não pode desfrutar mais nada, para este, a ascese não tem sentido. Ascese
só faz dele um indivíduo resmungão, um negador da vida, uma pessoa insatisfeita consigo mesma,
que não sabe mais se alegrar com nada. O verdadeiro desfrutar exige ascese, porque é importante
que eu tenha disciplina com as coisas. Mas eu não devo me punir o tempo todo pela minha
disciplina. Pois quem engole simplesmente tudo é incapaz de desfrutar realmente aquilo que come.
Desfruta só aquele que também sabe renunciar. Dizer não é importante, dizer sim é muito
importante. Por isso, aquele que sabe renunciar desfruta da vida, que tem o senso de saber quanto
é tempo de parar com a comida e a bebida. Por isso, que possamos a partir disso, pensar na
importância de desfrutar a vida com moderação. Eu desejo a você muita paz, que este tempo seja
favorável para pensar na vida, para refletir e buscar o nosso melhor.